Educação escolar indígena?

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
ENEF 2008: Da competência Técnica ao Compromisso Político
Advertisements

TROCA DE SABERES ENTRE O PET CNX EDUCOMUNICAÇÃO E O GESTAR II
ANEXO I - PROJETO DE PESQUISA
A INCLUSÃO DE PESSOAS SURDAS NO ENSINO SUPERIOR
ORGANIZANDO A PESQUISA
Pedagogia da pesquisa-ação
PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR
Escola e Família: quais são suas competências?
DESENVOLVIMENTO HUMANO
ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
PROJETO DESPORTO ESCOLAR
Para onde vai a educação? Tradução de Ivette Braga,
ASSESSORIA DE FORMAÇÃO
Cidade Educadora, Cidade Saudável
LETRAMENTO Magda Soares, 2010.
III Encontro de Boas Práticas
Linguagem, alfabetização e letramento
TRÍADE ESCOLAR Chamo de tríade escolar os três pilares que formam uma escola, eles tem o mesmo grau de importância para que uma escola seja um lugar do.
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
PROGRAMA NACIONAL ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA
APRENDER POR PROJETOS. FORMAR EDUCADORES Pedro Ferreira de Andrade
O Estado necessita da Educação, e a Educação do Estado.
Marco Doutrinal e Marco Operativo
Lei de diretrizes e bases da educação nacional
REUNIÃO DE PAIS DOS ALUNOS DA
Lenda do Guaraná.
A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Escola é o lugar de gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. [...] Ela será cada vez melhor na medida em que cada um se comporta.
Aula com base nos textos:
O que pode facilitar o desempenho de seu filho
O QUE VOCÊ ENTENDE POR “ATIVIDADE DIVERSIFICADA”?
‘‘Um Campus completo é aquele que se propõe a oferecer uma educação integral em um espaço para se fazer amigos que durem a vida toda’’ Viviane Brito,
Necessidades Especiais, Docência e Tecnologias
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS PROFESSORA: LILIAN MICHELLE
A Metacognição no Currículo do Estado de São Paulo
Relação Professor Aluno na sala de aula ELIDA CRISTINA ALVES
Diretoria de Ensino Região Caieiras (Item 1)
INSTITUIÇÕES SOCIAIS: A Escola Prof. Lucas Villar
O ENSINAR E O APRENDER ELIZABETH TUNES UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Uergs-Licenciatura em Pedagogia, Tecnologia da Educação
Plano Decenal de Educação do Estado de Minas Gerais - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES – Professor Paulo César Gonçalves de Almeida Reitor da UNIMONTES.
EDUCAÇÃO ESPECIAL um novo lugar na educação brasileira
ESCOLA É.
ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
Contexto - as exigências criadas pelas mudanças econômicas e sociais resultantes de um mundo globalizado, dos avanços científicos e tecnológicos e do papel.
NOVO CURRÍCULO DE LICENCIATURA EM LETRAS Informações auxiliares para os alunos ingressantes em 2006 e 2007.
DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO DO CAMPO
10 Aluno-Professor Professor-Aluno Perguntas Reflexivas Sobre a
SITUAÇÕES.
A ESCOLA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: A CONSTRUÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO E ACESSIBILIDADE Uberlândia - agosto de 2010.
O ALUNO SURDO SEED/DEE 07 a 11/03/2005.
ABORDAGENS EDUCACIONAIS
Equipe responsável pela produção O Aluno Surdo nas Escolas
PARCERIA FAMÍLIA E ESCOLA REDE DE PROTEÇÃO PARA OS JOVENS
Base Nacional Comum Curricular (BNC)
O PERFIL DO EJA Alunas: Maria A. J. dos Santos, Marcia dos Santos e Neli Costa - PEAD/UFRGS Prof. Orientadora: Dóris Maria Luzzardi Fiss INTRODUÇAO No.
EDUCAÇÃO INFANTIL EXEMPLOS DE SITUAÇÕES Setembro-2011
O PERFIL DA EJA Alunas: Maria A. J. dos Santos, Márcia dos Santos e Neli Costa - PEAD/UFRGS Prof. Orientadora: Dóris Maria Luzzardi Fiss Tutora Orientadora:Luciane.
UNIVERSALISMO X RELATIVISMO CULTURAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA EDUCAÇÃO INDÍGENA E DIREITOS HUMANOS
3ª Conferência FORGES Política e Gestão da Educação Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa Universidade Federal de Pernambuco, BRASIL | 4,
Seminário: Base Nacional Comum
O computador como Meio e como Fim...
Perfil do educador no trabalho com o ciclo inicial de alfabetização
1º Encontro - Apresentação 06/06/2014. Pauta Acolhida Contexto do Ensino Médio O que é o Pacto? Execução do Pacto no Ceará Levantamento de expectativas.
Alfabetização: a influência da formação do professor no processo de aquisição da linguagem. Mestranda: Maria da Guia Taveiro Silva Orientadora:Profª.Drª.
“Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.” Mario Quintana.
INTRODUÇÃO Somos estudantes do 2º ano do Ensino Médio do colégio Alef, unidade Paraisópolis. Concluímos o Ensino Fundamental II numa escola da rede pública.
A criança é um grande pesquisador Pedro Demo. “Se a criança é levada a buscar seu material, a fazer sua elaboração, a se expressar argumentando, a buscar.
XIII Seminário Internacional de Educação “ Escola: espaço de sociabilidade e cultura de paz ” 2012.
Transcrição da apresentação:

Educação escolar indígena? A gente precisa ver Wilmar da Rocha D’Angelis Departamento de Lingüística – IEL – UNICAMP

1999 CENSO ESCOLAR INDÍGENA 2005 1.392 escolas em terras indígenas 2.323 3.998 professores 8.431 3.059 professores indígenas 7.600 (estimativa) 93.037 estudantes indígenas 163.773 49 % dos estudantes estão na Região Norte 52,5 % 80,6 % alunos do Ensino Fundamental 81,2 %

O que já não falta são propostas ou discursos sobre “como deve ser” essa escola indígena Nele não faltam “brilhantes” proposições do tipo: A educação escolar indígena deve ser “específica e diferenciada”.  A escola indígena deve respeitar a cultura da comunidade  A escola indígena deve resgatar a cultura  A escola indígena deve valorizar a língua indígena Os velhos devem ser levados à escola indígena para transmitir seus conhecimentos

A escola não consegue não ser um aparelho do Estado. Numa leitura do macro-contexto das iniciativas em educação escolar indígena no Brasil, nossa percepção é de que o ideal de uma “educação indígena” no formato escolar, ou de uma escola no formato “indígena”, é efetivamente uma impossibilidade. A escola não consegue não ser um aparelho do Estado. A começar por um elemento chave de grande parte dos problemas encontrados nas escolas indígenas: o assalariamento, tanto de professores como de funcionários diversos

Introduz-se (ou reforça-se) aí o problema da “seriação”. A escola passa a justificar-se por si mesma: não há mais um projeto claro do que fazer com o ensino, ou de qual ensino é útil e necessário para sustentá-la. No que mais a escola, que se queria “indígena”, faz o papel do Estado? Na exigência da disciplina e do cumprimento dos horários, e na forte prevalência, na maioria delas, da língua portuguesa. Mas também na sua imposição silenciosa, mas decisiva, da seriação que remete a criança indígena à continuidade em escolas da cidade.

Chamo a atenção para duas coisas: 1. o de um processo invertido, que é o da presença da escola induzindo as comunidades à seriação e continuidade escolar [e é bom lembrar que, depois das Diretrizes do MEC de 1993 - e em alguns casos, depois da Resolução 3 do CNE, de 1999 - em muitos Estados se assistiu (em alguns, ainda ocorre) uma pressão forte sobre as comunidades indígenas para formar professores e implantar escolas. 2. a predominância (pelo papel central de consultores, assessores e formadores não-índios) da perspectiva liberal individualista, própria da nossa sociedade, que julga (moralmente) indispensável oferecer a todos (os indivíduos) as mesmas oportunidades, donde não se admitir que a seriação escolar não esteja disponível ou acessível a todas as crianças indígenas.

Numa típica “visão otimista”, há pouco tempo uma antropóloga (do RJ) atuante em um programa de formação de professores índios sugeriu, numa entrevista, que a escola na comunidade indígena representa, entre outras coisas, lugar de “aquisição de instrumentos de análise” do mundo dos não-índios (a sociedade dominante). Quantos de nós conhece escolas que cumprem esse papel, indígenas ou não? E por que motivos uma comunidade indígena precisaria de escola para saber ou transmitir isso?

wilmar@portalkaingang.org wdangelis@gmail.com