O Sistema Agrossilvicultural do Cacau-Cabruca

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Transcrição da apresentação:

O Sistema Agrossilvicultural do Cacau-Cabruca Peter May; Rui da Rocha Adriane Mendes Elisabete Marques Lívia Almeida Priscila Matias

Família: Esterculiáceas Estimulante Cacauicultura Família: Esterculiáceas Estimulante Matéria prima do chocolate, suco, geléia, rações animais, fertilizante orgânico, etc.

Natural da Amazônia Introduzida na Bahia no séc. XVIII Séc. XIX – Ilhéus Desenvolvimento X Dificuldade de acesso 1860 – variedade forasteiro (maior abrangência) 1890 – cultivo em escala comercial, obras de infra-estrutura

Sistema antigo (+ de 200 anos) Poucos estão sob proteção estrita Sistema em consórcio com matas nativas: Cacau-Cabruca (mantém diversidade?) Sistema antigo (+ de 200 anos) Poucos estão sob proteção estrita Mais resistentes Menos insumos Produtor de cacau mostra a diversidade de espécies no seu cultivo de cacau-cabruca

Até 1990 – zona cacaueira com 200 km, 600 mil hectares, distribuídos entre 25 mil agricultores 1957- Ceplac adotou o “derruba total” - substituiu os cacauais antigos pela “monocultura”, em combinação com leguminosas e com uso elevado e regular de fertilizante e agrotóxicos – liberação de credito Atualmente: pesquisa, genética, combate a vassoura de bruxa, fitossanidade, fisiologia vegetal, recursos ambientais, tecnologia de cultivo, solo e nutrição de plantas, etc...

Mata Atlântica = Diversidade (árvores, pássaros e borboletas) Desmatamento = pouca água, sedimentação dos rios e lagos, redução da infiltração, secas, inundações, falta dos produtos florestais 1959 a 1985 – maior expansão agropecuária (Ceplac e Procacau) Procacau: expansão do cultivo (300 mil hectares, aumento da produtividade dos 400 mil há através de linhas de credito)... na verdade (215 mil há de novos plantios 15 mil há renovados)

1985 - restrição de capital = restrição no desmatamento Ceplac (Comissão executiva do plano da lavoura cacaueira): pesquisa, extensão rural e reforma agrícola 1985 - restrição de capital = restrição no desmatamento Produtores vulneráveis (1985) – clima, preço e crédito 1985 – crise do cacau – perda pra Ásia – desemprego no sul da Bahia (250 mil), assédio aos recursos florestais e conversão em pastagens 1989 - 1990 – penúria geral – “vassoura de bruxa” Crinipellis perniciosus – fungo alastrante, risco de perda: 90% Combate: poda completa e queima

Hipótese: O cacau-cabruca foi responsável pelo freio no desmatamento no sul da Bahia. Quais os fatores evolutivos e as condições atuais de ameaça a sua sobrevivência?

O cacau-cabruca é um tipo de sistema agroflorestal (SAF) O Sistema Agrossilvicultural do Cacau-Cabruca O cacau-cabruca é um tipo de sistema agroflorestal (SAF) Conceito de Sistemas Agroflorestais Características das SAFs: Envolve mais de uma espécie consórcio Possui pelo menos 1 espécie florestal perene Fornece três produtos à sociedade: Produtos econômicos – alimentos, madeira, fibras vegetais... Produtos ambientais: conservação do solo e recursos hídricos, mantém microclima, recuperação de áreas degradadas Produtos sociais: opção estratégica para produtores familiares

Agrossilvicultural Sistema Cacau-Cabruca Tipos de Sistemas Agroflorestais: Agrossilvicultural Sistema Cacau-Cabruca Silvipastoril Agrossilvipastoril Agrossilvipastoril Agrossilvicultura Silvipastoril

Benefícios ambientais do cacau-cabruca Ajudam a manter populações de espécies vegetais nativas Corredor ecológico para animais e propágulos Zona Tampão de fragmentos florestais Regeneração natural das cabrucas

