“Os princípios educativos que caracterizam a escola única em Gramsci.” Prof. José Kuiava - UNIOESTE e-mail: jose.kuiava@gmail.com
O princípio da coerção interna da escola Gramsci nega a coerção externa da escola, mas relaciona o princípio pedagógico com o princípio regulador das relações sociais no mundo do trabalho. Gramsci escreve que “o princípio da coerção, no mundo do trabalho, era justo, mas a forma que havia assumido era errada; o modelo militar tinha-se convertida em um procedimento funesto – os exércitos do trabalho falharam”, em referência de Manacorda. Entretanto, Gramsci elogia o princípio da coerção utilizada pelo americanismo: Na América, a racionalização e o proibicionismo estão indubitavelmente interligados; as enquetes dos industriais sobre a vida particular dos operários, o serviço de inspeção criado por alguns industriais para controlar a “moralidade” dos operários constituem uma necessidade do novo método de trabalho (GRAMSCI, apud MANACORDA, 1990, p.166-167).
O princípio da espontaneidade não no espontaneísmo rousseauniano, “o que se traduz no abandono do jovem aos influxos casuais do ambiente, na renúncia a educar”, mas num novo espontaneísmo, que significa “uma nova relação entre espontaneidade e autoridade.
Princípio da criatividade não se trata de uma escola de `inventores e descobridores', “mas de uma escola em que a recepção (aprendizagem) ocorre `por meio de um esforço espontâneo e autônomo do aluno', enquanto o professor exerce uma função de controle e de orientação amigável, como ocorre ou deveria ocorrer na universidade”, aponta Manacorda. “Sob a vigilância, mas não sob o controle visível do professor”, escreve Gramsci.
O princípio da unidade da teoria com a prática este princípio sem dúvida se apresenta entre os mais profundos, significativos e complexos para a escola. Esta unidade se expressa da seguinte relação: quando a prática se torna teórica e quando a teoria se torna prática. Parece mais um trocadilho que um princípio. Sem dúvida, este é um dos maiores, se não o maior e mais complexo dos princípios pedagógicos da escola, no passado e no presente.
Princípio da autodisciplina intelectual a escola é um espaço, uma instituição social, um “aparelho ideológico” do Estado e da sociedade civil, de formação de intelectuais, os da escola clássica como intelectuais tradicionais; os da escola única, unitária e criativa como intelectuais do novo tipo, os intelectuais orgânicos, os intelectuais modernos (o técnico de fábrica). A superação da disciplina imposta e controladora exterior por uma autodisciplina intelectual teoricamente ilimitada.
Princípio da autonomia moral a necessidade de romper com o dogmatismo clássico – jesuítico- e com os valores contidos e expressos no folclore, restabelecendo um entrelaçamento de uma nova cultura geral humanística com a ciência e o trabalho.
Poderíamos ainda, apenas a título de menção sem a necessária conceituação, apontar outros princípios pedagógicos tais como o trabalho como princípio educativo; o princípio da crítica e auto-crítica; o princípio da unidade do trabalho e a ciência; o princípio da unidade do trabalho intelectual com o trabalho operacional/industrial/profissional; o princípio da democracia; o princípio da unidade permanente de pesquisa e outros mais. São temas e conceitos complexos e profundos, que merecem muita leitura, exame e reflexão. Como bem diriam os italianos: cose a fare. Para todos nós da educação pública, é claro.