Reflexões teórico-metodológicas sobre a relação atividade de linguagem/ atividade de trabalho docente.

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Transcrição da apresentação:

Reflexões teórico-metodológicas sobre a relação atividade de linguagem/ atividade de trabalho docente

Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva cecilinh@uol.com.br Programa de Pós-graduação em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL) – PUC/SP Linha de Pesquisa Linguagem e Trabalho Coordenação do grupo de pesquisa Atelier Linguagem e Trabalho

Grupo Atelier Linguagem e Trabalho Universidades envolvidas: UERJ, USP, Unisinos, UFPe, UniRio e UFMT Eixos de pesquisa: a) estudo das práticas de linguagem em situação de trabalho; b) estudo dos discursos produzidos por diferentes interlocutores nos quais o tema trabalho é relevante; c) estudo dos discursos que remetem à atividade de linguagem em diferentes contextos.

Propriedades das disciplinas de aplicação Ter uma preocupação social, isto é, estar voltada para necessidades explícitas ou implícitas de determinados setores da sociedade  contribuir, por meio da análise das práticas linguageiras, para explicitar a complexidade do trabalho de diferentes profissionais; Ancorar-se em fundamentos de uma disciplina medular  Lingüística, mais especificamente, nas teorias enunciativo-discursivas; Combinar conceitos e métodos de domínios científicos e técnicos variados  Ergonomia da Atividade e Psicologia do Trabalho, na vertente desenvolvida ela Clínica da Atividade.

3. Que tratamento dar ao método da autoconfrontação? Tópicos desta apresentação 1. Quais as contribuições da ergonomia da atividade para pensar o trabalho do professor? 2. Como aceder ao trabalho do professor e como estudá-lo do ponto de vista discursivo? 3. Que tratamento dar ao método da autoconfrontação?

1. Quais as contribuições da ergonomia da atividade para pensar o trabalho do professor? Trabalho prescrito/ trabalho real, uma relação solidária Organização escolar e trabalho do professor As prescrições Os coletivos As ferramentas Trabalho de concepção, de prescrição e regulação de tarefas aos alunos

2. Como aceder ao trabalho do professor e como estudá-lo do ponto de vista discursivo? 2.1 Noções importantes 2.2 Dispositivo metodológico da autoconfrontação

2.1 Noções importantes 2.1.1 O real da atividade 2.1.2 Gênero de discurso 2.1.3 Gênero de atividade/ gênero profissional

2.1.1 O real da atividade A atividade realizada e o real da atividade não se recobrem; o realizado não tem o monopólio do real. Aquilo que se faz é apenas a atualização de uma das atividades realizáveis em uma dada situação na qual a atividade que venceu é governada pelo conflito entre atividades rivais. Clot, Y. et al, 2001: 18

As atividades suspensas, contrariadas ou impedidas, as contra-atividades devem ser admitidas na análise. Analisar o trabalho implica, então, encontrar o real sob o realizado, isto é, as escolhas, as decisões que precedem a tarefa, o que poderia ter sido feito de outro modo, mas não o foi; os acordos estabelecidos entre os interlocutores reais ou potenciais. Clot, Y. et al, 2001: 18

2.1.2 Gênero de discurso Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua (...) O caráter e os modos dessa utilização são tão variados como as próprias esferas da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. Bakhtin,M. 1984/1992: 279

A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, é claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, que denominamos gêneros do discurso. Bakhtin,M. 1984/1992: 279

2.1.3 Gênero de atividade/ gênero profissional Formas prescritivas que os trabalhadores se impõem para poder agir e que funcionam simultaneamente como coerção e recurso. Parte subentendida da atividade, aquilo que os trabalhadores de um dado meio conhecem, esperam, reconhecem, apreciam; o que lhes é comum e o que os reúne sob condições reais de vida; o que eles sabem dever fazer sem que seja necessário reespecificar a tarefa a cada vez que ela se apresenta. Maneiras de fazer e de dizer próprias de uma atividade. Clot, Y. & Faïta, D. 2000: 9-13

2.2 Dispositivo metodológico da autoconfrontação 2.2.1 Constituição do grupo de análise 2.2.2 Autoconfrontação simples 2.2.3 Autoconfrontação cruzada 2.2.4 Extensão do trabalho de análise ao coletivo profissional

2.2.1 Constituição do grupo de análise Observações das situações de trabalho dos meios profissionais Escolha dos pares ou grupo para participarem do trabalho de co-análise Determinação das seqüências de atividades a serem filmadas

2.2.2 Autoconfrontação simples trabalhador/ pesquisador/ imagens Registro em vídeo das seqüências de atividades de cada dupla Comentários do trabalhador confrontado às imagens de sua própria atividade

2.2.3 Autoconfrontação cruzada dois trabalhadores/ pesquisador/ imagem do colega Apresentação a cada um dos atores sociais das seqüências selecionadas a partir da autoconfrontação simples Comentários de cada um dos atores sociais sobre a atividade filmada do colega

2.2.4 Extensão do trabalho de análise ao coletivo profissional Apresentação da montagem dos filmes ao coletivo de trabalho Comentários do coletivo sobre as etapas anteriores

3. Que tratamento dar ao método da autoconfrontação? Pressuposto: o dito não equivale a uma informação com o valor de verdade. Dispositivo metodológico como o lugar de produção de discursos sociohistoricamente situados por meio dos quais se constroem diferentes versões da realidade.

Princípio da primazia do interdiscurso: um discurso não nasce de um retorno às coisas (...) mas de um trabalho sobre outros discursos. A unidade de análise pertinente não é o discurso mas um espaço de trocas entre vários discursos convenientemente escolhidos. O estudo da especificidade de um discurso supõe sua relação com outros discursos. Maingueneau, D. 1984/2005: 21-22