Remanescente florestal Mata Atlântica da Zona Cacaueira da Bahia UF Área de DMA Remanescente florestal % de DMA Bahia 20.131.478 2.623.241 13,03% Zona Cacaueira 4.761.900 1.161.000 24,38% Uso do solo Área (ha) % da área total Cacau-cabruca 330 mil 28,42 Cacau derrubada total 220 mil 18,94 Matas remanescentes 611 mil 52,62 Subtotal 1.161.000 100 % Outros usos naturais e antrópicos 3.600.900 - Total 4. 761.900 Fonte: SOS Mata Atlântica/INPE 1995-2000

Desbravadores de áreas de cultivo Escolha das áreas Desenvolvimento do Sistema Cacau-Cabruca Desbravadores de áreas de cultivo Escolha das áreas Raleamento da floresta Anelamento Cacau é semeado em covas na floresta Cultiva-se cerca de 700 pés por hectare Planta-se 3 sementes por cova São feitas podas regulares

CEPLAC elaborou o sistema de derruba total, recomendando: Cultivo tradicional do cacau foi tido como indesejável – (Plantios antigos ↓ produtividade). Estudo 400 mil ha cultivados em 1969, 60% estariam com + de 50 anos de idade. CEPLAC elaborou o sistema de derruba total, recomendando: - Plantio de mil pés/há; - Sombreamento inicial (Banana – Musa spp); - Sombreamento na fase produtiva (Leguminosa, Erytrina fusca)

Custo de implantação Destoca é minimizada Vantagens e desvantagens comparativas dos sistemas Custos inicias Custo de implantação com derrubada total é maior Destoca é minimizada Insumos e manutenção Derrubada total é mais dependente de insumos Cabruca: aporte natural de matéria orgânica e maior diversidade de inimigos naturais caso da formiga caçarema

Diferença pouco significativa de rendimento por árvore Dados do início do século não fornecem resultados comparáveis Risco Produtores evitam tomar crédito aversão ao risco Estrutura fundiária Cacau-cabruca domina em grandes propriedades da região Pequenos agricultores cultivam mais intensamente a terra

Função de Zona Tampão ou Buffer Zone "Áreas periféricas a parques e reservas sobre as quais têm sido estabelecidas restrições sobre seu uso, para assegurar uma camada adicional de proteção à reserva e para compensar comunidades locais pela perda de acesso às áreas de conservação estritas" (UICN) Sistema Cabruca na Bahia -> Cultura exótica + manutenção da floresta à espécie de alto valor econômico e adaptável à região O sistema cacau-cabruca serve como "tampão" para áreas preservadas de Mata Atlântica, mesmo nas áreas fora das oficialmente delimitadas como protegidas

Capacidade de regeneração Função Conservacionista da Zona Tampão: Capacidade de regeneração Manutenção de resquícios do ecossistema original Capacidade de reversão à floresta original Corredor ecológico de aves, mamíferos, etc. Benefícios Ambientais: Minimização das mudanças climáticas e proteção das culturas Manutenção da fertilidade e estrutura do solo Prevenção à erosão Habitat de animais

Estabilização do sistema de produção Continuação do extrativismo Benefícios Sociais: Estabilização do sistema de produção Continuação do extrativismo Seguro econômico com a armazenagem de madeira comercializável Baixas cíclicas no preço do cacau  Posteriormente absorvido pelo sistema cacau-cabruca Baixa no preço de mercado do cacauAbandono das roças Volta da alta no preço de mercado do cacau Poda na mata e conseqüente revitalização do cacaueiro Derruba Total: altos investimentos limitam a opção de abandono e regeneração natural

Baixo custo de implantação Corte somente parcial da floresta original Vantagens Comparativas do sistema cacau-cabruca com o sistema derruba total Baixo custo de implantação Corte somente parcial da floresta original Larga capacidade de sobrevivência do cacaueiro (mesmo com anos de abandono) Larga capacidade de reconstituição à área de Mata Atlântica

Ceplac e esforços contrários Atualmente flexibilizou-se devido: Vantagens contribuíram para manter cacau-cabruca como sistema preferido (65 % dos cultivos) Ceplac e esforços contrários Atualmente flexibilizou-se devido: Racionamento de capital creditício Baixos preços do produto no mercado Caracterização do sistema cacau-cabruca como ecologicamente desejável

