A AMEAÇA DO TERRORISMO NA ÁFRICA SUBSARIANA

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Transcrição da apresentação:

A AMEAÇA DO TERRORISMO NA ÁFRICA SUBSARIANA Gustavo Plácido dos Santos Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS) 25/05/2016 gustavo.a.placido@gmail.com

A ameaça do terrorismo na África subsariana Pontos de análise: Boko Haram: uma ameaça nacional e regional O impacto destrutivo; Origens, Contexto e Motivações; Respostas regionais. A “concorrência” jihadista como risco acrescido para a estabilidade e segurança na África Ocidental

A ameaça do terrorismo na África subsariana Boko Haram: uma ameaça nacional e regional É um bom modelo para perceber como novas ameaças terroristas podem surgir na África subsariana, em especial na região da África Ocidental, tal como abordarei mais à frente.

A ameaça do terrorismo na África subsariana É um bom modelo para perceber como novas ameaças terroristas podem surgir na África subsariana, em especial na região da África Ocidental, tal como abordarei mais à frente. Source: Armed Conflict Location & Event Data Project

A ameaça do terrorismo na África subsariana Boko Haram: Sob os holofotes da imprensa nacional desde que mais de 200 raparigas foram raptadas na localidade de Chibok, em Abril de 2014. Source: Premium Times Photo: AFP

A ameaça do terrorismo na África subsariana Em 2014, o Boko Haram ultrapassou o Estado Islâmico como o grupo terrorista mais mortífero do mundo. As mortes atribuídas ao Boko Haram aumentaram 317% em 2014 para 6.644. O EI foi responsável por 6073 mortes. Em 2014, das mortes atribuídas a grupos terroristas, 50% foram provocadas pelo Daesh ou pelo Boko Haram. Em 2014 a Nigéria tinha a segunda maior taxa de mortalidade devido a terrorismo, apenas atrás do Iraque.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Em Janeiro de 2015 realiza o maior ataque na sua curta história Mais de 2000 pessoas foram mortas num ataque à cidade de Baga e a localidades vizinhas. Mais de 3700 edifícios foram danificados ou completamente destruídos. Pessoas foram queimadas vivas. Pais foram mortos enquanto fugiam com os seus filhos. Qualquer homem com capacidade para combater teve de escolher entre juntar-se ao grupo ou ter as suas gargantas cortadas, com as suas famílias a assistir.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Imagem de satélite que mostra o antes e o depois do ataque a Doron Baga: Source: Digital Globe

A ameaça do terrorismo na África subsariana Boko Haram: Origens num grupo fundado em 2002 por clérigos muçulmanos, como um movimento de protesto social radical, mas não violento; 2005: o Boko Haram é formado como uma seita islâmica secreta. Sediado numa mesquita na cidade de Maiduguri, capital do estado do Borno. Source: BBC

