OS SIGNIFICADOS DO RETORNO À ESCOLA PARA O ALUNO DO PROEJA: A CIDADANIA COMO HORIZONTE DE FORMAÇÃO HUMANA NARDELY SOUSA GOMES[1] ELIESÉR TORRETA ZEN[2]

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Transcrição da apresentação:

OS SIGNIFICADOS DO RETORNO À ESCOLA PARA O ALUNO DO PROEJA: A CIDADANIA COMO HORIZONTE DE FORMAÇÃO HUMANA NARDELY SOUSA GOMES[1] ELIESÉR TORRETA ZEN[2] [1] Licenciada em Ciências Biológicas,Professora das redes pública e privada dos municípios da Serra e Vitória , ES. E-mail: nardelybio@hotmail.com [2] Licenciado em Filosofia, Mestre em Educação, Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Vitória, ES. E-mail: elieserzen@gmail.com 1. INTRODUÇÃO Este trabalho tem o objetivo de investigar os significados do retorno à escola dos estudantes do PROEJA, analisar a reinserção e seus impactos na vida dos estudantes, dos motivos diversos que os levam voltarem à sala de aula, enfrentando obstáculos em busca de um direito negado durante sua trajetória de vida. A pesquisa foi desenvolvida e fundamentada teoricamente, com base nas narrativas descritas pelos próprios sujeitos, através das entrevistas realizadas individualmente é possível identificar o reconhecimento e valorização da escola como meio de percepção de seu lugar no mundo, relatando “[...] a luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como seres para si.” (FREIRE, 2005, p.32). Nas trajetórias de vida dos alunos a exclusão precoce da escola é reafirmada pela política neoliberal do mundo do trabalho que, no plano pedagógico, reitera a fragmentação, o dualismo e a elitização da educação e se traduz na negação do direito ao qual só tem acesso quem pode pagar. Procurei discutir através da análise das respostas dos alunos do PROEJA como se dá a conscientização e a mudança de atitude através do reconhecimento da escola como um lugar de participação e de perspectiva de mudança na vida de cada estudante. Pretende−se buscar indicações, através da análise dos depoimentos das entrevistas dos alunos dos cursos de metalurgia e materiais, segurança do trabalho e edificações do PROEJA do IFES, de como a escolarização pode contribuir para a mudança de perspectiva do aluno no sentido do resgate e ampliação da cidadania, como construção coletiva dos direitos democráticos suprimidos pela lógica capitalista que exclui estes sujeitos inicialmente da escola, e conseguintemente do mundo do trabalho e da participação social. TABELA 1. Motivos do retorno dos alunos do PROEJA ao processo formativo. Motivos Frequência absoluta Frequência relativa Concluir ensino médio 02 12.5% Conhecimento 06 37.5% Inclusão social 04 25% Qualificação profissional 08 50% Exemplo para os filhos 03 19% TABELA 2. Mudanças ocorridas na vida dos estudantes do PROEJA após o retorno à escola. Mudanças Frequência absoluta Frequência relativa Visão crítica 03 18.7% Consciência 06 37.5% Modo de pensar e agir 02 12.5% Relacionamento pessoal 04 25% Conhecimento técnico 2. metodologia Para a realização da pesquisa foram gravadas entrevistas com os alunos do PROEJA no IFES. Definimos o seguinte público para responder as questões da entrevista: 2 alunos do segundo período, 2 alunas do quinto e 2 do oitavo período do curso de Segurança do Trabalho turno vespertino, seguindo o mesmo número de alunos e os mesmos períodos para o curso de Edificações noturno e 2 alunos do segundo período e dois do quinto do curso de Metalurgia e Materiais noturno. Totalizando 16 alunos entrevistados. As perguntas feitas na entrevista foram: Por que você (o aluno do PROEJA) voltou a estudar? O que mudou na sua vida depois que voltou para a escola? Após as entrevistas, as respostas foram transcritas, selecionadas, recortadas e depois classificadas e tabeladas de acordo com o grau de importância do que foi apontado pelos alunos como sendo os motivos mais relevantes para o retorno à escola. As frases e parágrafos foram fundamentados teoricamente e as falas dos alunos foram analisadas à luz do referencial teórico. As análises dos depoimentos foram realizadas com um enfoque qualitativo no que diz respeito aos sentimentos e perspectivas dos alunos e nas transformações na vida pessoal e social relatadas nas entrevistas ao longo de seu percurso de vida escolar. 