O pensamento e seu desenvolvimento na infância Conferência 3

Concepções teóricas Psicologia Associacionista: relação associativa entre as idéias; uma idéia chama a outra, por ligação de contingência ou de tempo. Dificuldades para explicar: pensamento dirigido/orientado para um fim e logicamente organizado (estrutura lógica do fluxo de idéias)? Solução: conceito de tendência perseverante (em oposição à tentativa associativa);

Qualquer idéia que penetre na consciência tende a firmar-se nela, se esta idéia for deslocada por outra, relacionada com ela, surge a tendência perseverante, e retorna-se, quando possível, às associações precedentes. Ebbinghaus: o pensamento como algo intermediário entre a obsessão e o turbilhão, a fuga de idéias.

Ex.: uma pessoa num incêndio; Desenvolvimento infantil: criança manifesta tendência perseverante clara; assim como a tendência em mudar de atividade/idéias; Na criança estas tendências não estão unidas, não colaboram entre si de forma planificada e sistemática que resultem num pensamento lógico, como nos adultos (explicação mostrou-se insuficiente);

Ach (associacionista): tendências associativa e perseverante, não suficientes para explicar o pensamento com sentido, pleno de razão (lógico). 3 novas correntes (fracassos): behaviorismo; Ach; Külpe (escola de Wurtzburg);

Behaviorismo Watson: une as tendências associativas e perseverantes com a teoria da tentativa e erro; processo de pensamento: substituição associativa de movimentos primários; O animal comporta-se exatamente como o homem hipotético de Ebbinghaus; Como, a partir das tendências que atuam mecanicamente, surge a atividade com sentido, racional?

Ovo de Colombo: não teria explicação Ovo de Colombo: não teria explicação. Atividade racional: um resultado casual do jogo cego dos processos associativos, orientados pelo estímulo perseverante, que sempre os empurra em determinado sentido (explicação behaviorista).

Outros psicólogos: não se pode construir um modelo de atividade racional partindo de elementos irracionais. Ach: liberdade: fonte do pensamento humano racional. Tendência ou idéia determinante (+ associativa e perseverante); da combinação das 3 tendências deduz o caráter racional do pensamento humano; Idéia determinante a que encerra em si o objetivo da atividade (beco sem saída);

Külpe: pensamento estava rigorosamente separado dos outros processos da atividade psíquica: leis associacionistas, neste caso, eram infundadas; Escola de Wurtzburg: sublinhou o caráter abstrato, insensível, não visual de nosso pensamento; Da mesma forma que Binet (escola de Paris), mostrou que os estados da consciência ricos em imagens (como por ex.: nossos sonhos, são pobres em pensamentos; e os estados ricos em pensamentos, ao contrário, são pobres em imagens (jogo de xadrez);

O pensamento era uma forma primária de atividade, assim como a sensação. Não depende da experiência; logo não era necessário explicar o caráter racional do pensamento. A força vital racional não representa o produto de um prolongado desenvolvimento, mas é algo que existe originariamente na matéria viva (vitalismo; idealismo: premissa).

Teoria Estrutural do Pensamento Superação das abordagens vitalista e mecanicista (associacionistas). Köhler (Wertheimer; Gelb; Goldstein), concepção biológica do pensamento (chimpanzés); Selz: estudos de Köhler + estudos do pensamento produtivo do homem; Bühler: pensamento da criança o elo entre o pensamento dos macacos superiores e do homem desenvolvido (Piaget);

Piaget: aceita, assim como Freud e Bleuler, que a fase primária do pensamento da criança, é o pensamento regido pelo prazer (satisfação; biológico). O enfrentamento constante com o meio social exige uma adaptação ao modo de pensar dos adultos (comunicação); Processo de socialização do pensamento infantil. O pensamento infantil, biológico, é substituído por formas de pensamento impostas à criança pelo meio (Claparède). Contradição: pensamento da criança é, ao mesmo tempo, racional e irracional.

