O desafio do conhecimento Professor: Carlos Alberto Ávila Araújo Disciplina: Fundamentos Teóricos da Informação ECI/UFMG 29 de março de 2010 Maria Cecília.

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Transcrição da apresentação:

O desafio do conhecimento Professor: Carlos Alberto Ávila Araújo Disciplina: Fundamentos Teóricos da Informação ECI/UFMG 29 de março de 2010 Maria Cecília de Souza Minayo Metodologia de pesquisa no campo da CI Maria Nélida González de Gómez

Metodologia de pesquisa no campo da CI Metodologia: movimento do pensamento com intenção de produção de novo conhecimento – relação com um horizonte de possibilidades, condições de produção Programa de pesquisa: empreendimentos institucionalizados, recursos, perguntas e teses para a busca de um conhecimento legítimo – escolhas e objetos

Trajetória da CI Início: explosão informacional, tecnologia, otimização de gastos, interesses estratégicos do Estado, guerra fria Década 60 – recuperação da informação, bibliometria, regularidades Década de70 – serviços de informação, usuários, modelos cognitivistas Década de 80 – cidadania, democratização, emancipação Década de 90 – gestão do conhecimento Década atual – hipertexto, interfaces, sociedade da informação

Caráter poli-epistemológico A ação de informação articula três estratos: a)Semântico-discursivo, cultural, dimensão de significação – métodos da antropologia, lingüística b)Meta-informacional, regulação dos ciclos e fluxos, organização e gestão – métodos da administração, gestão, política c)Infra-estrutural, tecnológico – métodos da computação, técnica, economia Convivência de modos de conhecimento ESPECÍFICOS de cada estrato

Dupla hermenêutica CI recebe das ciências sociais seu traço identificador (princípio articulador das diversidades) Condições epistemológicas (os três estratos) + condições políticas, sociais, econômicas e tecnológicas (os regimes de informação) Conseqüência: “a definição de um núcleo de um programa de pesquisa nunca poderia estar totalmente ocupado ou caracterizado por uma escola, uma teoria, uma técnica, uma temática” (p. 7)

Interdiscursos e questões para a CI CI nasce numa época de crise da ciência moderna, busca por uma nova cientificidade Zonas de núcleo e zonas de periferia – produção de excedentes Produção de interdiscursos (dificuldade de se ter um conhecimento específico da informação) “A escolha do horizonte de problematização é decisiva nesse caso. Qual será o foco da pesquisa e em que área, teoria ou abordagem das ciências sociais terá um papel de interlocutores preferenciais da pesquisa?” (p. 8)

A importância do estudo das linhas de pensamento Nenhuma pesquisa é neutra - todo estudo tem um arcabouço teórico que informa a escolha do objeto Todo estudo sobre o humano/social insere-se em alguma corrente de pensamento filosófica ou sociológica, mesmo que essa filiação seja INCONSCIENTE para o autor Nenhuma das linhas existentes tem o monopólio da compreensão TOTAL e COMPLETA da realidade

Característica da evolução dos conhecimentos sobre o humano/social Existência de sistemas de pensamento antagônicos Evolução do conhecimento não apresenta um caráter linear, neutro e estritamente cumulativo “Os conflitos e as relações competitivas entre escolas, a luta pelo poder (no seio das universidades, das revistas especializadas...), as alianças com as autoridades políticas ou os movimentos de contestação... são igualmente fatores determinantes da configuração do quadro intelectual contemporâneo” (LALLEMENT, 2004, p. 8)

“Para desenhar o mapa das grandes teorias sociológicas convém efetivamente evocar conjuntos não rígidos com variáveis que se entrecortam e não tanto territórios rigorosamente delimitados” (LALLEMENT, 2004, p. 8) Não tanto oposições frontais mas pólos estruturantes entre os quais se organizam diversas combinatórias teóricas Lallement: necessidade de se ter uma epistemologia histórica e crítica no seio das ciências sociais

Positivismo e Funcionalismo: atenção preferencial à integração e à lógica do sistema social Marxismo: exame do social a partir de um ponto de vista macroscópico pondo no entanto a ênfase sobre as contradições e os conflitos que o perpassam e o estruturam Fenomenologia/Hermenêutica: análises que tomam o indivíduo como ponto de partida, dando lugar preferencial ao ator, às interações e aos significados subjetivos produzidos Possibilidade de se acomodar a um pluralismo explicativo que não é prejudicial à sua validade epistemológica

