Problemas quanto à maturidade dos alunos que chegam à universidade (caso CTC/PUC-Rio) Marcos A. da Silveira Julho de 2005

Comentários (PUC-Rio) Alunos entram via ENEM e via Vestibular. O ENEM considera mais as competências gerais, o Vestibular é calcado na exigência de conhecimentos específicos. A PUC-Rio vem tendo excelentes resultados com os alunos admitidos via ENEM, salvo este ano! A menor nota de Matemática no Vestibular para Economia foi 9,5; e para Engenharia foi 3,5...

Maturidade Pode ser descrita na forma de competências, habilidades e atitudes. Vamos apresentá-las por categorias: Raciocínio Capacidade de abstração Uso de representações Uso de modelagem Leitura e escrita Compreensão Conhecimento Processo de trabalho Atitudes Capacidade crítica

Leitura e escrita Dificuldade em ler com rapidez e compreensão. Grande dificuldade em ler textos não narrativos. Dificuldade em usar elementos de textos não narrativos ou de representações gráficas em raciocínios. Incapacidade de desenvolver uma argumentação ou um raciocínio coerente, tudo se transforma em narrativas: “tipo assim”. Produzem narrativas, descrições, ou ainda explicações ingênuas; sem chegar a definições, explicações convincentes, argumentações ou deduções. Aliás, não separam “explicação” de “raciocínio”. Vocabulário reduzido e usado de forma imprecisa.

Dificuldades lógico-cognitivas Usar e relacionar representações e registros diversos. Argumentação: incipiente, sem controle ou justificativa. Formar conceitos e modelos (abstração): trabalham por exemplos (instâncias particulares) e analogias, resolvem problemas-tipo. Relacionar modelos e realidade concreta, modelagem de situações reais e seu usos para explicações. Desconhecem o raciocínio lógico formal. Confundem A  B com B  A, hipótese com tese, necessidade com suficiência. Dificuldade de passar à negação e de usar contra- exemplos.

Compreensão “Conhecimento é saber resolver todos os exercícios do livro” X Saber resolver novos problemas “O conhecimento dura dois meses” X “Conhecimento é o que sobra depois que se esquece o que o professor falou”. O conhecimento não é cumulativo: “O que importa para a minha profissão será aprendido na hora de usar”. “Raciocinam” por exemplos, não por conceitos.

Exemplos A tragédia da esponja e de outras metáforas concretas. “Corpos mais pesados caem mais rápido”. “Quem está em órbita não sofre a ação da gravidade”. “A Mecânica não passa de 32 fórmulas”. A regra de três: obstáculo para a noção de linearidade e daí para a modelagem. A teoria molecular axiomática torna incompreensível “mol” e “número de Avogrado”.

Processo de trabalho “Estudar é fazer exercícios”. Não suportam a solidão do trabalho intelectual. Poucos organizam sua agenda. O estudo é deixado para pouco antes da prova. Iluminam frases, não ficham ou montam esquemas explicativos. Não admitem “misturar” disciplinas ou assuntos. O importante é o resultado, o processo lhes parece irrelevante. Não sabem trabalhar em grupo.

Tecnologia e ciência Metodologia científica ingênua: a ciência chega à verdade, à certeza: não admitem incertezas ou o papel do acaso (contingência); tudo é determinado e conhecido. Poucos já enfrentaram algum problema concreto. Tecnologia, para eles, é imediata. Não tem noção da utilidade da Matemática, da Química, da Física. Terão da Biologia?

Atitudes, etc. Queda de auto-estima às primeiras notas baixas (de acordo, muito baixas...). Nunca passaram por isto. Ética rígida e infantil: cada um deve agir de acordo com um papel pré-estabelecido, senão é falso ou traidor. Dificuldade em trabalhar com regras: elas são sempre absolutas, e sua aplicação é intencional. A certeza do já sabido e o medo do “mico” impede a crítica: não há crítica a ser feita & não se expõem. Não possuem ferramentas para realizar julgamentos racionais e fundamentados. Atitude passiva, esperam as respostas. Mesmo em desafios.