Instituto de Física Universidade de São Paulo Ensino da História e Filosofia da Física Clayton Garcia da Silva Paulo Silva Elementos e Estratégia para o Ensino de Física Prof. Dr.ª Cristina Leite
INTRODUÇÃO Um tema que ainda é fruto de discussões em Física é o Ensino da História e Filosofia da Física. É importante para o estudante da Física? “É importante para o Físico?” Ajuda na compreensão da Ciência? Atrapalha, sobrecarregando o conteúdo?
CONTRA Opiniões contrárias argumentam que o ensino desses temas sobrecarregariam o conteúdo da ciência física, que já é demasiado complexa, e que os mesmos são desnecessários para o entendimento da Natureza, em virtude de tal conhecimento ser visto como independente da cultura e da história, pois a Natureza não tem porque privilegiar uma ou outra sociedade, um ou outro(a) pesquisador(a).
A FAVOR Por outro lado, há quem afirme que o processo de formalismo físico é dependente, tanto das condições em que estava sendo elaborado, como da história anterior à construção desse formalismo e que permitiram chegar até ele. Essa perspectiva é ilustrada por uma “famosa” frase de Newton: "Se enxerguei mais longe, foi porque estava sobre o ombro de gigantes"
PRÓS Além disso, há quem defenda que o conhecimento histórico, de como cada teoria é gerada, facilita o entendimento da mesma, proporcionando os elementos construtivos da teoria e uma forma de pensar como chegar até ela, bem como mostra que a Física deriva de passos sucessivos, e não de um pensamento único e revolucionário, colocando-a a mercê de todo(a) aquele que tiver empenho em trilhar tal caminho.
Como decidir? Muitos trabalhos foram escritos, muitas reuniões foram feitas, e esse dilema ainda não foi resolvido, pelo menos, não indubitavelmente. Para o escopo desse nosso assunto, recorramos ao que sugere os Parâmetros Curriculares Nacionais.
PCN+ * “Compreender a construção do conhecimento físico como um processo histórico, em estreita relação com as condições sociais, políticas e econômicas de uma determinada época.” * “Compreender o desenvolvimento histórico dos modelos físicos para dimensionar corretamente os modelos atuais, sem dogmatismo ou certezas definitivas.” * “Compreender o desenvolvimento histórico da tecnologia, nos mais diversos campos, e suas conseqüências para o cotidiano e as relações sociais de cada época, identificando como seus avanços foram modificando as condições de vida e criando novas necessidades.” * “Perceber o papel desempenhado pelo conhecimento físico no desenvolvimento da tecnologia e a complexa relação entre ciência e tecnologia ao longo da história.” * “Identificar diferentes formas pelas quais os modelos explicativos do Universo influenciaram a cultura e a vida humana ao longo da história da humanidade e vice-versa.”
MOTIVAÇÕES A existência da História e Filosofia da Ciência nos currículos escolares é defendida por A. I. Vannuchi, a qual aponta duas concepções diferentes em que pode ser abordada: a) “enquanto elementos auxiliares à compreensão conceitual das teorias científicas”; b) “enquanto elementos constituintes da Ciência – a compreensão bem fundamentada da Ciência sendo, necessariamente, histórica”.
MOTIVAÇÕES Essa mesma autora previne que desconsiderar os conteúdos histórico e filosóficos pode acarretar numa percepção das atividades científicas como distante da realidade social e do alcance das ações cotidianas, e vice-versa, bem como constituída de verdades absolutas, sem possibilidade de mudanças. “Ignorar as dimensões histórica e filosófica da Ciência favorece visão distorcida da atividade científica,… a Ciência como composta de verdades incontestáveis.” Vannuchi, Andréa Infantosi – História e Filosofia da Ciência;.pag. 10.
MOTIVAÇÕES No mesmo caminho, M. R. Matthews conclui que o ensino da História e Filosofia aproximaria Ciência e Sociedade, enriquecendo as aulas e contribuindo para um maior entendimento das matérias, superando a prática habitual de decorar fórmulas sem uma reflexão adequada de seus significados, bem como aperfeiçoar a formação do professor.
MOTIVAÇÕES M. R. Robilotta salientou as dificuldades de ensinar Física, particularmente no Brasil, e destaca que as descobertas científicas estão distribuídas no espaço e ocorrerem, muitas vezes, ao mesmo tempo; enquanto as atividades educacionais são distribuídas no tempo e ocorrem de forma sequenciada. “... a Física é um processo onde o confronto de ideias está sempre presente. É nesse sentido que o estudo da história da Física e da sua epistemologia são mais do que prementes; no estudo combinado dessas duas disciplinas repousa a possibilidade de se compreender o processo de construção do conhecimento.” Robilotta, M. R. Robilotta – O Cinza, o Branco e o Preto; pag. 17.
DUAS PERSPECTIVAS O ensino da História da Ciência através de uma disciplina própria, na qual poderia ser elaborado os eventos conhecidos pela História, permitindo um avanço gradual e contínuo pelos aspectos e mudanças ocorridas durante a evolução da Física. Nesse contexto, dar-se-ia a interação entre a História e a Física através da elaboração de currículos interligados, onde um complementaria o outro. Outra possibilidade é a inserção do ensino da História da Ciência no currículo do ensino de Física, de forma direta, entremeando os eventos históricos com o ensino dos métodos da Física. Assim, os conteúdos de cada área da Física conteriam os passos históricos que levaram às novas descobertas.
ANÁLISE Pelo próprio caráter distinto entre fazer ciência e estudar ciência, tornar-se importante o ensino da História da ciência, destacando como as descobertas e sua divulgação permite a outros, em demais lugares e tempos, usufruirem delas para o bem-estar ou para futuras descobertas.
ANÁLISE A patente negligência no ensino de Filosofia da Física leva a ideia de que a mesma é tratada durante o ensino de Física como algo que deriva naturalmente durante o aprendizado de Física ou que tal filosofia é irrelevante para o pensamento físico, e cada indivíduo pode formular suas próprias fundamentações.
CONCLUSÕES Os motivos para o ensino da História e Filosofia da Ciências, bem como da Física, foram tratadas e elaboradas por diversos(as) autores(as) justificando boas razões para a existência desse conteúdo, inclusive na forma de uma disciplina própria.
CONCLUSÕES Apesar das consequências negativas do dilatamento dos conteúdos do ensino de Física, provocado pela contextualização histórica e integração filosófica, essa perspectiva permitiria uma compreensão mais ampla e eficaz da Física, bem como uma visão de sua utilidade social e cotidiana.
REFERÊNCIAS PCN+ do Ensino Médio - Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasil. VANNUCCHI, Andréa Infantosi – História e Filosofia da Ciência: Da teoria para a sala de aula. Dissertação de Mestrado. Instituto de Física e Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. 1996. MATTHEWS Michael R. - História, Filosofia e Ensino de Ciências: A tendência atual de reaproximação. Cad. Cat. Ens. Fís., v. 12, n. 3: p. 164-214, dez. 1995. ROBILOTTA, M. R. Robilotta – O Cinza, o Branco e o Preto – Da relevância da história da ciência no ensino da física. Cad. Cat. Ens. Fís., Florianópolis, 5 (Número Especial): p. 7-22, jun. 1988.
AGRADECIMENTOS À prof. Dr.ª Cristina Leite “antecipadamente pela paciência e tolerância na avaliação deste trabalho.” Às monitoras Fernanda Marchi e Fernanda Sotto “mas só pelas correções favoráveis das listas.” Aos colegas “antecipadamente pelas calorosos e mui sinceros aplausos.”