Prof. Everton da Silva Correa Sociologia
Curar e adestrar, vigiar e punir (parte II) https://www.facebook.com/Prof.EvertonCorrea Curar e adestrar, vigiar e punir (parte II)
Jean Martin Charcot, que com justiça é considerado o pai da neurologia moderna, lecionou na Universidade de Paris de 1860 a 1893. Jovem de sensibilidade artística, teria sido pintor ou arquiteto, mas como também gostava de ler, o pai encaminhou-o à medicina. O vienense Pierre Charroux imortalizou uma aula sobre histeria ministrada pelo Dr. Charcot no Hospital Salpêtriére. Pierre-André Brouillet Charroux, Uma aula de medicina com doutor Charcot em salpetriere, óleo sobre tela, 1887.
“Anormalidade” Foucault lembra que foi a partir do século XVIII que se iniciou um processo de organização e classificação científica dos indivíduos, que veio garantir uma nova forma de disciplinar a sociedade. Cada “anormalidade” passou então a ser identificada em seus mínimos detalhes por um saber específico e a ser encaixada em um complexo quadro de “patologias sociais”.
Normalidade? Estamos tão acostumados a depender desses saberes especializados e a conviver com os espaços que lhe são próprios que muitas vezes nos esquecemos de que nem sempre eles existiram. O nascimento da medicina clínica e a criação do hospital tal como o conhecemos, por exemplo, são fenômenos historicamente recentes.
Medicina clássica versus medicina clínica O médico – e não mais qualquer “curandeiro” – passou a ser o responsável por essa nova “máquina de curar”, que lembrava muito pouco aquele “depósito de doentes” medieval.
Medicina clássica e clínica Se a medicina clássica trabalhava com o conceito vago de “saúde” e procurava “eliminar a doença”, a medicina clínica passou a ter como foco o corpo do doente e como objetivo trazer esse corpo “de volta ao normal”. Surgiram então expressões como “temperatura normal”, “pulsação normal”, “altura e pesos normais”.
Padrão de normalidade? Esse padrão de normalidade passou a ser um parâmetro para toda a sociedade – é claro que há componentes culturais que determinam variações nesse padrão –, e a medicina ganhou uma dimensão política de controle.
E hoje? Hoje, mais que nunca, vivemos em função de ter o corpo “normal”, de acordo com todos os padrões, índices e prescrições que a medicina estabelece. Muitas vezes estamos nos sentindo bem e vamos ao médico para um simples exame de rotina.
Controlados? Saímos da consulta com uma lista de remédios; Também nos é apresentada uma longa lista de coisas que podemos ou não podemos fazer; E de alimentos que podemos ou não podemos ingerir.
Referência: BROMENY, Helena; FREIRE-MEDEIROS, Bianca (coord.). Tempos modernos, tempos de sociologia. São Paulo; Editora do Brasil, 2010. p. 87. FIM