A ameaça do terrorismo na África subsariana O líder carismático, Mohammed Yusuf, regia-se por padrões religiosos estritos e rigorosos, sendo influenciado pela interpretação Wahabbi do Islão Yusuf pregava que a democracia e a educação convencional – ou ocidental – eram relíquias do sistema colonial e tinham de ser forçosamente removidas da sociedade …. se necessário por métodos violentos e sangrentos. No entanto, os seus membros focavam-se mais na educação islâmica do que na violência. Em 2009, um protesto deu origem a confrontos com forças de segurança. Yusuf foi detido e morto – alegadamente executado pelas forças de segurança. A morte de Yusuf despoletou uma onda de violência a nível regional, resultando em pelo menos 17 mil mortos e 2,5 milhões de deslocados na região.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Após um período de adormecimento, o grupo reapareceu sob a liderança de Abubakar Shekau, tendo este introduzido o grupo ao uso de tácticas terroristas e intensificado contactos com redes jihadistas internacionais como a Al-Qaeda. Desde então o grupo tem atacado edifícios governamentais, quartéis de polícia, edifícios religiosos e escolas. O grupo tirou proveito dos elevados níveis de corrupção e pouca capacidade das forças de segurança para se expandir rapidamente …, de tal maneira que se tornou numa força militar convencional. A partir de 2011, começa a realizar ataques suicidas, com o apoio da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico. Cidades inteiras foram tomadas por meios violentos. Estima-se que, no início de 2015, o Boko Haram controlasse 70% do estado do Borno (tamanho da Bélgica). Os alvos incluiam também chefes tradicionais que se opunham à implementação da Sharia e clérigos muçulmanos que o grupo acusava de serem heréticos (viviam de acordo, e com “luxos”, o mundo ocidental). Ataques suicidas a edifícios da polícia, igrejas, universidades, escolas, centrais de autocarros e mercados na região.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Agosto de 2014: declara um Estado Islâmico no norte da Nigéria, após tomar controlo sobre a cidade de Gwoza no estado do Borno. Março de 2015: O líder do Boko Haram jura fidelidade ao Estado Islâmico. A região controlada pelo Boko Haram passa a ser conhecido como Província do Estado Islâmico na África Ocidental. Porquê a aproximação ao Estado Islâmico e o consequente afastamento da al-Qaeda? Simples. A al-Qaeda tem perdido protagonismo para o Estado Islâmico, com este último a ter hoje maior protagonismo, mediatismo, bem como capacidade financeira e logística. As ligações entre o Boko Haram e o Estado Islâmico são ainda incertas. Contudo, em Abril deste ano, por exemplo, foram apreendidas armas na fronteira entre a Líbia e o Chade, as quais teriam como destino a região do Lago do Chade, onde o Boko Haram está activo. Existem também indicações de que os dois grupos têm partilhado “tácticas, técnicas e procedimentos”.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Evolução da expansão do Boko Haram. As forças nigerianas foram incapazes de conter o Boko Haram. De facto, até 2014/2015 o governo considerava o Boko Haram apenas um “caso de polícia”, isto é, que se resolveria com o tempo e com reforço policial. Source: The Washington Post

A ameaça do terrorismo na África subsariana Ataques em 2015 Source: The Washington Post

