Os planos econômicos e as teorias de inflação

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Transcrição da apresentação:

Os planos econômicos e as teorias de inflação 1986-1989 Aula 5

Conjuntura econômica

PIB – variação real anual 1979-1989 Fonte: Ipeadata

Resultado do Balanço de Pagamentos 1979-1989 Fonte: Ipeadata

Reservas internacionais 1979-1989 Fonte: Ipeadata

Inflação Inercial Contratos com cláusulas de indexação, somados a: Choques de oferta – agrícola, petróleo Choques de demanda – descontrole fiscal

Componentes da inflação (Simonsen – 1974) Rt = at + brt-1 + gt at = inflação autônoma – representa a influência dos reajustes de preços decididos institucionalmente decorrente de choque de oferta, câmbio, salário mínimo, aumento de impostos, preços públicos,etc. brt-1 = fator de realimentação (inércia) b = coeficiente de realimentação (representa a proporção em que a inflação de um período é transmitida para o período seguinte) Supõe-se que b seja menor que 1 e maior que zero, podendo no máximo transmitir toda a inflação do período anterior gt = concepção de que um aumento de demanda não correspondido pelo aumento da oferta pressiona preços. Excesso de demanda tem correspondência com crescimento do produto. Se gt = 0 o produto cresce à taxa de crescimetno potencial da economia sem que haja excesso de demanda. Se gt > 0 – há excesso de demanda agregada decorrente do descontrole fiscal ou monetário (excesso de gasto ) Se gt < 0 – representa a influências de políticas restritivas sobre a inflação, com o produto crescendo abaixo de seu potencial.

Plano Cruzado Ministro da Fazenda – Dilson Funaro Reservas internacionais – US$ 11,6 bilhões Preço do petróleo no mercado internacional em queda Dólar se desvalorizava em relação às principais moedas internacionais Final de 1985 – pacote fiscal para reduzir NFSP (conceito operacional) As medidas não tiveram impacto sobre a inflação 1985 – 239% (INPC)

Choque heterodoxo 28/02/1986 1 – Reforma monetária e congelamento de preços 2 – Desindexação da economia 3 – índices de preços e cadernetas de poupanças 4 – Política Salarial

Reforma monetária e congelamento Novo padrão monetário – Cruzado – Cz$ Cr$ 1.000,00 = Cz$ 1 Preços de todos os produtos congelados no valor de 28 de fevereiro. Taxa de câmbio ficou fixa no valor do dia anterior à divulgação do plano Objetivo: Imagem de uma moeda forte Permitir intervenção nos contratos

Mecanismo de controle Tabela Sunab – superintendência Nacional de Abastecimento e Preços) Não cumprimento da tabela – “crime contra a economia popular” Denúncia pública – fiscais do Sarney

Desindexação da economia Extinção da ORTN – Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional OTN – em substituição às ORTNs Proibido a indexação de contratos com prazos inferiores a um ano Os contratos antigos em cruzeiros eram desvalorizados diariamente em relação ao cruzado – Tablita de conversão (0,45% a.dia)

Índice de preços e cadernetas de poupança IPCA passa a ser IPC Cadernetas de poupança passaram a ter rendimentos trimestrais

Política Salarial Salários em cruzados calculados pela média dos últimos seis meses (Set/85-Fev/86) Tabela de conversão Congelamento após conversão Aumento somente via negociação Reajustes anuais Abono de 8% Salário mínimo – 16% Gatilho salarial – 20% (limite máximo)

Resultados Crescimento de 20% nos postos de trabalho Queda do emprego apenas no setor bancário Taxa de desemprego cai de 4,4% em março para 3,8% em junho. NUCI – nível de utilização capacidade instalada – passou de 81% para 86% no final de 1986 Situação fiscal ruim (gastos aumentavam decorrente do aumento das despesas com folha de salários) Ágio Desabastecimento – produtos que foram congelados com defasagem em relação à média do período anterior são os primeiros a desaparecer do mercado Inflação acumulada no ano de 79,61%

Aceleração do consumo Ocorre sob uma demanda já aquecida – crescimento acelerado da demanda Aumento real dos salários (12% em termos médios) Produto industrial cresce 83,5% em 1985 Aumento do gasto público e privado incrementa a demanda agregada – aumento de 16% para 19% do PIB Economia entra situação de instabilidade Banco Central tenta conter a demanda com aumento da taxa de juros

Cruzadinho (23/07/1986) Preços a partir de julho voltam a crescer e superam a taxa de juros, levando a taxa de juros reais negativa, estimulando ainda mais a demanda. Pacote fiscal para desaquecer o consumo Financiamento da infraestrutura e metas sociais Aumentos de preços provocados pelo pacote foram expurgados do índice de inflação. Desabastecimento Importações para suprir o desabastecimento interno Descontentamento social

Enfrentando o problema do desabastecimento Superávits da balança comercial permitiram as importações, nos primeiros meses do plano Com a queda das receitas de exportações, governo decreta desvalorização cambial em 1,8% e anuncia política de minidesvalorizações. O indicador das minidesvalorizações era câmbio/salários Expectativa negativa leva ao aumento do ágio no mercado paralelo do dólar e antecipações de importações, adiamento de exportações

Cruzado II – Nov 1986 O anúncio do pacote logo após as eleições é visto pela sociedade como oportunismo político, já que o plano foi uma forma de sair do congelamento Preços começam a ser corrigidos Aumento de alguns produtos de consumo final Autorizadas remarcações de tarifas como energia elétrica, correios, telefones, táxis, etc Pacote fiscal com objetivo de aumentar arrecadação em 4% do PIB. A experiência do expurgo tornou-se inviável.

