ESPAÇO DE MEMÓRIA E RESISTÊNCIA

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Transcrição da apresentação:

ESPAÇO DE MEMÓRIA E RESISTÊNCIA CULTURA POPULAR ESPAÇO DE MEMÓRIA E RESISTÊNCIA LEONARDO VENICIUS PARREIRA PROTO E EQUIPE DE ARTES DA CASA DA JUVENTUDE PE. BURNIER

CULTURA? Qual é o seu significado? Para a antropologia social cultura é uma teia de significados (Geertz,1989), apresentando segundo este mesmo autor uma síntese de sua forma de ver o mundo, denominada ethos. Esse mesmo conceito, para ele, “é o tom, o caráter e qualidade de sua vida, seu estilo moral e estético, e sua disposição é a atitude subjacente a ele mesmo e ao seu mundo que a vida reflete” (p. 93).

APARELHO IDEOLÓGICO DA CULTURA – DOIS ASPECTOS Visão do literato – Alfredo Bosi Sua análise leva em consideração dois lados da mesma “moeda” – o erudito e o popular. Estão delimitadas pelos suas forças antagônicas – vamos ao seu texto:

“Se pelo termo cultura entendemos uma herança de valores e objetos compartilhada por um grupo humano relativamente coeso, poderíamos falar em uma cultura erudita brasileira, centralizada no sistema educacional (e principalmente nas universidades), e uma cultura popular basicamente iletrada, que corresponde aos meios materiais e simbólicos do homem rústico, sertanejo ou interiorano, e do homem pobre suburbano ainda não todo assimilado pelas estruturas simbólicas da cidade moderna” (BOSI, 1995, p. 309).

UMA INDAGAÇÃO A PARTIR DO TEÓRICO A CULTURA POPULAR É O LUGAR PRIORITÁRIO DO POBRE OU SERIA UMA COMPREENSÃO MERAMENTE ANTROPOLÓGICA PARA SE LER DADO REALIDADE CULTURAL? ESSA POSSÍVEL RESPOSTA É UM CONVITE PARA JUNTOS AMPLIARMOS NO DEBATE POSTERIOR?

INTERCONEXÕES: DA IDÉIA DE CULTURA AO PASSO DA TRADIÇÃO Como poderíamos defini-la? Em minha visão e aprofundamento, concordo com a leitura do mais eminente historiador marxista da nossa contemporaneidade, Eric Hobsbawn. Para este, a tradição é uma invenção social, que ao estabelecerem contato, ressemantizam-se seus sentidos e suas apropriações culturais, para reelaborem novas formas de co-existência. Segundo ele:

“O termo “tradição inventada” é utilizado num sentido amplo, mas nunca indefinido. Inclui tanto as “tradições” realmente inventadas, construídas e formalmente institucionalizadas, quanto as que surgiram de maneira mas difícil de localizar num período limitado e determinado de tempo – às vezes coisa de poucos anos apenas – e se estabeleceram com enorme rapidez” (HOBSBAWN, 1997, p. 09).

OUTRAS ABORDAGENS SOBRE TRADIÇÃO Para o historiador Jörn Rüsen, “tradição é, pois, o modo pelo qual o passado humano está presente nas referências de orientação da vida humana prática, antes da intervenção interpretativa específica da consciência histórica” (2001, p. 77). A tradição para ele é pré-histórica, comungando com a estrutura do pensamento heiddegeriano ao se falar em “pré” – o que antecede, orienta e fornece sentido existencial.

A psicologia social de Maurice Halbwachs, em seu trabalho sobre Memória Coletiva (2006) discute a a tradição de acordo com as concepções etnocêntricas e civilizacionais, ou seja, para que a história exista é necessário que a tradição seja encerrada e com ela o a memória social do grupo, pois ele entende que a construção escrita da história só irá a frente quando os grupos sociais estiverem muito distantes de seu passado – apontando sua perspectiva neopositiva.

A ÚLTIMA PARTE DO NOSSO TRIPÉ DE REFLEXÃO: A MEMÓRIA Gostaria de me ater a dois aspectos da memória: a individual e a coletiva? Para o filósofo Henri Bergson (1999, p. 291), a possibilidade da constituição da memória individual é alimentada por nossas percepções, nossas sensações, manifestadas em nossa matéria e trabalhada por nossa consciência. Nossa relação social é um dado entre o indivíduo e seu mundo exterior, os objetos que o cercam. A memória é “estimulada” pelo nosso contato com o mundo a volta.

O elemento memória coletiva já é uma ampliação de Halbwachs (2006), segundo a qual todas nossas lembranças são válidas no conjunto da existência social. A evocação das lembranças pessoais podem até existir, porém como um mecanismo de ajuntar-se ao coletivo. Por essa razão podemos falar em uma variedade de memórias: histórica, temporal, espacial, econômica, musical, religiosa – aqui está um item para o debate sobre identidade. Assim, ele concebe e concordo com Durkheim, ao trabalhar a memória como legitimação social.

ÚLTIMA INDAGAÇÃO A PARTIR DAS PROVAÇÕES DE KARL MARX Como iremos nos legitimar a partir das memórias coletivas em que querem-se evocadas num futuro próximo ou distante? Na Questão Judaica, Marx (2002), afirma que a idéia de emancipação dos outros só é possível se nós nos dispusermos a nos emanciparmos primeiro. Com essa tese, a gente consegue nos libertamos a partir da construção de nossas memórias?

Será que conseguimos fazer de nossas memórias um elemento importante para a práxis da emancipação dos/as adolescentes e jovens, sujeitos de direito de nossas ações pontuais e permanentes? “A libertação é um ato histórico, não um ato de pensamento, e é efetuada por relações históricas...” (MARX e ENGELS, 2002, p. 25).