 Todos nós, ao longo do tempo, vamos construindo um modo de ser e de estar no mundo, o que delineia aquilo que chamamos de personalidade.  Personalidade,

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
QUEM SÃO OS EDUCADORES HOJE?
Advertisements

Investigação Qualitativa: caminhos e possibilidades
Letramento: um tema em três gêneros
Dinâmica e Gênese dos Grupos
A INTERAÇÃO SIMBÓLICA George Mead.
Professor Marco Antonio Vieira Modulo II
ESTRESSE NO TRABALHO É um conjunto de reações físicas, químicas e mentais de uma pessoa a estímulos ou estressores no ambiente; é uma condição dinâmica,
PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE
Violência: complexidade e subjetividade
24/05 - CULTURA ORGANIZACIONAL
CULTURA ORGANIZACIONAL
III – O COMPORTAMENTO NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL
Seminário Internacional da Educação Profissional em Saúde: avaliação do PROFAE e perspectiva 24 e 25 de julho de 2006.
Adaptador por Professor Marcelo Rocha Contin
A Educação Física na Educação Infantil: a importância do movimentar-se e suas contribuições no desenvolvimento da criança.
AFINAL O QUE É MULTICULTURALISMO E QUAL SUA IMPORTÂNCIA PARA O ENSINO?
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
1.Consciência (Chalmers,1997)
2.° Bimestre/ A criança, a Natureza e a Sociedade. 2. Objetivos
Como a Criança Pequena se Desenvolve
Para onde vai a educação? Tradução de Ivette Braga,
Apresentação dos Conteúdos Programáticos
EDUCAÇÃO e seus sentidos
SUSTENTABILIDADE E SAÚDE
QUALIDADE DE VIDA Comer e beber Stress e sono Hábitos e vícios
Diferenças e preconceitos nas práticas corporais
Pesquisa em Comunicação I Capítulo 2 - A Pesquisa como ferramenta do processo comunicativo PESQUISA EM COMUNICAÇÃO PESQUISA DE OPINIÃO PESQUISA DE.
SEMINÁRIO REABILITAÇÃO NOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM
PRINCIPAIS INTERESSES DE VYGOTSKY: o estudo da consciência humana
SISTEMA HUMANISTA Abraham Maslow Carl Rogers –1987.
ÉMILE DURKHEIM ( ): TEORIA DOS FATOS SOCIAIS
Marco Doutrinal e Marco Operativo
Profa. MSc. Daniela Ferreira Suarez
Curso de saúde mental para equipes da atenção primária (2) - Módulo II
O comportamento é uma manifestação do maneirismo e é inteiramente capturado pelos critérios incidentais da arena pública.
Conversando sobre Formação Integral.
UMA QUESTÃO A SER PENSADA DENTRO DAS INSTITUIÕES
Ou quem e o que o constitui
Emile Durkheim e o fato social
FILOSOFIA. TURMA: 3206  PROF. JOSÉ LUÍZ LEÃO  ALUNOS: ANDRÉIA EMÍDIO RODRIGUESANDRÉIA EMÍDIO RODRIGUES EDRIANE SILVA PEREIRAEDRIANE SILVA PEREIRA JULIANA.
Liderança e Relações Interpessoais
Aprendizagem e Desenvolvimento Motor
PENSAMENTO HUMANO ENQUANTO PENSAMENTO FILOSÓFICO.
Experiência, aprendizagem e formação para a Saúde: algumas questões
Comportamento do consumidor
Aula 5.
Comportamento do consumidor
Questões envolvendo autoconceito, auto-estima e gênero
Por que estudar Psicologia?
SÓCIO POLÍTICO Preocupada com a função social da Educação Física que se pratica na escola. Procura compreender o ser humano em sua totalidade e ainda.
Consciência /Alienação: a ideologia no Nível Individual. Identidade
INTERACIONISMO SIMBÓLICO
Transtornos de Personalidade
Coordenadoria do Ensino Fundamental
Gestão Estratégica de Pessoas
Conceitos básicos do Aconselhamento não-diretivo
Sofrimento no trabalho
Atividade complementar 04
Psicologia Revisão para prova 2º Bimestre. Questão 1 Transtornos mentais, também chamados de transtornos psiquiátricos ou psicológicos, produzem alterações.
Profª Elizangela Felipi
Família O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi criado em Roma Antiga para designar um novo.
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS
Max Weber.
PESQUISA QUALITATIVA MÉTODOS, TÉCNICAS, INSTRUMENTOS.
Psicologia da Educação
Uma contribuição à teoria do desenvolvimento infantil Aléxis N. Leontiev Uma contribuição à teoria do desenvolvimento infantil Aléxis N. Leontiev.
Somos todos seres sociais
PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE
Aula 1- Parte I Somos todos seres sociais
Transcrição da apresentação:

 Todos nós, ao longo do tempo, vamos construindo um modo de ser e de estar no mundo, o que delineia aquilo que chamamos de personalidade.  Personalidade, portanto, seria um conjunto de traços e de condutas que expressam como lidamos com determinadas situações e como reagimos a tudo aquilo que nos cerca.  Independente do maior peso ser dado aos fatores constitucionais ou adquiridos na formação de nossa personalidade, sem dúvida, o ambiente desempenha um importante papel, o que se estende à funçao do ego em sua tarefa de articular e discriminar as experiências, imprimindo a elas um dado sentido.

