Fluxos financeiros globais

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Fluxos financeiros globais Fluxos globais de capitais Fluxos privados Fluxos oficiais: multilaterais e bilaterais

Copyright, Abel Mateus

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Copyright, Abel Mateus

As tendências dos fluxos internacionais capitais Nos fluxos de IDE mais de metade (55% em 1997) dirige-se para os Países Desenvolvidos, em especial EUA , Reino Unido e França (39% do total em 1996). Os principais países originários são EUA, Alemanha, Reino Unido e Japão (58% do total em 1996) Em 1997 os PVD que receberam maiores volumes de IDE foram a China ($45 bn), Brazil (16) e México (12) A Ásia continua a atrair mais de metade do IDE para os PVD. Segue-se a América Latina e depois a Europa de Leste que tem crescido muito rapidamente. Copyright, Abel Mateus

As tendências dos fluxos internacionais capitais Os fluxos de capitais para investimento em carteira atingem actualmente cerca de $1 trilião de dólares Os principais países originários são EUA , Japão, Reino Unido, Benelux e França Os principais países receptores de investimentos de carteira são os EUA ($400bn), Alemanha, Reino Unido e Japão (em conjunto 70% em 1996) Em 1997 os PVD receberam cerca de $115bn de investimento em acções e obrigações: América Latina ($40bn) e Ásia ($36bn) Como veremos, a crise asiática e posteriormente da Rússia provocaram uma forte diminuição nestas entradas Copyright, Abel Mateus

As tendências dos fluxos internacionais capitais Nos fluxos globais de capitais para os PVD nota-se uma forte retracção dos capitais oficiais, sobretudo devido à quebra dos bilaterais, (a ajuda oficial ao desenvolvimento atingiu, em percentagem do PIB o valor mais baixo desde a década de 50), porquanto os multilaterais mantiveram o seu volume, embora diminuíssem em proporção Deu-se um forte aumento dos fluxos privados: o IDE desde 1997 e os investimentos de portfolio desde 1992, em substituição dos empréstimos bancários, afectados pela crise da dívida dos PVD da década de 80 O IDE tem-se revelado mais estável do que o investimento de carteira Copyright, Abel Mateus

As crises financeiras globais Crise da dívida externa dos PVD em 1982-90 Crise do México em 1994-96 Crise da Ásia do SE e da Russia em 1997-99 Copyright, Abel Mateus

Semelhanças entre as crises dos mercados emergentes As crises foram precedidas por um forte aumento dos influxos de capitais para um grande número de países e, pelo menos nos anos 90, por uma forte melhoria nas condições em que os mercados emergentes acediam aos mercados financeiros globais ($165bil. Em 173-82; $1040 bil. Em 1990-96) Os prestatários assumiram largas posições não cobertas de risco em relação a movimentos de taxas de juro e de taxa de câmbio: é notável que apesar da explosão dos derivados nos anos 90, a falta de cobertura do risco pelos prestatários foi um dos elos cruciais na virulência da crise Comportamento de “moral hazard” dos prestatários: governos nos anos 70-80, empresas não financeiras nos anos 90 - no fim não teriam que pagar Falta de transparência no funcionamento dos sistemas financeiros e dos regimes regulatórios: os bancos emprestadores e os fundos não avaliaram correctamente o risco (bail-out) Copyright, Abel Mateus

Continuação Bolhas especulativas nas bolsas e no imobiliário Taxas de juro a subir, moedas em depreciação, preços das acções e do imobiliário em colapso, e a situação precária em que se encontravam muitas empresas levou à deterioração da qualidade dos activos, causando grande stress nos sistemas bancários Colapso dos sistemas bancários, e incapacidade de combater os movimentos especulativos contra as respectivas moedas Liberalização de balança de capitais em condições de sérias falhas nos sistemas de regulação internos Copyright, Abel Mateus

Continuação Efeitos de contágio Fortes desvalorizações das moedas e ataques especulativos nos mercados cambiais A crise da dívida externa de 82-87 deu-se em condições de fundamentais claramente em deterioração (largos déficits de BTCs e públicos) Também no caso do México se deu uma deterioração da BTC e do déficit orçamental No caso da crise asiática deu-se um rápido crescimento do crédito bancário, sobrevaliações das taxas de câmbio e mercados de acções em quebra Copyright, Abel Mateus