A ameaça do terrorismo na África subsariana Áreas de actividade do Boko Haram desde 2014 Difusão do Boko Haram para a vizinhança na Nigéria – Camarões, Chade e Níger. A longa e porosa fronteira com os países vizinhos permitiu que os grupos procurassem aí refúgio, baseassem operações e estabelecessem linhas de abastecimento fora do alcance e jurisdição das forças de segurança nigerianas. Algumas das ofensivas do Boko Haram nesses países envolveram ataques de larga escala, incluindo centenas de homens armados e veículos blindados pilhados de bases militares nigerianas. A ofensiva do Boko Haram além-fronteiras teve repercussões significativas ao nível nacional. Por exemplo, entre 2000 e 2013 os Camarões não registaram uma única morte por terrorismo. Por sua vez, em 2014, registaram 530, em larga medida motivado pela presença do Boko Haram no seu território. Ora, inevitavelmente as forças de segurança desses países tiveram de intensificar as suas operações anti-terrorismo.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Possível difusão para a África Central Disseminação do terrorismo internacional África Central República Centro Africana (fricção entre comunidades cristãs e muçulmanas) Reública Democrática do Congo . Potencial expansão das redes do Boko Haram para a África Central, nomeadamente para a problemática República Centro Africana, onde Cristãos e Muçulmanos se têm confrontado violentamente (não apenas ao nível político e militar, mas também ao nível das comunidades locais). O poderoso Chade tem sido importante em termos de tampão entre a Líbia e a África Central, isto é, dificultando a expansão de organizações terroristas para sul, em particular para a fronteira com a RCA. O nordeste da Nigéria e o norte dos Camarões poderão ser uma alternativa mais acessível (contudo, crescentemente complicada devido às operações anti-terrorismo que estão a decorrer – as quais irei abordar de seguida). De facto, já existem grupos jihadistas na RCA, tendo morto executado cristãos, queimado bíblias, etc. A RCA reúne condições propícias à emergência do extremismo violento e ameaças jihadistas.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Em 2016, a tendência inverte-se … Voltando à Nigéria, o ano 2016 registou uma inversão da tendência que se vinha a registar. O Boko Haram viu-se obrigado a abandoner muito do território que controlava.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Boko Haram em retirada … 2015: Chade, Níger, Nigéria, Camarões e Benin chegaram a acordo para criar uma Força Multinacional de Intervenção Conjunta para eliminar o Boko Haram Intervenções unilaterais e colaboração … mas não operações conjuntas: razões políticas. Forças especiais norte-americanas têm dado um apoio crucial às forças regionais, incluindo através de drones lançados a partir da base de Garoua, nos Camarões. Boko Haram já não consegue entrentar as forças militares de igual para igual. … mas ainda activo Pouco provável que o grupo desapareça por completo, dado o vasto território em que actua e a força relativamente reduzida da força multinacional. Adptação táctica às circunstâncias: ataques suicidas (por mulheres e crianças) e bombas improvisadas Vs. Ofensivas de larga escala a localidades na região. Chade, Niger, Nigéria, Camarões e Benin chegaram a acordo para criar uma Força Multinacional de Intervenção Conjunta para conter e eliminar o Boko Haram Uma força com 8700 elementos com o objectivo de recuperar o controlo sobre a região do Lago do Chade; Razões políticas: Contudo, a grande maioria das operações têm sido unilaterais com algum nível de coordenação. Porquê? A Nigéria, como potência regional e continental, mostra resistência quanto à presença de forças estrangeiras no seu território; Como potência regional, prefere resolver o assunto por si mesma. Contudo, a incapacidade conter o Boko Haram levou a Nigéria a aceitar a coligação. Diferenças políticas, como a existência de disputas territoriais nomeadamente com os Camarões e o Chade (sobre o Lago Chade) e receio de perder influência. Não obstante, tem produzido resultados: As forças de segurança camaronesas – com assistência dos EUA –, juntamente com ofensivas paralelas da Nigéria e do Chade, enfraqueceram significativamente a capacidade do grupo em operar de acordo com uma guerra convencional. O estabelecimento de uma base de drones norte-americana em Garoua, nos Camarões, tem também sido central no recente sucesso em combater o grupo: garante aos quatro países que estão a combater o Boko Haram uma outra capacidade de monitorização (até aí inexistente) e partilha de intelligence.   … mas ainda activo No entanto, sendo constituido por segmentos espalhados por uma vasta área (92 mil km2) e com provas dadas em ataques terroristas, é pouco provável que o grupo desapareça por completo. A força multinacional não é suficiente para cobrir a vastidão desse território. Alterações tácticas: esta campanha regional tem levado a que o grupo adapte as sua tácticas. O Boko Haram percebeu que já não tem vantagem em optar por combates frontais e ataques de larga escala a localidades na região com tanta frequência: tem feito maior uso de mulheres e crianças como bombistas suicidas para atacar soft targets. Explosivos improvisados; E outras acções de guerrilha, que são geralmente mais dificeis de combater do que as batalhas convencionais de 2015.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Base de drones de Garoua, Camarões: Map: The Intercept Photo: Google Maps/DigitalGlobe via The Intercept

