Mapas Afetivos: uma perspectiva de leitura psicossocial do território ZULMIRA A. C. BOMFIM São Paulo, novembro de 2011

OBJETIVO Apresentar os mapas afetivos como uma perspectiva de leitura psicossocial do território integrando a psicologia social, a psicologia ambiental e a saúde coletiva.

Universidade Federal do Ceará Centro de Humanidades Departamento de Psicologia

O caminho do Método se fez ao caminhar Experiências profissionais e acadêmicas em psicologia comunitária, psicologia social e ambiental Dissertação de Mestrado (UnB) Representações sociais de cidades satélites de Brasília Tese de doutorado sobre Cidade e afetividade (PUC-SP) Mapas afetivos de Barcelona e de São Paulo

OBJETIVO DA TESE Conhecer as cidades de Barcelona e de São Paulo pelos sentimentos e emoções de seus habitantes. Construir uma metodologia de apreensão dos afetos, e traçar princípios norteadores para a sua aplicação na cidade. Compreender a afetividade como categoria síntese do encontro do indivíduo com a cidade

CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO ESPACIAL A atribuição de significados ao ambiente corresponde a um conjunto de conteúdos que permite o sujeito compreender o que é para ele um lugar, “O ambiente é um território emocional” (CORRALIZA,1998, p. 60).;

CATEGORIAS TEÓRICAS ENVOLVIDAS NA PERPECTIVA DO SIMBOLISMO DO ESPAÇO IDENTIDADE DE LUGAR (PROSHANSKY) TOPOFILIA (YI-FU-TUAM) PERCEPÇÃO AMBIENTAL APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO( POL) APEGO AO LUGAR (Giulliani) IDENTIDADE SOCIAL URBANA (VALERA) MEMÓRIA DO LUGAR (JODELET) MAPAS COGNITIVOS E COGNIÇÃO AMBIENTAL (DOWNS Y STEA; KELVIN LINCH)

A AFETIVIDADE COMO UM CATEGORIA ÉTICO-POLÍTICA A afetividade pode ser uma categoria norteadora de uma ética na cidade? A racionalidade técnico-científica pode ser superada pela racionalidade ético-afetiva ? Mapas reveladores dos afetos podem ser denominados de afetivos? A Estima pode ser um indicador da ética e da participação dos indivíduos na cidade?

AMBIENTE, TERRITORIO E SUA IMPLICAÇÕES NA SAÚDE as ações voltadas para a saúde requer que se considere os contextos socio-ambientais, onde se desenvolvem e se localizam os processos geradores de nocividades e determinantes da saúde-doença. O ambiente é internalizado e compreendido como socialmente determinado Superação dos paradigmas tradicionais das ciências, adquirindo novos significados e com dimensões ampliadas

Sáude e ambiente Refletir sobre as reais condições de vida das comunidades que são campo de práticas dos alunos e profissionais de saúde desses territórios.

BASES TEÓRICAS PARA A CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO Psicologia Ambiental Como área interdisciplinar estuda a interação das pessoas com seu entorno sócio-físico, considerando o meio urbano, os recursos naturais e o comportamento (POL, 1999).

A estrutura urbana como formadora de imagens e significações (imageabilidade ambiental)

(Des)construção e Regeneração

VALORAÇÃO E EXPRESSÃO DA EXPERIENCIA EMOCIONAL UMA FORMA DE IMPLICAÇÃO ATRIBUIÇÃO DE QUALIDADE AFETIVAS : grandes ou pequenos; agradáveis e desagradáveis; bonito ou feio SIGNIFICADO SIMBÓLICO

AFETIVIDADE: EMOÇÕES E SENTIMENTOS NA PERPECTIVA DA PSICOLOGIA SOCIAL A tonalidade e a cor emocional que impregna a existência do ser humano e se apresenta como: 1) sentimento: reações moderadas de prazer e desprazer, que não se refere a objetos específicos; 2) emoção, fenômeno afetivo intenso, breve e centrado em fenômenos que interrompem o fluxo normal da conduta. (SAWAIA, 1999: 98).