Piaget: tenta mostrar como no pensamento infantil estão misturados o lógico (origem social) e o ilógico (inerente à própria criança); O problema do pensamento e da linguagem: Escola de Wurtzburg: caráter primário do pensamento; este não mantém relação com a linguagem (palavras como meio de expressão do pensamento);

Behaviorismo: pensamento é linguagem (linguagem é tomada pelo pensamento em seu conjunto); Linguagem infantil (aspecto externo): a criança passa das palavras isoladas à frase, da frase simples à composta, à combinação de frases e orações (confirma-se a tese associacionista: da parte ao todo). Paralelismo entre o domínio do aspecto exterior da linguagem e o desenvolvimento da idéia racional da criança.

No domínio do aspecto semiótico (significativo) a criança percorre o caminho inverso; Piaget: linguagem: fonte principal de socialização do pensamento, é o fator fundamental, com a ajuda do qual se incorporam em nosso pensamento as leis e propriedades lógicas. O pensamento próprio da criança é ilógico, sem palavras, sem significado.

Resumindo: Dualismo: faceta fonética da linguagem X faceta semiótica da linguagem; Piaget: é a linguagem que implanta as categorias lógicas no pensamento da criança (da palavra isolada à frases e orações); Wallon: uma palavra da criança tem o sentido de frases e orações completas e complexas (o que é reconhecido por Stern);

Teses de Vigotski 1ª: Quando predomina o lado externo da linguagem, a criança passa da palavra à frase; mas quando se trata do sentido, passa de uma combinação de frases à combinação de palavras e só, no final à palavras soltas; Os caminhos do desenvolvimento dos aspectos semióticos e fonéticos da linguagem infantil são, não só não coincidentes, como, de certo modo, opostos entre si;

No desenho a criança “vai” das partes ao todo; na dramatização, do todo às partes (uma só palavra se faz acompanhar de toda uma cena com sentido); A criança transmite nas ações o conjunto do conteúdo; Para Piaget, a criança ao dominar a linguagem exterior ainda não dominou as correspondentes formas de pensamento, e encontra-se ainda na fase egocêntrica de pensamento;

Nem a antiga idéia de que o aspecto semântico da linguagem é o simples reflexo de sua estrutura exterior, nem a idéia defendida por Piaget de que a estrutura semântica e as categorias vão a reboque do desenvolvimento da linguagem se viram confirmadas experimentalmente. Quais as relações existentes entre a palavra e seu significado, entre a atividade da linguagem e o pensamento humano?

Em resumo: Os significados das palavras infantis se desenvolvem; Com a assimilação de um significado à palavra não termina o trabalho com ela. Embora tenha-se a ilusão de que a criança já compreende as palavras a ela dirigidas e ela mesma as empregue com sentido (igual aos adultos) a análise experimental mostra que esse é apenas o primeiro passo rumo ao desenvolvimento do significado das palavras infantis.

Conclusões A velha idéia de que o principal trabalho do desenvolvimento da linguagem infantil, termina aos cinco anos, é falsa. A primeira idade escolar, que parecia não contribuir com nada de qualitativamente novo, passa a ocupar o primeiro posto quanto à riqueza e complexidade dos processos que ocorrem no desenvolvimento da palavra infantil (do conhecimento). Um processo oculto, não revelado de imediato, nem por meio da observação.

Supunha-se que todas as funções psíquicas atuam conjuntamente, que estão relacionadas entre si; no entanto, nunca se pesquisou a natureza dos nexos, como estão relacionadas as funções entre si e o que nelas varia em função desse nexo. Supunha-se também que a relação permanecia invariável ao longo de todo o desenvolvimento infantil.

Hipótese: Todo o sistema de relações entre si está, no fundamental, determinado pela forma de pensamento predominante na etapa de desenvolvimento em que se encontra a criança. Todos os sistemas fundamentais das funções psíquicas da criança dependem do nível alcançado por ela no desenvolvimento do significado das palavras. A percepção será, com sentido, ortoscópica ou sincrética, dependendo do nível de desenvolvimento do significado das palavras.

Pesquisas: educação politécnica: atividade prática + conceitos; Dependência entre toda a atividade da criança e todo seu pensamento do desenvolvimento do aspecto semântico da linguagem infantil.