Continuação Em todos os casos houve uma intensa fuga de capitais dos privados nacionais antes e durante a crise (na Argentina em 82-84 chegava para pagar a dívida externa, no México em 95 atingia cerca de 30 biliões de dólars, na Asia só em 97 30 biliões, nos países afectados pela crise) Houve fortes saídas de capitais da Ásia a seguir à crise, dos fundos mobiliários, que atingiram cerca de 30 biliões de dólares em 1997 Houve fortes deteriorações no rating destes países. A Koreia teve a maior quebra histórica Houve um corte brutal no acesso aos mercados financeiros e bancários internacionais Copyright, Abel Mateus

Diferenças Já vimos importantes diferenças nos fundamentais A crise da dívida externa aconteceu no meio de uma recessão no mundo desenvolvido A crise asiática dá-se num período de expansão económica do mundo desenvolvido, com baixa inflação e taxas de juro, mas com mercados de acções sobreavaliados A crise asiática dá-se no contexto de uma forte globalização: só entre 90-94 afluiram aos mercados emergentes cerca de 1 trilião de USD Copyright, Abel Mateus

As quatro regras de ouro para evitar uma crise Primeira: Respeitar a eficiência económica na afectação de recursos. Em todas as crises houve enormes quantidades de recursos públicos e/ou privados que foram aplicados em projectos de baixa rentabilidade económica ex-ante ou ex.-post. Como base da ineficiência pode estar o abandono da análise económica caso de projectos públicos que são feitos por razões políticas ou de prestígio (white elefants) comportamento de moral hazard pelos privados ou empresas públicas (haverá sempre o bail-out) relações entre Estado/empresas ou banca/empresas que não se baseiam na relação de “arms-length” e disciplina económica governos endividam-se fortemente no Exterior para sustentar consumo público ou privado imediato Copyright, Abel Mateus

As quatro regras de ouro para evitar uma crise Segunda: Tem que se respeitar o equilíbrio entre bens internacionalmente transaccionáveis e não transaccionáveis. Ao importarem-se recursos em bens internacionalmente transaccionáveis (p.ex. Importações de bens ou de capitais), é necessário aplicar directa ou indirectamente esses bens em sectores que gerem um acréscimo de fluxos futuros também de bens transaccionáveis. Exemplos: Crise asiática: pediu-se emprestado no estrangeiro capitais para aplicar fortemente em imobiliário O governo do México nos anos 70 endividou-se fortemente no Exterior para construir infraestruturas ou sustentar consumo público (sem que as exportações crescessem) Copyright, Abel Mateus

As quatro regras de ouro para evitar uma crise Terceira: A sustentabilidade da dívida pública depende da capacidade de captação de receitas pelo Estado. Uma dívida pública em que o rácio sobre o PIB está a crescer pode tornar-se insustentável. O principal sinal de alerta surge quando se começa a duvidar que o Estado consiga através dos impostos (incluindo o inflacionário) captar os recursos necessários para o serviço da dívida. Na crise de 80 foi para servir a dívida pública, na crise asiática foi para fazer o bail-out do sistema financeiro. (O Japão não teve graves problemas externos porque ainda não se pôs em causa esta regra). Copyright, Abel Mateus

As quatro regras de ouro para evitar uma crise Quarta: (financeira) Deve-se respeitar o matching entre deve e haver quanto a risco de crédito, risco de câmbio, e taxa de juro (para todos os agentes económicos). Em todas as crises houve um sério mismatch destas responsabilidades. Endividamento em dólares e receitas do agente em moeda nacional (México e Ásia). Endividamento no curto prazo para investimentos no longo prazo (Coreia). Pedir emprestado a taxas de juro voláteis e emprestar a taxas de juro fixas (crise imobiliário nórdica). Este mismatch é agravado quando não se faz a cobertura com derivados das posições (ignorância das instituições financeiras - caso asiático). Copyright, Abel Mateus

Quanto tempo levou a resolver a crise? No caso da crise da dívida externa dos PVDs levou de 5 a 7 anos a restaurar o nível do PIB anterior e a reentrada de capitais privados No caso da crise mexicana depois de 1 ano já havia uma reversão dos fluxos de capitais e o PIB atingia o nível de pré-crise depois de 3 anos No caso da Ásia a OCDE só prevê restauração do crescimento económico nos finais de 1999, pelo que os níveis de pré-crise podem levar 4 a 5 anos a restaurar Copyright, Abel Mateus