Fim do plano cruzado Fevereiro de 1987, com a decretação da extinção do congelamento de preços. Com a piora das contas externas é decretada a moratória do pagamento dos juros externos (fev/1987) o que diminuiu ainda mais a entrada de recursos externos. Em abril de 1987 – a equipe de Dilson Funaro pede demissão

Inflação mensal - IPCA (%) Jan-Dez/1986 a Jun/1987 Fonte: Ipeadata

Erros na condução do plano Diagnóstico de que a inflação tinha componente puramente inercial, se mostrou equivocado Os abonos salariais concedidos logo após a implantação do plano contribuiram para aumentar o consumo. As políticas monetárias e fiscais foram afrouxadas O congelamento demorou tempo demais (11 meses) Diferente dos salários, os preços foram congelados em seus níveis correntes e não médios, introduzindo distorções nos preços relativos.

Erros na condução do plano O gatilho salarial reintroduziu e agravou a questão da indexação dos preços A economia informal ficou fora do congelamento, desalinhando os preços relativos Câmbio fixo e demanda aquecida levam à deterioração das contas externas Preços públicos defasados no momento do congelamento piora a situação fiscal do governo.

Plano Bresser Anunciado em 12/06/1987 Objetivo – promover um choque deflacionário na economia Diagnóstico da inflação: inercial e de demanda Plano com conteúdo heterodoxo e ortodoxo

A ortodoxia do plano Bresser Política fiscal e monetária seriam aplicadas para controlar a inflação Juros reais positivos para inibir consumo e evitar especulações com estoques produtivos Redução do déficit público por meio de aumento de tarifas, eliminação do subsídio do trigo, corte nos gastos públicos e de investimentos. Diversos preços públicos foram corrigidos: eletricidade, combustíveis, aço, telefone, etc Aumentos computados no índice de junho.

Reajuste salarial A inflação de maio seria reposta como resíduo pago em seis parcelas mensais a partir de setembro/1987

A heterodoxia do plano Bresser Congelamento de preços e salários no nível existente no momento do anúncio do plano Três fases: Congelamento total por 3 meses Flexibilização do congelamento Descongelamento

Salários Indexados a uma nova base: a Unidade de Referência de Preços – URP A URP era pré-fixada, a cada 3 meses, com base na taxa de inflação média dos três meses precedentes A URP foi uma forma de acabar com o gatilho salarial A taxa de câmbio não foi congelada Aplicação da Tablita Regras para os contratos de aluguéis

Resultado No início a inflação foi reduzida O congelamento não foi respeitado pelos agentes econômicos Remarcações desequilibraram os preços relativos Acordos salariais com o funcionalismo público não permitiu reduzir o déficit público Balança comercial obteve resultados satisfatórios Resistência política para aprovação da proposta de reforma tributária Crescimento da insatisfação popular Culmina com o pedido de demissão do Ministro Bresser e sua substituição pelo funcionário do Banco do Brasil – Maílson da Nóbrega em janeiro de 1988

IPCA mensal (%) Jul/1987 a Jan/1988 Fonte: Ipeadata

Ortodoxia gradualista – Mailson da Nóbrega Alcunha de “política feijão com arroz” Abandonou as políticas heterodoxas Congelamento dos valores nominais de empréstimos do setor público Contenção salarial do funcionalismo público

Resultado Nos primeiros meses a inflação ficou próxima de 15% ao mês. Mas, aumentos dos preços públicos e choque na oferta de produtos agrícolas fizeram com que os preços aumentassem. Os megas superávits da balança comercial conduziram a um afrouxamento na política monetária

Plano Verão Anunciado em 14/01/1989 Extinção de todos os mecanismos de indexação (OTN e OTN-fiscal foram extintas), inclusive a URP Plano híbrido Mudança na unidade monetária: cruzado novo (NCz$) NCz$ 1,00 = Cz$ 1.000,00 Nova moeda equivalente ao dólar – 1:1

Ortodoxia Redução de despesa de custeio Reforma administrativa para reduzir custos Limitação na emissão de títulos públicos pelo governo Limitação do crédito

Heterodoxia Congelamento de preços Congelamento de salários Congelamento por tempo indeterminado

Resultado Ano eleitoral Governo em descrédito Ajuste fiscal não atingiu seu objetivo Juros altos foram incapazes de conter o movimento de antecipação de consumo. A expectativa dos agentes econômicos era de explosão dos preços Fortalecimento do movimento reivindicatório dos trabalhadores de reposição de perdas

Resultado Inflação cede no primeiro mês Os agentes, com o fim dos indexadores, escolhiam o índice que melhor lhes convinha A inflação supera 80% ao mês.

Inflação – IPCA mensal (%) Fev/1988 a Dez/1989 Fonte: Ipeadata

Bibliografia Bresser-Pereira, Luiz Carlos. Desenvolvimento e crise no Brasil:história, economia e política de Getúlio Vargas a Lula. São Paulo: Editora 34, 2003. Castro, Lavínia Barros de. Esperança, frustração e Aprendizado: a história da Nova República (1985-1989), in Giambiagi, Fabio e Villela, André. Economia Brasileira Contemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro:Elsevier, 2005. Ipea.www.ipea.gov.br http: //87noticias.blogspot.com/2010/07/diretas-já-cassio-convoca-populacao.htlm, acesso em 10/09/2010, ás 10:54

Índice de capacidade instalada da indústria - 2010 Mês Média mensal (%) Janeiro 82,1 Fevereiro 83,1 Março 83,5 Abril 84,5 Maio 84,6 Junho 85,1 Julho 85,0 Fonte: FGV