PSICOLOGIA SOCIAL: AFETIVIDADE COMO CATEGORIA ÉTICO-POLÍTICA A afetividade na cidade pode ser traduzida pela implicação do habitante com ela (Heller ;Sawaia); A forma como o habitante se implica na cidade já é um indicador da sua ação. Por isso, a afetividade é um indicador de ética e cidadania na cidade

A Afetividade como potencia de ação: (Espinoza: Vygotsky) O sentido de ação e transformação na cidade, pelo cidadão, depende do desenvolvimento de ações potencializadoras, em que a afetividade pode ser um grande eixo integrador. Privilegiamos a base afetivo-volitiva (afetividade) como uma categoria ético-política orientadora do encontro do indivíduo com a cidade

AFETO: SENTIDO INTERNO (Luria) Afeto: subtexto ou sentido interno é diferente do significado superficial ou externo do texto Reflete a sensibilidade emocional do sujeito, mais do que seu intelecto formal Alocuções verbais nas quais o subtexto e o sentido interno estão presentes: expressões de sentido figurado, comparações, metáforas e provérbios.

SENTIDO FIGURADO “Choveu canivetes nessa noite” “Viviane é uma flor” “Choveu canivetes nessa noite” “Não venha botar boneco não”

COMPARAÇÕES E METÁFORAS “O Amor queima como o fogo” (Luis de Camões) "Os teus olhos são como lagos gélidos“ “São Paulo é uma cidade abacaxi, doce e azeda mais é bom”

METÀFORA: UM POEMA EM MINIATURA As metáforas rompem com a tradição filosófica e lingüística de base positivista: Fogem da noção do conhecimento como racionalidade e da semântica como formalidade.

METÁFORAS Formas eficazes de apreensão dos afetos, porque vão além da cognitividade. Seu alvo maior é a conquista da intimidade. Os processos do pensamento e os sentimentos humanos são, em grande medida, metafóricos (COHEN, 1992).

METÁFORAS E SENTIMENTOS Cultivo da intimidade; Refletem a experiência da vida cotidiana; Permitem o insight comunitário e o contato com a coletividade. São sintéticos. Imagens e sentimentos são constitutivos da metáfora.

Imagens de contraste e suas metáforas Sentido 1. É aquela que se contradiz entre o bem estar de viver nela com o mal estar de conviver com as desigualdades sociais. 2. É aquela onde os contrastes impossibilitam seus habitantes viver a solidariedade, pois convivem com a satisfação e o prazer da harmonia urbana e a tristeza e a dor do fechamento às diferenças. Metáfora 1. Cidade maçã vermelha com pontos de podridão (BCN) 2. Cidade museu (BCN)

Imagens de contraste e suas metáforas Sentido Aquela que traz contrastes de prazer (doce) e desprazer (azedo), que pode ser superado pelo sentimento de pertencimento. 2. É aquela que traz contrastes próprios da modernidade, onde a velocidade e aglomeração são suas principais características. Metáfora 1. Cidade abacaxi (SP) 2. Cidade trem de metrô (SP)

Imagens de e de atração destruição Imagem de atração e suas metáforas Cidade menu (BCN) Cidade mercado (BCN) Cidade domingo no parque (SP) Cidade Nova York (SP) Imagem de destruição e suas metáforas Cidade esgoto (BCN) Cidade a ponto de explodir (BCN) Cidade casa de abelha recém chacoalhada (SP) Cidade batalha (SP)

Imagens das cidades de BCN e SP Imagem de Cidade pessoa (BCN) Cidade projeto que não se acaba (BCN) Cidade ser vivo (BCN) Cidade cachoeira (SP) Cidade movimento da Terra em relação ao Sol (SP). Imagem de Cidade esgoto (BCN) Cidade criança (BCN) Cidade caixinha de surpresas (SP) movimento Caixa de surpresa

Para que servem os mapas? Os mapas podem ser mais figurativos (icônicos) ou mais abstratos, assentar em sinais emotivos ou expressivos ou, pelo contrário, em sinais referenciais ou cognitivos. Em suma os mapas podem ser feitos para serem vistos ou serem lidos. (SOUZA SANTOS, 1988:147).

O diálogo das diferenças e identificações

INSTRUMENTO PARA APREENSÃO DOS AFETOS NA CIDADE Tornar tangível o intangível Desenhos e metáforas como recursos imagéticos O desenho como deflagrador de emoções e sentimentos As metáforas como recurso de síntese Escrita como expressão da dimensão afetiva (subtexto)

Elementos constitutivos do Instrumento Gerador dos Mapas Afetivos O desenho O significado do desenho Os sentimentos As Palavras sínteses O que pensa da cidade Categorias da Escala Likert (imagens): Agradabilidade, Pertencimento, Insegurança, contrastes Comparação da cidade: A Metáfora Caminhos percorridos Perguntas sobre participação em associações Características sócio-demográficas.