A ameaça do terrorismo na África subsariana O que explica o sucesso do Boko Haram? A região do nordeste da Nigéria é a mais subdesenvolvida do país; Reduzido investimento económico, falta de emprego e poucas perspectivas de futuro. Pouca presença do governo, o que se traduz na falta de provisão de serviços básicos. O Boko Haram tem suprido algumas dessas lacunas. Corrupção política e nas forças de segurança e de defesa. Violações de direitos humanos e abuso da autoridade pelas forças de segurança. Cultura do medo. Utilização das redes sociais. A juventude, para bem dela e por causa dela: o sistema de ensino almajiri. Interesses eleitorais: oposição Vs. “Establishment”. Por si só, uma abordagem militar não é suficiente, pois os factores que levaram ao relativo sucesso do Boko Haram ainda estão muito presentes. Entre os quais se destacam o facto de: • A região do nordeste da Nigéria é a mais subdesenvolvida do país; • Poucas actividades e investimento económico, o que gera escassas oportunidades de emprego e perspectivas de futuro. • Pouca presença do governo federal e governos locais, o que se traduz na falta de provisão de serviços básicos. O Boko Haram tem garantindo alguns destes serviços, como alimentação, educação e saúde. • Constantes violações de direitos humanos e abuso da força pelas forças de segurança: leva segmentos da sociedade na região a olhar para grupos como o Boko Haram como protectores da sua integridade e garantes da sua segurança. • A cultura do medo imposta pelo Boko Haram facilita o recrutamento (como o caso de Baga clarifica) e torna arriscado qualquer deserção ou “incumprimento do dever”. • O uso de estratégias de Relações Públicas: divulgação de vídeos de propaganda nas redes sociais (Twitter, Youtube). A maior aposta nesta abordagem coincidiu com a aproximação ao Estado Islâmico. Juventude: • No norte da Nigéria, Chade e Níger existe um tipo de educação corânica chamado sistema de educação almajiri. Almajiri é um individuo que anda de um lado para outro à procura de conhecimento. • As crianças enviadas para estas escolas são separadas das suas famílias e comunidades, ficando particularmente dependentes dos seus professores e outros estudantes. • Estas escolas eram tradicionalmente mantidas pela comunidade local e, em troca pela educação e cuidados garantidos por essas escolas, os almajiri contribuíam para a comunidade com tarefas simples. • Com a governação colonial e a actual, esse sistema foi deixado ao abandono. As Madraças foram negligenciadas e a sua gestão começou a ser feita por indivíduos, no geral, pouco adequados e pouco profissionais. A inexistência de regulação e responsabilidade tornou-se uma característica deste sistema. • Dito isto, e tendo em conta o subdesenvolvimento da região, após terminarem a sua educação, os almajirai (plural de almajiri) deparam-se com poucas perspectivas de emprego ou qualquer tipo de apoio. A isolação e empobrecimento torna-se parte das suas vidas. • Grupos organizados como o Boko Haram são conhecidos por apoiarem estes indivíduos, bem como estas escolas, o que resulta no ensinamento de filosofias extremistas. Acresce que o currículo escolar não é tutelado pelo governo. Clérigos radicais ensinam aos estudantes a odiar tudo o que é ocidental ou influenciado pelo Ocidente, bem como o governo nigeriano. • É sabido que o Boko Haram extrai a maioria dos seus recrutas de entre aqueles que cresceram no sistema almajiri. • Tendo em conta que se estima que 8 a 10 milhões de crianças vivem em escolas almajiri na Nigéria, é possível concluir que uma geração inteira de nigerianos muçulmanos do norte da Nigéria encontra-se em risco de radicalização. Interesses eleitorais: No período que precedeu as presidenciais de 2015 na Nigéria, foi do interesse da elite no poder manter a instabilidade no nordeste, em particular nos estados do Yobe e do Borno (bastiões de apoio da oposição), de forma a privar a oposição de apoio eleitoral. Por outro lado, no que respeita à oposição, esta pretendeu capitalizar do descontentamento da população nigeriana em relação à incapacidade do governo em derrotar o Boko Haram. Posto isto, nenhuma das duas principais forças políticas terá interesse na resolução do problema ‘Boko Haram’ no imediato.

