Abordagens qualitativas Graduação em Ciências Sociais

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Transcrição da apresentação:

Abordagens qualitativas Graduação em Ciências Sociais Entrevistas narrativas

Questões teóricas A narrativa expressa uma experiência humana e pode assumir várias formas: mito, lenda, fábula, pintura, cinema, história em quadrinhos, conversação. Contar histórias é uma forma elementar de comunicação humana. As narrativas são ricas de indícios porque se referem à experiência pessoal e tendem a ser detalhadas, com foco em acontecimentos e ações. A dimensão cronológica e o enredo.

Contar histórias como esquema autogerador Textura detalhada: deve-se levar o ouvinte em consideração, aumentando os detalhes caso ele não possua elementos para compreender. A história dará conta do tempo, lugar, motivos, pontos de orientação, planos, estratégias e habilidades. Fixação da relevância, de acordo com a perspectiva do narrador, de forma seletiva. Fechamento da Gestalt: o acontecimento central mencionado na narrativa deve ser contado em sua totalidade, com começo, meio e fim.

Técnica da entrevista narrativa Princípio básico: não utilizar o esquema pergunta-resposta e não pré-estruturar a entrevista. Empregar o esquema de narração O artigo fundador da técnica: SCHUTZE, Fritz. Pressure and guilt: war experiencias of a young german soldier and their biographical implications. International Sociology, v. 7, n. 2, p. 187-208, June 1992. Fases da entrevista: preparação, iniciação, narração central, fase de perguntas, fala conclusiva.

Preparação Exploração do campo: investigações preliminares, ler documentos, tomar nota de boatos e relatos informais de algum acontecimento específico. Formular questões exmanentes, que refletem intenções do pesquisador, suas formulações e linguagens, em contraposição questões imanentes (temas e tópicos que surgem durante a narração trazida pelo informante). O ponto crucial da tarefa é traduzir questões exmanentes em questões imanentes, ancorando questões exmanentes na narração e fazendo uso exclusivamente da linguagem do entrevistado.

Iniciação Formulação do tópico inicial para narração, que representa os interesses do entrevistador. O tópico inicial deve fazer parte da experiência do informante e deve ser de significância pessoal e social, comunitária. O interesse e o investimento do informante no tópico não devem ser mencionados, para que este não assuma papéis desde o início. O tópico deve ser suficientemente amplo Evitar formulações indexadas, não referir datas, nomes, lugares, informações que devem ser recuperadas pelo entrevistado. Emprego de auxílios visuais.

A narração central Não interromper Somente encorajamento não-verbal (“hã, hã..”, “sim”, “tá”, acenar com a cabeça etc.) para continuar a narração. Esperar para os sinais de finalização.: “É tudo o que você gostaria de contar?”, “Há algo que ainda queira dizer?”

Fase de questionamentos Somente “Que aconteceu, então?” Não dar opiniões ou fazer perguntas sobre atitudes. Não discutir sobre contradições. Não fazer perguntas do tipo “Por quê?”, mas somente questões que se refiram aos acontecimentos, como “O que ocorreu antes/depois/então?” Ir de questões exmanentes para perguntas imanentes.

Fala conclusiva Parar de gravar São permitidas perguntas do tipo “Por quê?”, como porta de entrada para a análise subsequente Fazer anotações imediatamente depois da entrevista

Vantagens e limitações da entrevista narrativa Expectativas incontroláveis na entrevista. Deve-se esperar que a comunicação do informante tenha algo de estratégico. A narração numa EM é uma função da situação como um todo e deve ser interpretada à luz da situação em estudo, da estratégia presumida do narrador e das expectativas que o informante atribui ao entrevistador. Regras “irrealísticas”: o problema de “fazer o papel de ignorante” por parte do entrevistador. O procedimento como um tipo ideal. A entrevista episódica como técnica para contornar o problema das regras “irrealísticas”.

Vantagens e limitações da entrevista narrativa Narrativas muito curtas podem indicar o fracasso da técnica, mas também podem indicar um posicionamento em relação aos acontecimentos por certos grupos. A formulação do tópico inicial pode ser inadequada A superprodução de narrativas também podem se relacionar a ansiedades neuróticas e a mobilização exacerbada da imaginação com distanciamento da realidade empírica.

Indicações para EN Projetos que investigam acontecimentos específicos, como assuntos “quentes” ligados a políticas locais. Projetos onde várias “versões” estão em jogo. Diferenças nas perspectivas. Projetos que combinem histórias de vida com contextos socio-históricos, como narrativas de guerra e narrativas de exílio político e perseguição.

Análise das ENs O cuidado na transcrição e sua relação com as finalidades do estudo. A proposta de Schutze: Transcrição detalhada em alta qualidade do material verbal Divisão do texto em material indexado (quem fez o que, onde, quando, onde e por quê) e material não indexado (relativo a valores, juízos, conhecimento prático, sabedoria de vida). Usar todos os componentes indexados para analisar o ordenamento dos acontecimentos para cada indivíduo, compondo as “trajetórias”. As dimensões não indexadas são investigadas como “análise do conhecimento”, tentando expressar como o informante representa sua autocompreensão Agrupamento e comparação entre as trajetórias individuais. Numa derradeira comparação de casos, as trajetórias individuais são colocadas dentro do contexto e as semelhanças são estabelecidas, permitindo a identificação de estratégias coletivas.

Análise das ENs Análise temática: construindo um referencial de codificação As unidades do texto são progressivamente reduzidas em duas ou três rodadas de séries de paráfrases, até chegar a palavras- chaves. Desenvolve-se um sistema de categorias com o qual todos os textos podem ser codificados. O produto final constitui uma interpretação das entrevistas juntando estruturas de relevância dos informantes com as do entrevistador. Aproximação com a análise de conteúdo clássica, inclusive empregando procedimentos estatísticos.

Análise das ENs Análise estruturalista Focaliza os elementos formais das narrativa: dimensão paradigmática e dimensão sintagmática. Compreender uma história é captar não apenas como o desenrolar dos acontecimentos é descrito, mas também a rede relações e sentidos que confere a estrutura da narrativa como um todo. Por isso é vital identificar o enredo na análise das narrativas. Proposta de ABELL: Parafrasear relatos em unidades que compreendem contextos, ações, omissões e efeitos; construir gráficos, ligando atores, ações e efeitos no tempo, para representar e comparar formalmente cursos particulares de ações.

Narrativa, realidade, representação A narrativa privilegia a realidade do que é experienciado. As narrativas não são um espelho do mundo, mas representações/interpretações particulares do mundo. As narrativas não estão abertas à comprovação e não podem ser julgadas como verdadeiras ou falsas, mas expressam a verdade de um ponto de vista, de uma situação. As narrativas estão sempre inseridas no contexto socio- histórico; uma voz específica numa narrativa só pode ser compreendida num contexto mais amplo.