FATORES DA ESCALA LIKERT Diferencial Semântico de Osgood, Suci y Tannembaum –Reações emocionais a qualquer tipo de ambiente Representação Semântica- Corraliza e outros- Bipolaridade emocional

FATORES DA ESCALA LIKERT FATOR 1- AGRADO Agradável-desagrad Repulsivo-atrativo Incomodo-confort Acolhedor - inóspito FATOR 3-IMPACTO Maior - menor Imenso - diminuto Débil - forte Grandioso - insignif. FATOR 2-ATIVAÇÃO Silencioso- movimento Povoado- desértico Morto - vivo Desperto - adomerc. FATOR 4 – CONTROLE Complexo- simples Seguro- inseguro Escuro- claro Tranquilo- Intranquil.

Pertencimento Sinto-me muito identificado Tenho amor a esta cidade Sinto-me muito apegado É uma cidade que faz parte de mim

Agradabilidade Eu gosto da cidade É uma cidade cômoda É uma cidade tranqüila É uma cidade agradável

Insegurança É uma cidade com tensão É uma cidade sufocante Sinto-me só na cidade A cidade tem uma surpresa sempre

Contrastes É uma cidade em que há ordem e desordem É uma cidade em que há angústia e liberdade É uma cidade bonita e feia É uma cidade em que há agonia e tranqüilidade

PROCESSO DE VALIDAÇÃO DOS INDICADORES AFETIVOS Em uma análise fatorial exploratória previa mostrou que estes itens se agrupam dentro desta categoria Os itens de agradabilidade se relacionam negativamente com o de insegurança Nem todos os itens de contrastes e pertencimento se confirmaram

Caracterização da amostra 100 pessoas de Barcelona e 100 pessoas de São Paulo. Homogeneidade entre grupos, quanto ao sexo. Faixa etária predominante: 18 a 35 anos (61,8%). 46% dos sujeitos de Barcelona moravam nesta cidade a menos de 5 anos. Em São Paulo a distribuição por tempo de residência foi mais uniforme. Os sujeitos, em sua maioria, tinham titulação superior (48%), eram profissionais assalariados (35,5%) e os que tinham maior renda eram os que tinham o cargo de chefe intermediário (R$ 2,6 mil).

ANÁLISE DOS DADOS QUALITATIVOS ANÁLISE DE CONTEÚDO CATEGORIAL Processo de codificação e condensação culminando com a elaboração do Mapa afetivo. ANÁLISE ESTATÍSTICA COMPLEMENTAR Decorre dos escores atribuídos na escala Lykert analisados pelo SPSS.

Síntese do processo de categorização para a elaboração do mapa afetivo da cidade Sujei- to Estru- tura Signi- ficado Quali- dade Senti- mento Metá- fora do Dados sócio- demo- gráficos do respon- dente. Mapa Cogniti-vo Metafó- rica. O respon-dente explica o desenho. Qualida-de que o respon- dente dá ao dese- nho. Expres- são afe- tiva do respon-dente ao desenho. Analogia que o respon-dente faz da cidade com algo. Articula- ção de sentidos, feita pelo investi- gador, entre as metáfo- ras da cidade e as outras dimen-sões.

Imagens de Barcelona e de São Paulo, conforme as qualidades e sentimentos dos respondentes Qualidade das cidades Sentimentos Contrastes Atração/sufoco Rica/pobre Alegre/triste, amor / ódio, frieza/calor Atração Atrativa, cultural e oportunidades Alegria, bem-estar e pertencimento Destruição Massificação e pobreza Solidão, impotência, tristeza e desânimo Agradabilidade Beleza, colorido e natureza Recordações, prazer e pertinência Movimento Evolução, novidade e transformação Ambigüidade e estranheza Caixa de Surpresas Novidade, fluidez e abertura Curiosidade, isola- mento e insegurança

Respondente no 31 de São Paulo

Exemplo de mapa afetivo da cidade de São Paulo Sujei to Estru- tura Signi- ficado Quali- dade Senti- mento Metá- fora Do No 31 Mulher 25anos Natural de São Paulo Metafó- rica: dia e noite em São Paulo O dia é um caos, as pessoas correm; a noite é bela, passa serenidade liberdade... Rotina, preocu-pação liberda-de e calma. São Paulo é fonte de momen-tos de prazer e de agonia. Às vezes a amo, às vezes não a suporto. Cidade senti-mentos. A cidade sentimen-tos é aquela em que os contrastes são tão complexos como os sentimentos e, por isso, está viva.

