Texto VIII - Cidade Morta, cidade monumento, cidade turística: a construção de memórias sobre Ouro Preto Leila Bianchi Aguiar.

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Transcrição da apresentação:

Texto VIII - Cidade Morta, cidade monumento, cidade turística: a construção de memórias sobre Ouro Preto Leila Bianchi Aguiar

Relatos a partir do século XVIII. Expansão urbana a partir das atividades mineradoras a partir de 1760 (ouro). Viajantes descreveram Vila Rica como uma cidade feia, decadente e clima chuvoso. População com hábitos e costumes condenáveis.

Com exceção das igrejas e de alguns edifícios públicos (Casa de Câmara e da Cadeia) foram comum as críticas ao seu casario. Casas mal conservadas amontoadas pelos morros. Vista com aspecto melancólico advindo da névoa que envolvia a cidade. População de negros e de raça de gente com “uma mistura de sangue de várias origens” Luccock.

O metal foi se tornando raro ou a extração mais difícil. Os habitantes foram para outros lugares (20 mil habitantes para 8 mil em 1867). Crença dos viajantes no século XIX que Ouro Preto somente se matinha apenas por ser a sede da província e ponto de passagem entre a metrópole imperial e o distrito diamantino. Culto da empregocracia: “o Governo gasta com seus funcionários” Richard Burton.

Havia no século XIX um número significativo de novas construções e melhorias urbanas. Ouro Preto era símbolo de formação urbana que deveria ser radicalmente alterado por estar associado ao atraso e à insalubridade. Os viajantes ainda descreveram a cidade com uma falta de arte e sentimento. “A constante mudança de temperatura que, unida à topografia da cidade, obrigando contínuas subidas de ladeiras, contribuiria para frequentes febres catarrais, reumatismos e doenças inflamatórias de que sofrem os habitantes durante todo o ano” (Pohl – 1820)

Discursos de exaltação da modernidade. Belo Horizonte passou a ser capital em 1897 por simbolizar a modernidade que a República buscava construir. Ouro Preto não poderia mais ser adaptada para atender às imposições de uma grande cidade.

Essa situação somente se modificou a partir do início das discussões preservacionistas no Brasil. A destruição de muitas construções coloniais em virtude do grande volume de novas construções ecléticas incentivaram o debate na imprensa e nos meios acadêmicos sobre os bens imóveis que poderiam representar a História da Arte Brasileira. Valorização da Cidade Morta a partir da segunda metade do século XX com construção de uma nova memória.

Muitos ex-alunos da Escola de Minas e ocupantes de cargos burocráticos publicaram artigos sobre a necessidade de preservação dos monumentos. Em 1916 visitaram Ouro Preto intelectuais (Rodrigo Melo Franco de Andrade) visitam a cidade e a situam como passado nacional. Modernistas como Mário de Andrade e os demais integrantes da “caravana paulista” inspiraram os trabalhos de preservação após suas viagens pelas pequenas cidades no interior do Brasil.

Valores dos arquitetos modernistas que viajavam para traçar a importância das cidades mineiras. Autenticidade da arquitetura colonial de Ouro Preto. Em 1938 Ouro Preto é inscrita no Livro do Tombo de Belas Artes do SPHAN.

Intenção de congelar a arquitetura de Ouro Preto. Falsificação da paisagem urbana? Tradições inventadas pela alta sociedade e incorporada pelos brasileiros.

Turismo e História como solução dos problemas. Ausência de um projeto turístico. 1890: quatro estabelecimentos de hospedagem Queixas históricas de Infra- Estrutura, inclusive dos próprios modernistas.

Criação do Museu da Inconfidência em 1938 que recebeu os restos mortais repatriados por Getúlio Vargas. Construção do Grande Hotel em 1939 com 82 quartos. Investimento em Rodovias de acesso a OP por JK ( ) Organização de excursões para o “circuito cidades históricas” por agências de turismo.

Concepção de Turismo Cultural. A cidade de “aspecto pouco lisonjeiro” descrita pelos viajantes se transformava em um destino turístico consagrado. Índices de visitação consideráveis.