Contribuiu para crise: A Sustentabilidade do Sistema no Sul da Bahia Persistência do sistema cacau-cabruca: Contribuiu para evolução da estrutura e funcionamento da atividade cacaueira Contribuiu para crise: Abandono de cultura, propiciando a disseminação da Crinipellis perniciosus Horizontalização da produção

Maior variedade de produtos a partir de uma mesma unidade de área Vantagens da Agrossilvicultura Maior variedade de produtos a partir de uma mesma unidade de área Diversidade de produtos cultivados diminui riscos climáticos e de mercado Mão de obra mais bem distribuída no decorrer do tempo Ciclagem de nutrientes mais eficiente Alternativa para áreas já alteradas pelo homem Sistema permanente aumenta as chances de fixação do homem no campo

Ciclos geoquímicos próximos ao da floresta Alto potencial para seqüestro de carbono Manutenção de uma boa estrutura física e biológica do solo Manutenção das condições microclimáticas favoráveis, contribuindo para a regularidade das chuvas Proteção de rios e cursos d’água de assoreamentos Diversificação de cultivos diminui a incidência de pragas Pode ser utilizado como zona tampão e corredor ecológico

Exigência de técnicas de manejo mais complexas Limitantes para o sucesso da Agrossilvicultura Exigência de técnicas de manejo mais complexas Maior investimento financeiro em espécies perenes Menor quantidade de cada produto Organização comunitária é desejável Necessidade de treinamento, extensão e assistência técnica constante

Legislação ambiental só no papel Medidas para proteção das matas nativas Legislação ambiental só no papel Conservação strictu senso condenado pelos autores Implementação de sistemas agrossilviculturais o mais desejável Resiliência do Cacau Cabruca Pode ser deixado sem tratos culturais (pode mesmo?) Recupera a produtividade logo após o raleamento Recursos são liberados para culturas de subsistência

Permite a sobrevivência de espécies endêmicas Ponto de vista ambiental Permite a sobrevivência de espécies endêmicas Facilita a regeneração natural quando abandonadas Porém.... Declínio da economia do cacau durante os anos 90 Preços baixos + vassoura de bruxa + concorrência + direitos trabalhistas

Resultado: Mais de 30 mil hectares de cacau foram eliminados entre 1992 e 1996 (CEPLAC, 1998) Alternativas mais rentáveis estão atraindo o interesse dos produtores da região Pecuária extensiva Lavouras anuais problemática dos sem-terra Plantios intensivos e homogêneos Proprietários endividados de cacau, Banco do Brasil e INCRA: acordo indecente Conclusão: economia do cacau está mal das pernas, e sua sustentabilidade econômica para o futuro é bastante questionável Logo, seria sensato confiar a conservação da Mata Atlântica no futuro de um sistema em franca decadência????

Salvar o cacau, com ou sem sombreamento, não necessariamente salva a biodiversidade da região Mata Atlântica da Bahia como importante centro de endemismo e biodiversidade Sistema cabruca não garante a sobrevivência de grandes mamíferos (pressão de caça) e muitas aves Árvores velhas não são repostas cabrucas velhas possuem menor heterogeneidade vegetal

O que fazer, então? Garantir os 20% da reserva legal Priorizar corredores ligando esses fragmentos com fragmentos maiores Problemas do cacau e problemas de biodiversidade não podem ser resolvidos com os mesmos instrumentos Cacau orgânico e similares: benefícios para os produtores Salvar a biodiversidade em propriedades individuais não resolve o problema Planejamento das comunidades rurais no sentido de incentivar a manutenção de fragmentos

Exemplos de sucesso no Acre e Pará Lições extraídas Sistemas agroflorestais: uma solução para problemas sócio-ambientais em ecossistemas tropicais Recente apoio dos órgãos de pesquisa oficiais Embrapa Amazônia Ocidental Exemplos de sucesso no Acre e Pará

Alguns produtores de sistemas agrossilviculturais vem cogitando a obtenção do selo verde Sistema cacau-cabruca ameaçado atualmente sua sobrevivência depende de ações em conjunto entre instituições agrícolas e produtores Novos sistemas de produção ainda não foram avaliados quanto ao impacto econômico Desenvolvimento de sistemas florestais na região deve contar com o apoio de instituições oficiais de pesquisa agrícola e manejo florestal