3.2. O que as falas dos entrevistados desvelam É claro no ideário dos alunos, a concepção de qualificação para atender o mercado de trabalho inicialmente, porém depois que eles começam a estudar, no decorrer do processo educativo, descobrem- se mais, demonstram necessidade de ir além da qualificação, superando a perspectiva do trabalho sobre a doutrina neoliberal O anseio por mudança e a auto-afirmação como pessoas pertencentes ao mundo que as cercam, capazes de transformação é observável no contexto nas narrativas referente à segunda pergunta da entrevista que questionou sobre as mudanças profissionais e pessoais ocorridas na vida dos estudantes. Os alunos entrevistados relatam ter conquistado, após o retorno para a escola, o respeito das pessoas através da mudança do modo de agir e pensar, demonstrando desenvolver uma visão crítica a respeito dos processos educativos e sociais que vivenciam. Os alunos encontram se em pleno processo de conscientização onde têm conhecimento da realidade que os exclui, por não ter sua escolaridade básica concluída, e também percebe que é possível sua libertação na medida em que conquista sua autonomia. Freire entende que a intervenção no mundo se faz com a prática dialógica, coletiva e problematizadora da realidade. Durante as entrevistas foi possível refletir sobre a realidade vivenciada por cada um, as dificuldades e desafios que cada aluno trabalhador enfrenta cotidianamente, para que, conversando, possamos ser presença, tomar consciência, ser o mundo, existir e ser humano. 3. Resultados e discussão 3.1. Cidadania e educação A educação, como instrumento transformador e libertador da sociedade deve primeiramente qualificar o individuo para a vida, cuja principal referência seja o ser humano. A íntima relação entre cidadania e educação deve ultrapassar os limites da escolarização. Uma educação que valorize as dimensões filosóficas, ultrapassando os limites estreitos do utilitarismo da educação profissional, proporcionando uma visão integradora e um desenvolvimento amplo que permita o aluno pensar, se posicionar criticamente diante do mundo, de si mesmo e da sociedade. A ideia de cidadania inserida no processo educativo permite que o aluno se posicione e reflita sobre sua ação como cidadão, sujeito ativo na construção da sociedade. Neste contexto, a exclusão social vai se definindo para o estudante jovem e adulto, reafirmadas pela negação ao direito à educação na idade própria, pela falta de oportunidades no mercado de trabalho em decorrência do baixo grau de escolarização formal e tem como consequência a exclusão do contexto político, econômico e cultural vivenciado por ele. É esse o gatilho da consciência, a necessidade de incluir se, de estar no mundo, de fazer parte. Para entendermos a relação entre cidadania e educação devemos ter como referência a ideia de pertencimento, de tempo e de lugar onde o sujeito vive, se desenvolve, aprende. Quando ele fala, demonstra propriedade, conhecimento empírico a um determinado local ou situação que vivencia. De acordo com o documento base do PROEJA para que a educação seja um processo integrador e contínuo capaz de considerar os conhecimentos e atitudes ligados a cidadania, trabalho, formação profissional e emancipação humana como condição fundamental para a significação da realidade do grupo social, ela deve pautar-se pelos princípios da equidade e ter um modelo próprio que deverá assegurar aos estudantes: igualdade de direitos e oportunidades, reconhecimento da diversidade própria de cada qual, construção coletiva do conhecimento, participação efetiva dos processos sociais e interferência na realidade como fator de cidadania, democratização e justiça. 4. CONCLUSÃO O desafio maior é que a educação profissional de jovens e adultos esteja preparada para receber estes sujeitos superando a exigência da certificação, e pensar formas diferentes de educação não só para atender as mudanças do mundo do trabalho, mas desmembrar-se nas dimensões de uma educação ao longo da vida, permanente, que pensa a sociedade como espaço educativo na perspectiva da construção de um novo projeto social e educacional com relações mais solidárias e formação humanizada. O sujeito volta para a escola porque lá ele é aceito e tratado como humano. Se cumprirmos esta função como educadores, a investigação feita neste trabalho se justifica e faz sentido diante da histórica exclusão social presente nas salas de aula das escolas públicas deste país. aGRADECIMENTOS Agradeço aos alunos do PROEJA, aos meus professores, orientador, a Beto e a todos que me ajudaram a realizar esta pesquisa. REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 47. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. BRASIL. MEC/SETEC/PROEJA. Documento Base - Programa Nacional De Integração Da Educação Profissional Com A Educação Básica Na Modalidade De Educação De Jovens E Adultos, Brasília. 2007. ARROYO, M.; BUFFA, E. ; NOSELA, P. Educação e Cidadania: Quem educa o cidadão? 14º Ed. São Paulo: Cortez, 2010. .