A ameaça do terrorismo na África subsariana A concorrência jihadista como risco acrescido para a estabilidade e segurança na África Ocidental É um bom modelo para perceber como novas ameaças terroristas podem surgir na África subsariana, em especial na região da África Ocidental, tal como abordarei mais à frente.

A ameaça do terrorismo na África subsariana África Ocidental: A nova fronteira do terrorismo islâmico 20 Nov. 2015: Hotel Radisson Blu, em Bamako. 15 Jan. 2016: Splendid Hotel, em Ouagadougou. 13 Mar. 2016: um resort em Grand Bassam. A AQMI reinvidicou os ataques Militantes da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) atacam três países África Ocidental num espaço de seis meses: • 20 Nov. 2015: Hotel Radisson Blu, em Bamako – 20 mortes • 15 Jan. 2016: Splendid Hotel, em Ouagadougou – pelo menos 30 mortes e 56 feridos • 13 Mar. 2016: um resort em Grand BAssam, perto de Abidjan, famoso no seio de estrangeiros a viver na Costa do Marfim – pelo menos 18 mortes e 33 feridos.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Olhos em África De acordo com uma declaração da AQMI, estes ataques têm o objectivo de forçar as forças franceses a retirarem da região. A França tem várias bases, centros operacionais e logísticos na região. Em 2012 mobilizou tropas para o Mali para repor a ordem e combater a insurgência no norte do país: Operation Serval. Uma operação altamente militarizada e focada no combate ao terrorismo. Agosto 2014: Operation Serval é sucedida pela Operation Barkhane: Missão de combate ao terrorismo com 3500 militares espalhados pelo Burkina Faso, Chade, Mali, Mauritânia e Níger. Porquê atacar agora certo países que até então estiveram praticamente imunes ao fenómeno to extremism violento e jihadismo? Declaração da AQMI. No entanto, Importa notar que, apesar de esta não ser a principal motivação da AQMI (ao contrário do que afirma), a Operation Barkhane prejudicou a capacidade operacional dos grupos jihadistas, obrigando-os a olharem e a se deslocarem para sul, em direcção aos estados fragilizados da África Ocientaçl

A ameaça do terrorismo na África subsariana Presenças francesas no Sahel e África Ocidental

A ameaça do terrorismo na África subsariana No entanto, os ataques na África Ocidental têm outras motivações: 1) É uma reacção à ascensão do Estado islâmico, que se tem afirmado como um rival à posição da Al-Qaeda na região. O Sahel é uma das poucas regiões do mundo onde o Estado Islâmico ainda tem de ganhar território. Existe receio de que o Estado Islâmico “roube” aliados e militantes à AQMI. E receio de que a expansão do Estado Islâmico para o Sahel signifique perder capacidade operacional na região e o acesso a fontes vitais de financiamento. A AQMI é actualmente o mais firme e eficaz dos afiliados da Al-Qaeda. O seu enfraquecimento colocaria a própria sobrevivência da Al-Qaeda global em risco. O Norte de África e o Sahel são altamente lucrativos para a Al-Qaeda, nomeadamente através de resgates, bem como tráfico de armas, drogas e mercadorias roubadas.

A ameaça do terrorismo na África subsariana AQMI Vs. Estado Islâmico: Para além do Médio Oriente (Siría e Iraque), o Estado islâmico consolidou posições importantes na Líbia e garantiu a fidelidade do Boko Haram.

A ameaça do terrorismo na África subsariana AQMI Vs. Estado Islâmico: narcotráfico

A ameaça do terrorismo na África subsariana 2) Manobras mediáticas para fazer face à “concorrência” do Estado Islâmico. “Mission accomplished”. Os ataques tiveram como alvo “soft targets” frequentados por ocidentais, com o objectivo de atrair os media internacionais e, dessa forma, atrair militantes, aliados e financiamento, “retomando o seu lugar no mundo”.

