CURRÍCULO E MUNDO CONTEMPORÂNEO Maurício Abdalla

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
Profa. Gilvanete Correia Bezerra
Advertisements

Grupo de Pesquisas e Estudos em Educação Ambiental
Dr. Thomé E. Tavares Filho
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
Relação professor/aluno
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
TEORIA CRÍTICA E EDUCAÇÃO
INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL
PLANEJAMENTO E AÇÃO DOCENTE
Plano de Trabalho Docente
NATUREZA E SOCIEDADE Curso de Formação Natureza e Sociedade: Orientações Curriculares e os Cadernos de Apoio e Aprendizagem 17/04/12.
EDUCAÇÃO E PALEONTOLOGIA
O Plano de Ação Curricular na Escola
Secretaria de Estado da Educação Departamento de Educação Básica
CONTEÚDOS ESCOLARES E DESENVOLVIMENTO HUMANO : QUAL A UNIDADE ?
Currículo de Arte do 1° ao 5° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Currículo de Arte ARTE TEM CONTEÚDOS PRÓPRIOS E LINGUAGENS ESPECÍFICAS
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS ENSINO MÉDIO
Pedagogia Histórico-Crítica (Dermeval Saviani)
EDUCAÇÃO BÁSICA E A OPÇÃO PELO CURRÍCULO DISCIPLINAR
PLANO DE TRABALHO DOCENTE
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO FUNDAMENTOS DA GESTÃO
Secretaria de Estado da Educação Departamento de Educação Básica
Apresentação Disciplinar GEOGRAFIA
PLANO DE TRABALHO DOCENTE
RELAÇÕES: PEDAGOGIA, EDUCAÇÃO ESCOLAR E DIDÁTICA
Feiras e Mostras em Ciências, Cultura e Tecnologia
A Escola e as Mudanças Sociais
PRÊMIO MERCOSUL PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA – Edição 2013 Tema: Educação para a Ciência Proposta Brasileira de Linhas de Pesquisa XLVIII RECyT - Reunião.
Planejando o cotidiano da escola Ana Lúcia Amaral.
Pedagogo "Individuo que se ocupa dos métodos de educação e ensino" Fonte: Dicionário Michaelis.
Rotina na Alfabetização:
Plano de Trabalho Docente
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
PRÁXIS E PRÁTICA EDUCATIVA
REUNIÃO TÉCNICA – PEDAGÓGICA 2014
O que é metodologia? Uma preocupação instrumental. Trata das formas de se fazer ciência. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos. A finalidade.
Sociologia das Organizações Prof. Robson Silva Macedo
Marco Doutrinal e Marco Operativo
OS OBJETIVOS E CONTEÚDOS DE ENSINO
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
O PLANEJAMENTO DA AÇÃO DIDÁTICA
ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO
Conversando sobre Formação Integral.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS PROFESSORA: LILIAN MICHELLE
METODOLOGIAS DA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS
PLANEJAMENTO ESCOLAR Importância e significado do planejamento escolar
Educação a distância: esboço de uma análise ético-política.
Profª. Taís Linassi Ruwer
História nas atuais propostas curriculares
Karl Marx ( ) - comprometimento em relação a classe trabalhadora
A Educação Matemática como Campo Profissional e Científico
PLANO DE ENSINO: orientações para elaboração
Uergs-Licenciatura em Pedagogia, Tecnologia da Educação
SÓCIO POLÍTICO Preocupada com a função social da Educação Física que se pratica na escola. Procura compreender o ser humano em sua totalidade e ainda.
PRÁTICA DE ENSINO DE LÍNGUA INGLESA 1
PENSANDO O LIVRO DIDÁTICO E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO DE HISTÓRIA
Perspectivas atuais do Trabalho Pedagógico OTP 7
Antoni Zabala – Capitulo 1,2 e 3
TÉCNICAS DE ENSINO: instrumental teórico-prática
PLANEJAMENTO E AÇÃO DOCENTE
PLANEJAMENTO, CURRÍCULO E AVALIAÇÃO
Planejamento: plano de ensino, aprendizagem e projeto educativo
Cristiane Jonas Francisconi
SAÚDE RENOVADA Essa abordagem vai ao encontro do movimento biológico higienista, entretanto o que difere é a participação de todos nas atividades, além.
FORGES/UFPe Recife, novembro de 2013 Profª Dra. Maria Amelia Sabbag Zainko
Apresentação ApresentaçãoApresentaçãoApresentação.
Matriz de avaliação processual
A Escola: uma sociedade dentro da outra? Manoel Oriosvaldo de Moura Pilar Lacasa.
Transcrição da apresentação:

CURRÍCULO E MUNDO CONTEMPORÂNEO Maurício Abdalla

CURRÍCULO E SOCIEDADE Qualquer teorização sobre o currículo implica uma metateoria social e uma metateoria educativa. E toda teoria curricular que não ilumine essas conexões com a metateoria e com a história [...] levar-nos-á inevitavelmente ao erro. (José Gimeno Sacristán)

CURRÍCULO E SOCIEDADE Querer reduzir os problemas relevantes do ensino à problemática técnica de instrumentar o currículo supõe uma redução que desconsidera os conflitos de interesses que estão presentes no mesmo. O currículo [...] é uma opção historicamente configurada, que se sedimentou dentro de uma determinada trama cultural, política, social e escolar; está carregado, portanto, de valores e pressupostos que é preciso decifrar. A assepsia científica não cabe neste tema, pois no mundo educativo, o projeto cultural e de socialização que a escola tem para seus alunos não é neutro. De alguma forma, o currículo reflete o conflito de interesses dentro de uma sociedade e os valores dominantes que regem os processos educativos. (José Gimeno Sacristán)

CONCEPÇÃO DO CURRÍCULO COMO PRÁXIS Currículo não é apenas um conjunto de prescrições acerca dos conteúdos e orientações gerais sobre o ensino, mas uma práxis que engloba vários níveis de existência e concretização. Engloba desde a sua existência como prescrição até sua realização como prática.