Habermas - interesses de conhecimento a) Ciências empírico-analíticas: interesse cognitivo de ordem técnica (dispor das coisas da natureza) b) Ciências histórico-hermenêuticas: interesse prático (compreender e estabelecer consenso) c) Ciências praxiológicas e críticas: emancipação (libertação de formas de dominação)

Existência duradoura de paradigmas rivais e outros fatores “levam a crer que a situação ‘normal’ da sociologia não é aquela em que predomina um paradigma único, mas, acima de tudo, aquela em que não cessam de se encontrar, lado a lado, ou mesmo se combater, abordagens do social de cromatismos teóricos bem diferentes uns dos outros” (Lallement, 2004, p. 12)

Positivismo Ainda hoje, corrente dominante Teses: a) a realidade é aquilo que nossos sentidos podem perceber b) ciências sociais e naturais têm o mesmo FUNDAMENTO lógico e metodológico c) distinção entre fato e valor

Características do Positivismo Hipótese central: a sociedade é regulada por leis naturais Cientista livre de juízos de valor Condorcet, “pai” do Positivismo: Matemática Social - teorias probabilísticas Saint-Simon: Fisiologia Social Comte: Física Social

Durkheim: “fato social”como coisa, coercitivo e geral; busca pela sua organicidade (causação funcional) Influência: destaque para a pesquisa empírica Críticas: vida interior do ser humano; possibilidade de se livrar dos valores pela matemática; idéia de que os dados são OBJETIVOS se obtidos por instrumentos padronizados; achar que a vida social SE RESTRINGE ao observável e quantificável

Funcionalismo Variante do Positivismo; teses: a) sociedade são totalidades que se constituem como organismos vivos, com elementos inter-dependentes, equilíbrio e ajustes b) cada sociedade tem seus elementos de controle para regular elementos internos e externos c) integração pelo consenso d) idéia de progresso e desenvolvimento

Características do Funcionalismo Conceitos centrais: sistema, subsistema, estrutura, função, adaptação Leis intemporais e invariáveis Condições de existência de um grupo em seu movimento integrativo Controle dos desvios Descreve o funcionamento de uma realidade social enquanto fenômeno observável

Ênfase nos papéis dos atores numa realidade harmônica Desconhece os conflitos e interesses que perpassam Valorização da estatística Acabam se tornando teorias que melhor se prestam para conservar e justificar práticas hegemônicas Ciência com finalidade adaptativa e funcional

Marxismo Metodologia: totalidade Perspectiva histórica - materialismo histórico (dinâmica do real na sociedade) Abordagem dialética (método de abordagem do real) Entendimento do processo histórico na sua transformação

Características do Marxismo Estuda os sujeitos comprometidos com seus interesses e lutas sociais de seu tempo Crítica das ideologias Vínculo entre os modos de produção e as formações sociais (consciência surge como produto social) Dialética: princípio do conflito como algo permanente

Princípio metodológico da totalidade: apreender os fenômenos em seu condicionamento recíproco - conexões entre estrutura social, política e econômica União dos contrários entre: singular e universal; base material e consciência; teoria e prática Contra visão desenvolvimentista e de controle, denúncia dos processos de dominação e desigualdades - exs: Am. Latina, dependência; técnica como neutra

Sociologia compreensiva Compreensão como propriedade ESPECÍFICA dos fenômenos sociais Significado e intencionalidade os separam dos fenômenos naturais Dilthey: compreensão ESPECÍFICA e CONCRETA Weber: causação diferente das ciências naturais - compreensão interpretativa da ação social

Características da Sociologia compreensiva Realidades sociais são construídas pelos significados Método: tipo ideal Todo conhecimento é sempre conhecimento a partir de pontos de vista específicos Ação humana: singular, caso concreto

Etnometodologia Compreender vida já interpretada pelos atores Características do mundo social inseparáveis dos processos interpretativos pelos quais o mundo é constituído Reflexividade Críticas: falta de rigor; realidade criada; negligência dos fatores sociais

Interacionismo Simbólico Comportamento é simbólico e interacional Vida social = consenso estabelecido na inter-relação Método: símbolos e interações são os elementos a serem apreendidos Contra objetivismo: substituir a perspectiva do cientista pela dos atores

Fenomenologia Sociologia da vida cotidiana: conhecimento vivido, “natural”, com tipificações Revelar os significados implícitos que penetram o universo social Conceitos: situação, conhecimento, estoque, relevância Intersubjetividade: dado da existência humana

Características da Fenomenologia Crítica: desconhecimento dos fenômenos estruturais e ausência de discussão sobre poder Não coerção mas autonomia dos atores, suas possibilidades frente aos sistemas Impacto: modelos alternativos que levam em conta os valores culturais dos grupos