A ameaça do terrorismo na África subsariana Al-Qaeda no Magrebe Islâmico Criado oficialmente em 1997/1998, a partir do Grupo Salafista para a Pregação e o Combate, na Argélia. Ayman al-Zawahiri foi o fundador. Ao longo dos anos centrou os seus ataques na Argélia, Marrocos, Tunisia, Mali e Mauritânia. O foco tem estado na Argélia. Al-Mourabitoun (os sentinelas). Formado em Agosto de 2013: fusão entre o Movimento para a Unidade e a Jihad na África do Oeste (MUJAO) e a Brigada dos Homens Mascarados Fundadores: Mokhtar Belmokhtar e Adnan Abu Waleed al-Sahrawi Quem são os grupos que estão a liderar a ofensiva jihadista na África do Sul? O Estado Islâmico e a AQMI não são a única peça chave deste xadrez. Existem outros grupos activos. Contudo, no contexto da nova estratégia da al-Qaeda, importa destacar o al-Mourabitoun, grupo formado em Agosto de 2013 e que resulta da fusão entre o Movimento para a Unidade e a Jihad na África do Oeste (MUJAO) e a Brigada dos Homens Mascarados. Para perceber a importância do Al-Mourabitoun na estratégia da al-Qaeda, torna-se essencial acompanhar o percurso do seu líder. Mokhtar Belmokhtar, mundialmente conhecido como o “Homem Marlboro”: A sua carreira no terrorismo jihadista abrange as principais fases da evolução do extremismo islâmico contemporâneo.   Esteve no Afeganistão durante a década de 90, numa fase em que já não se combatiam os soviéticos. Aí conheceu veteranos da guerra contra os soviéticos, que se iriam afirmar no terrorismo internacional nos anos seguintes. Belmokhtar estabeleceu relações com o fundador da al-Qaeda, Osama Bin Laden. Ainda nos anos 90, Belmokhtar combateu no Grupo Islâmico Armado (Groupe Islamique Armée (GIA)), o qual esteve na vanguarda da insurgência na Argélia. Posteriormente ajudou a fundar o grupo que sucedeu ao GIA, o Grupo Salafista para a Pregação e Combate (que daria orgiem à AQMI). Em 2003 muda-se para o Mali, onde consolida relações com tribos locais e, não menos importante, com as redes de tráfico que essas geriam. Em 2006, quando Ayman al-Zawahiri, na altura vice-lider da al-qaeda, anuncia a formação de um grupo afiliado no norte de África, Belmokhtar alinhou a sua facção ao novo grupo. No entanto, diferenças entre Belmokhtar e comandantes da al-qaeda levou à sua saída do grupo em 2012 e à formação do seu próprio grupo, a Brigada dos Homens Mascarados. Belmokhtar viu no caos da Líbia pós-Kadhafi uma oportunidade para se projectar. Com as suas redes há muito estabelecidas, tirou partido do fluxo de armas e de combatentes que vinham do Norte. Recrutou, treinou e armou centenas de combatentes e teve uma importante fonte de financiamento nos raptos. Belmokhtar esteve alegadamente presente na tomada de Timbuktu, no Mali, em 2012 e foi visto nos combates em Gao. É nesta altura que Belmokhtar parte para novas aventuras: Actor chave do jihadismo em África

A ameaça do terrorismo na África subsariana Primeiro grande ataque de Belmokhtar e do seu grupo: Janeiro de 2013, complexo de gás em In Amenas Quando as forças francesas chegaram ao Mali para repor a ordem, Belmokhtar e o seu grupo foram para norte e, em Janeiro de 2013, realizaram um ataque surpreendente a um complexo de gás em In Amenas, Argélia. No seguimento da intervenção das esforças especiais argelinas, 39 reféns estrangeiros foram mortos.   O ataque a In Amenas teve enorme mediatismo, algo que não serviu os interesses de uma AQMI já abalada pelo rápido crescimento do Estado Islâmico. Source: Fox13