Respondente no 17 de Barcelona

Exemplo de mapa afetivo da cidade de Barcelona Sujei- to Estru Tura Signi- ficado Quali- dade Senti- mento Metá- fora do No 17 Homem 36anos Vic 4 anos em BCN. Metafó- rica. Um gran espacio abierto a la entrada y a la salida de cualquier producto humano, com pocos puntos negros. Mestizaje libertad; futuro; calor. Alegría, buen humor y esperan-za... Es mui fácil encontrar um espacio em el que relajarse y ver la vida. Con un mercado em lo que cada uno puede adquirir lo que mejor le parezca, entre la gran variedad de oferta. A cidade mercado é aquela cujas qualidades de atração combinam liberdade e variedade com sentimentos de alegria, bom humor e esperança.

IMAGENS (ordem de importância) Contrastes BCN (1ª)SP (1ª) Atração BCN (2ª)SP (3ª) Destruição BCN (6ª)SP (2ª) Agradabilidade BCN (3ª) SP – ausente Movimento BCN (4ª) SP (4ª ) Caixa de surpresas BCN (5ª) SP (5ª)

Estima do Lugar Uma Categoria ambiental socialmente construída É um indicador da ação do indivíduo na cidade e de sua implicação com ela. Pode ser tomada como eixo orientador da implementação de ações que pretendam buscar o envolvimento da população em questões urbanas e ambientais

DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS Ficar ou partir?Afetividade e migração de jovens do sertão semi-árido cearense. Centro de fortaleza, lugar das transformações: o idoso e os afetos implicados Juventude e afetividade: tecendo projetos de vida pela construção dos mapas afetivos Laços afetivos que (des)ligam famílias, adolescentes e abrigo Afetividade de adolescentes praticantes de atividades esportivas com relação ao seu bairro

Dissertações defendidas Afetividade e ambiente hospitalar: construção de significados pelo paciente oncológico com dor Afetividade e ambiente esportivo:sentimentos e emoções de atletas de alto rendimento Participação social e estima de lugar: caminhos traçados por jovens estudantes moradores de bairros da regional iii da cidade de fortaleza pelos mapas afetivos Afetividade de idosos de vida religiosa consagrada e a moradia da casa de repouso

TESE 1 A estima positiva da cidade, vinculada à participação em associação, conduz-nos à tese de que a estima é um indicador da ação do indivíduo na cidade e de sua participação cidadã. A estima pode ser tomada como eixo orientador da implementação de ações que pretendam buscar o envolvimento da população em questões urbanas e ambientais.

TESE 2 O mapa afetivo é um instrumento que revela o conhecimento, orientação e ética na cidade pelos sentimentos dos habitantes e que facilita superação das dualidades: subjetividade/objetividade, individual/coletivo e cognição/afeto.

Princípios norteadores do método A afetividade na cidade é apreendida por mapas afetivos gerados pela imageabilidade ambiental. Recursos imagéticos (desenhos e metáforas) como caminho de construção de uma método de revelação dos afetos, para tornar tangível o intangível.

PROJETOS DE PESQUISA E DE EXTENSÃO CONCLUÍDOS A Cidade e a Escola Diagnóstico-ação psicossocial e ambiental dos bairros componentes da regional III, pela identificação dos “mapas afetivos Apego e qualidade de vida no campus no Benfica Contribuições da Psicologia Ambiental para a implementação da coleta seletiva de resíduos sólidos no campus do Benfica.”

Resultados alcançados 2003-2011 Aplicação a outros ambientes: comunidade, bairro, ambiente esportivo, instituição, corpo. Pode ser aplicado a um número razoável de pessoas simultaneamente Pode servir de levantamento de dados qualitativos para a construção de questionários Aplicação em todas as faixas etárias

Oficina de construção do Mapa do Bairro

A dialética da afetividade