 Nesta perspectiva, a formação da personalidade está intimamente relacionada à cultura em que vivemos e expressa de que forma construímos nossas subjetividades.  Subjetividade compreendida como um modo de ser, de agir, de sentir, de desejar, enfim, de estar no mundo. Poderíamos dizer que a construção da subjetividade tem sua expressão mais viva no modo como constituimos nossa personalidade.  Quando falamos em construção de subjetividade, necessariamente devemos levar em conta os processos de subjetivação que estão em jogo nesta construção.  Entendemos os processos de subjetivação como um campo de forças, de diferentes níveis, que não se centram nem se reduzem ao indíviduo.

 Esses processos são duplamente descentrados. Implicam o funcionamento de máquinas de expressão que podem ser tanto de natureza extrapessoal, extra-individual (sistemas maquínicos, econômicos, sociais, tecnológicos, icônicos, ecológicos, etológicos, de mídia,enfim sistemas que não são mais imediatamente antropológicos), quanto de natureza infra-humana, infrapsíquica, infrapessoal (sistemas de percepção, de sensibilidade, de afeto, de desejo, de representação, de imagens, de valor,...., sistemas corporais, orgânicos, biológicos, fisiológicos, etc.)”  Todos estes campos de forças devem ser, portanto, considerados quando tentamos compreender uma determinada personalidade.

 A partir desses pressupostos, o que seriam, então, os transtornos de personalidade?  Novamente outra inflexão se faz necessária para tentar responder esta questão. Como pano de fundo é fundamental que nos posicionemos quanto ao que designamos por saúde e doença.  Adotamos a perspectiva de que saúde e doença não são estados, mas configuram-se como processos que fazem parte de um mesmo indivíduo. Freud já lembrava que o que diferencia o normal do patológico não é de caráter qualitativo, mas sim quantitativo. Nesta mesma direção poderíamos dizer que saúde diz respeito à capacidade do indivíduo de criar respostas para lidar com os desequílibrios tanto internos como externos; Doença seria a falha dessas respostas criativas, a cristalização da conduta.

 A OMS ao tratar deste assunto assim descreve os transtornos de personalidade: abrangem padrões de comportamento profundamente arraigados e permanentes, manifestando-se como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Eles representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo médio, em uma dada cultura, percebe, sente e, particularmente, se relaciona com os outros.  Percebe-se, nesta definição, que tanto a doença, como cristalização da conduta, como os elementos culturais nos quais um determinado indivíduo está inserido são considerados.

 Torna-se especialmente delicado o diagnóstico de transtornos de personalidade, sobretudo na contemporaneidade. Isto porque vivemos, na atualidade, em uma paisagem cultural subjetiva que estimula, incita e encoraja manifestações muito próximas ao que poderíamos chamar de transtornos de personalidade.  Alguns aspectos da paisagem cultural subjetiva: Estética do consumo; satisfação acessada imediatamente; evacuação do lugar do impossível, não há limites; sociedade que aponta em todas as direções sem se fixar em nenhuma. cultura performática e narcísica.

 Como bem lembra Luis Claudio Figueiredo, o homem contemporâneo é um homem traumático, entendendo trauma como o excesso de excitações que o eu não é capaz de se assenhorar, de dominar. O homem contemporâneo é, ao mesmo tempo, protagonista e refém desse excesso, buscando, defensivamente, sobreviver aos efeitos desse processo.  O excesso se manifesta imediata e inicialmente no registro do SENTIR para, então, as intensidades se disseminarem nos registros do corpo e da ação;  Súbitas variações de humor, polarizadas entre Apatia e Irritabilidade, campo em que se inscrevem as Distimias;

 O Excesso no campo da Ação: Existimos em uma hiperatividade permanente, isto é, em uma Excitabilidade Elevada, condição de possibilidade de Violência e Compulsão.  No campo do Pensamento: perde-se a temporalidade e a capacidade de simbolizar as experiências. Esgarçamento dos laços afetivos, dos elos de ligação, fragilidade das regulações simbólicas.  A fragilidade das regulações simbólicas impede que as intensidades se increvam como trilhamentos no campo psíquico (Freud, 1895), a descarga tende a se impor de maneira brutal: distimia, somatizações, passagem ao ato.

 Em uma sociedade altamente competitiva, individualista, permeada pela cultura do medo, como diagnosticar os diferentes tipos de transtornos da personalidade? Transtorno paranóide, esquizóide, explosivo, histriônico, ansioso, obssessivo, compulsivo, sociopata e tantos outros?  Estariam estes transtornos se apresentando como um modus operanti para lidar e se adequar a esta cartografia cultural subjetiva? Seriam estratégias de defesa em direção a respostas adptativas?  Em que pese a importância do diagnóstico dos transtornos de personalidade, posto que eles existem, creio que é fundamental uma análise do contexto no qual se insere cada pessoa, pois será a partir desta análise que as intervenções serão possíveis.

 No que diz respeito às intervenções psicológicas neste campo, a ética do cuidado parece ser uma proposta interessante.  Um cuidado capaz de reconhecer e legitimar o sofrimento, buscando, em um trabalho de co-responsabilização, se construir uma morada em que as experiências possam ter um sentido.  Sentido não é algo que está lá, pronto a ser desvelado. Sentido se constrói e pode ser definido como a capacidade de articular e discriminar as experiências. Mais do que interpretações, creio que precisamos de intervenções capazes de fornecer sentidos e compreensões ao vivido, em um processo de permanente transformação de si e do mundo.