A ameaça do terrorismo na África subsariana AQMI e al-Mourabitoun cooperam: Dezembro de 2015: depois do ataque em Bamako, o al-Mourabitoun afiliou-se à Al-Qaeda. A separação entre estes dois grupos deu-se, em parte, à intenção de Belmokhtar em projectar a jihad para a África Ocidental, o que não agradava à AQMI (foco na Argélia e norte de África). A rede que Belmokhtar estabeleceu no Sahel e África Ocidental é essencial para a Al-Qaeda em duas dimensões: Garantir o acesso a fontes de financiamento associadas às redes comerciais entre a África Ocidental (principalmente países costeiros), Sahel, Norte de África e Europa. Garantir redes logísticas para as suas operações na região: caso de Bamako. Consolidar e conquistar novas posições, bem como garantir o financiamento do grupo, desse modo fazendo face à concorrência do Estado Islâmico. Belmokhtar regressa, algum tempo depois, ao norte do Mali, após ter alegadamente estado na Líbia e de volta à Argélia.   É nessa altura que o seu grupo, a Brigada dos Homens Mascarados, e o Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (MUJAO) anunciam a fusão. Ora, importa ter em linha de conta que entre as diferenças que levaram à separação entre Belmokhtar e a AQMI terão, em parte, surgido do foco da AQMI na Argélia e norte de África. Belmokhtar pretendia projectar a jihad para a África Ocidental, algo que não terá agradado à liderança da AQMI. A rede que Belmokhtar estabeleceu no Sahel e África Ocidental é essencial para a Al-Qaeda consolidar posições no Sahel e se expandir para sul. De facto, a sofisticação dos ataques na África Ocidental, nomeadamente o de Bamako, terá beneficiado desta rede de Belmokhtar. Isto na medida em que atacar uma zona da cidade com elevada protecção e segurança exigiu a preexistência de contactos e transferência de armas a partir de outros países no Sahel e norte de África. Por seu turno, Belmokhtar beneficia da filiação à AQMI, pois é uma plataforma de projecção importante para si e para o seu grupo.

A ameaça do terrorismo na África subsariana A África Ocidental ameaçada Porquê a África Ocidental? Os países regionais são um alvo relativamente fácil: Fragilidade institucional, pouca estabilidade política e corrupção endémica. Escassez de recursos e incapacidade de controlar fronteiras extremamente porosas. Níveis elevados de pobreza, nomeadamente entre as populações mais jovens. Apoio aos ideais do extremismo islâmico, quer da parte dos segmentos mais pobres das sociedades, quer das mais favorecidas. Existência de escolas corânicas/islâmicas negligenciadas pelo Estado e/ou sem qualquer controlo governamental sobre os seus currículos. A Nigéria é um caso paradigmático. Até a maior economia da África subsariana enfrenta ameaças deste género: o Boko Haram. Se afectou a Nigéria, porque países menos desenvolvidos com um igual ou maior grau de instabilidade institucional e sócioeconomia e com populações muçulmanas relevantes?

A ameaça do terrorismo na África subsariana Novos alvos?

A ameaça do terrorismo na África subsariana Conclusões: As origens e motivações do Boko Haram mostram a facilidade com que grupos de cariz terrorista e jihadista podem emergir na África subsariana, em particular nas regiões da África Ocidental e Central; A isto acresce a crescente competição entre organizações terroristas transnacionais, cujo impacto poderá desestabilizar países que têm estado em larga medida imunes a este fenómeno. O mundo está hoje ameaçado por redes jihadistas paralelas e concorrentes, bem como uma variedade de novos grupos, os quais tentam constantemente superar-se uns aos outros através de ataques de grande escala. Sem uma aposta no desenvolvimento sócioeconómico, maior cooperação regional e resolução de diferendos regionais, o mundo – especialmente a África Ocidental – estará vulnerável à difusão de grupos desta natureza, os quais estão crescentemente dispostos e motivados a fazê-lo.