REFLEXÕES SOBRE O MUNDO ATUAL Falência do capitalismo como processo civilizatório e sua coroação como economia crematística. Há uma crise humanitária estrutural que deve chamar a atenção de todos. 40 % da população mundial vive em estado de extrema pobreza (2,6 bilhões de pessoas). 10,7 milhões de crianças morrem por ano no mundo antes de completar 5 anos, devido, na sua grande maioria, à pobreza e à subnutrição. Isso representa cerca de 3.600 atentados de 11 de setembro por ano (ou cerca de 10 atentados por dia) com os prédios cheios de crianças. O relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, órgão da ONU), prevê sérios riscos para o planeta em um curto espaço de tempo. A exclusão social é crescente e estrutural. O sistema não cria alternativas, apenas reforça as medidas que geram as crises. O otimismo, a utopia e a inteligibilidade do mundo se desfazem com a crise subjetiva de racionalidade.

PERSPECTIVAS Não há saída dentro da lógica capitalista. O mundo precisa de um novo processo civilizatório  Base material de produção da existência  Racionalidade geral que articula a subjetividade Para enfrentar a crise sistêmica, as ações devem coordenar-se de maneira sistêmica e vincular-se à todas as dimensões da práxis social. A educação atua no campo das subjetividades, mas deve articular-se com experiências concretas.

NOVA RACIONALIDADE Princípio da cooperação como eixo de uma nova racionalidade Novas bases interpretativas para as ciências Novos parâmetros de relacionamento: Consigo mesmo (implicação individual) Com o outro (Implicação social) Com a natureza (Implicação ecológica)

QUESTÕES EDUCACIONAIS O que se reproduz na escola atual? A hegemonia de um processo civilizatório no campo subjetivo não se relaciona somente com o conhecimento, mas também (e principalmente) com os valores e relações pessoais. Assim, a escola não possui apenas uma dimensão de reprodução de conteúdos explícitos, veiculados oralmente ou por materiais didáticos adequados à regulação.

QUESTÕES EDUCACIONAIS O que se reproduz na escola atual? O reforço maior da racionalidade hegemônica se dá no campo dos valores, comportamentos, hábitos e relações interpessoais que se operam na totalidade da vida escolar. O cotidiano da escola não pode ser caracterizado somente pelas relações que se travam em sala de aula ou em atividades planejadas com objetivos instrucionais determinados.

QUESTÕES EDUCACIONAIS O que se reproduz na escola atual? Desde o momento em que os alunos se inserem no universo escolar, entra em ação um conjunto de comportamentos e hábitos e de relações culturais e intersubjetivas, fundados em uma eticidade cujas origens estão além da escola. O microcosmo escolar reflete o macrocosmo social

QUESTÕES EDUCACIONAIS O que se reproduz na escola atual? Compõem tais conjuntos, entre outros elementos, as brincadeiras e jogos, as gincanas e festas, as vestimentas, os aparelhos tecnológicos utilizados como símbolos de status ou fatores de inclusão pelo consumo, a criação de grupos e “tribos”, a postura diante das autoridades escolares, a reprodução das hierarquias dos bairros e da lógica do narcotráfico e gangues urbanas, as preferências musicais e culturais, a alimentação, etc.

QUESTÕES EDUCACIONAIS A afirmação da racionalidade da cooperação pressupõe a criação de um novo sentido para a linguagem, os conteúdos cognitivos, as atitudes, hábitos e hierarquização de valores. Quando esse sentido não é produzido diretamente pela vida cotidiana, ele pode ser construído por meio de práticas educativas – planejadas à luz de uma intervenção histórica contra-hegemônica – que criem um ambiente vivencial e cognitivo fundado em relações de cooperação.

QUESTÕES EDUCACIONAIS Mesmo que os currículos prescritos oficiais não assumam a racionalidade da cooperação, é possível a construção de uma prática curricular moldada aos propósitos de uma educação crítica fundada no Princípio da Cooperação. As implicações educacionais da racionalidade da cooperação dizem respeito ao currículo compreendido como totalidade e como práxis. Embora tenha incidência sobre os conteúdos, a proposta do Princípio da Cooperação recai prioritariamente no campo da realização do currículo, em sua dimensão prática e na organização do espaço escolar

QUESTÕES EDUCACIONAIS A ideia de cooperação tem implicações muito maiores do que a intervenção no plano estrito das relações interpessoais. O Princípio da Cooperação como eixo fundamentador da educação deve ser compreendido em estreita relação com uma concepção holística das relações do ser humano consigo mesmo, com o outro e com a natureza, a partir da qual podemos destacar três níveis de implicações: 1) individuais; 2) sociais e 3) científicas e ecológicas

QUESTÕES EDUCACIONAIS A intervenção educativa fundada na cooperação atinge, portanto, o planejamento escolar como um todo, o conteúdo cognitivo das diversas disciplinas (em ciências naturais e humanas), a corporalidade, a ética, a relação com a natureza e, obviamente, também as relações interpessoais.