O teste de Fisher não revelou diferenças significativas entre os lados de retorno à origem (8 participantes viraram/retornaram à origem pelo lado esquerdo e 7 viraram/retornaram à origem pelo lado direito) ( p≥0,05). É crença comum, e amplamente divulgada, entre especialistas em vendas e designers que, via de regra, os clientes tendem a se voltar para a direita ao entrar numa loja. Consequentemente, o maior foco de atuação de uma loja deve estar posicionado ao lado direito da entrada principal (Groeppel-Klein & Bartmann, 2008). Embora não corroborada por dados empíricos, esta crença tem gerado várias hipóteses para explicar esse comportamento. De acordo com uma dessas, este fenômeno se explica simplesmente pelo fato de que a maioria dos consumidores é destra (Scharine & McBeath, 2002). Objetivou-se investigar se o índice de preferência lateral, determinado por inventário, influencia a preferência direcional em uma tarefa de navegação espacial em um labirinto em T simples. RESULTADOS DISCUSSÃO Os resultados mostram que a lateralidade dos participantes não influenciou o comportamento de virar, o que corrobora com dados encontrados em outros estudos (Mohr et al., 2003; Mohr et al., 2004) e discordam daqueles obtidos por Scharin & McBeath (2002). Porém, devido o tamanho e a assimetria da amostra (i.e., menor número de indivíduos canhotos), esta relação não pode ser considerada conclusiva. A tendência observada entre os participantes destros de retornarem à origem pelo lado oposto da sua preferência lateral sugere a hipótese que o controle visual e a atividade dopaminérgica hemisférica poderiam afetar o comportamento de virar (Mohr et al.,2003; Mohr et al., 2004). Ademais, a tarefa realizada requer o envolvimento do corpo como um todo, assim sendo, há participação de ambos os hemisférios cerebrais. Esse fato poderia justificar a inconsistência entre a lateralidade observada na tarefa e a aquela avaliada pelo inventário. Tais resultados sugerem que os parâmetros experimentais, tais como, o controle viso-espacial e as demandas da tarefa determinam o comportamento espacial. Conclui-se que o desempenho dos participantes é específico à tarefa e não pode ser predito a partir da sua preferência lateral. Participantes: 15 usuários de uma biblioteca universitária (6 homens e 9 mulheres), com idades entre 17 e 53 anos e ingênuos ao propósito da pesquisa. Espaço experimental: Biblioteca Central da Universidade de São Paulo campus Ribeirão Preto Procedimentos: Individualmente, cada participante foi orientado a percorrer um percurso em forma de T, formado por um conjunto de estantes de uma biblioteca, e ao final do percurso virar e retornar ao ponto inicial da caminhada (Figura 1). O lado espontaneamente escolhido pelo sujeito era registrado pelo pesquisador. Após a realização da tarefa foi aplicado o Inventário de Preferência Lateral Global-IPLAG (Okazaki, Marim & Lafasse, 2010) para determinar os índices da preferência lateral global (PLAG) e de coerência (CQEC). Figura 1. Figura esquemática da tarefa de labirinto em T utilizado no estudo Análise: Foram computados o lado de retorno à origem durante a tarefa (esquerdo e direito) e calculadas a classificação qualitativa da preferência lateral (PFQ) e de coerência (CQEC) a partir das respostas do inventário. Para análise dos dados foi utilizado o teste de Fisher. Foi fixado um nível de significância de 5%. Referências Groeppel-Klein, A., & Bartmann, B. (2008). Anti-clockwise or clockwise? The impact of store layout on the process of orientation in a discount store.European Advances in Consumer Research, 8, Marim, E. D. A., Lafasse, R., & Okazaki, V. H. (2011). Inventário de preferência lateral global (IPLAG). Brazilian Journal of Motor Behavior, 6(3). Mohr, C., Brugger, P., Bracha, H. S., Landis, T., & Viaud-Delmon, I. (2004). Human side preferences in three different whole- body movement tasks. Behavioural brain research, 151(1), Mohr, C., Landis, T., Bracha, H. S., & Brugger, P. (2003). Opposite turning behavior in right-handers and non-right-handers suggests a link between handedness and cerebral dopamine asymmetries. Behavioral neuroscience, 117(6), Scharine, A. A., & McBeath, M. K. (2002). Right-handers and Americans favor turning to the right. Human Factors: The Journal of the Human Factors and Ergonomics Society, 44(2), A lateralidade não influencia a preferência direcional no comportamento espacial Ana Livia M. Pacciulio*, Ana Luiza M. dos Santos*, Isabella D. Martins*, Lígia B. Bueno*, Laisa F. M. Ramazzotto*, Patricia Consolo** & Sergio S. Fukusima Laboratório de Percepção e Psicofísica, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP INTRODUÇÃO OBJETIVOS MÉTODO Apoio financeiro : de contato: Tabela 1. Dados dos participantes do estudo em função o lado de retorno à origem durante a tarefa (esquerdo e direito), da classificação qualitativa da preferencia lateral (PFQ) e da classificação qualitativa dos escores de coerência (CQEC) a partir das respostas do inventário. TAREFA/LADOPFQCQEC EsquerdoDestro moderadoExcelente EsquerdoAmbidestro ou sem preferênciaExcelente DireitoAmbidestro ou sem preferênciaExcelente EsquerdoDestro moderadoMuito bom EsquerdoDestro moderadoExcelente EsquerdoDestro moderadoExcelente DireitoAmbidestro ou sem preferênciaExcelente DireitoAmbidestro ou sem preferênciaExcelente DireitoDestro moderadoExcelente EsquerdoAmbidestro ou sem preferênciaExcelente DireitoAmbidestro ou sem preferênciaExcelente DireitoCanhoto moderadoBom[L2] EsquerdoAmbidestro ou sem preferênciaExcelente EsquerdoCanhoto moderadoMuito bom DireitoDestro moderadoMuito bom