O CORPO NO SINTOMA HISTÉRICO Denizye Aleksandra Zacharias
Estudos sobre a histeria O nascimento da psicanálise: a conversão é um sintoma que se inscreve no nível do corpo, como decifrável pelo saber do Inconsciente. 1896: conversão histérica como o efeito de um processo de defesa diante de um excedente sexual incompatível: “salto do psiquismo à inervação somática”
A conversão histérica 1910: “A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão” , a conversão histérica testemunha a interferência da significação da pulsão na vida da representação.
Fracasso do recalcamento Uma representação deveria ter sido recalcada e não foi; o sintoma intervém, então, compensando de algum modo o fracasso do recalque. No exemplo do “não ver” atuado na cegueira histérica; por um lado, seu objetivo é da ordem de uma representação sexual, portanto de um símbolo: por outro, trata-se de escotomizar certas coisa que ferem a retina.
A conversão apenas em aparência escapa à exigência pulsional A conversão apenas em aparência escapa à exigência pulsional. Ela é, na realidade, a colocação em ato de uma satisfação pulsional clandestina que se opera apesar dos ideais do eu. Isso está ligado ao fracasso do recalcamento que, longe de refrear a atividade pulsional, somente a favorece, repelindo-a cada vez mais para o Ics, onde encontra todas as condições para persistir e proliferar.
Conceito de Pulsão No campo da sexualidade, Freud se depara com sua natureza perversa-polimorfa, aberrante do ponto de vista do que seria o ideal de reprodução da espécie, uma vez que a pulsão, parcial, não obedece a tal finalidade, não agarra o objeto total que por fim saciaria o apetite da satisfação
Tem por objetivo (Ziel) a pura satisfação obtida no percurso de caráter circular, que parte de uma zona erógena corporal (Quelle), dirige-se ao objeto (Object) para contorna-lo e retornar à zona erógena, onde reiniciará o trajeto, uma vez que a pressão (Drang) da pulsão, sua exigência de satisfação, é constante, não se dissipa com nenhum objeto, mas se satisfaz paradoxalmente, não se satisfazendo com objeto algum.
O objeto é finalmente um oco, um vazio que pode ser ocupado por qualquer um: “é aquele” diz Freud,” através do qual a pulsão pode atingir o seu alvo. É o que há de mais variável na pulsão, não há nada que lhe seja originalmente ligado, mas algo que lhe é subordinado apenas em consequência de sua apropriação para seu apaziguamento”.(Freud, p.2042)
Qualquer órgão dos sentidos tem dupla função, a de manter a vida e a de desempenhar um papel erógeno; o órgão serve às pulsões do eu e às pulsões sexuais: “não é fácil servir a dois senhores ao mesmo tempo”. O órgão serve às pulsões do eu e às pulsões sexuais. O voyeur histérico fica cego de tanto olhar, a cegueira demonstra o gozo escópico.
As pulsões “A inegável oposição entre as pulsões que servem à sexualidade, à obtenção do prazer sexual, e as outras que tem por fim a autoconservação do indivíduo, as pulsões do ego, é de importância particular para nossa tentativa de explicação”.(Freud, 1905,p.199)
Conclusão Na análise desse sintoma de conversão Freud encontra a oposição entre a pulsão a serviço de uma função sexual e a pulsão a serviço de uma função puramente orgânica, e pergunta: Como esta oposição expressa a conversão? Pela anexão, são os mesmos sistemas orgânicos que estão à disposição das pulsões sexuais e das pulsões do ego.
“Se, por exemplo, a posse comum da zona labial pelas duas funções é a razão por que a satisfação sexual surge durante a ingestão de alimentos, então, o mesmo fator nos possibilita também entender por que há distúrbio de nutrição se as funções erógenas da zona comum forem perturbadas” (Freud, 1905-1972,212)
Na conversão histérica, o conflito entre o orgânico e o sexual, entre a necessidade e o desejo se resolve na invasão completa da função orgânica pela sexual.
Zonas histerógenas e zonas erógenas
Zonas histerógenas e zonas erógenas As zonas corporais onde o sintoma da conversão histérica vem se fixar. Para ambas, o critério de eleição de tal ou qual zona é a passagem do registro da necessidade para o do desejo, esta aptidão de um local do corpo para servir antes a uma função erótica que à satisfação de uma necessidade.
Ambas as zonas são sistematicamente inscritas sobre a superfície do corpo, mesmo se a queixa da histérica parece apontar um órgão ou local interno ao corpo, é sempre uma geografia imaginária.
Narcisismo O narcisismo implica numa divisão da própria pulsão sexual: 2 modos de satisfação da libido 2 modos de escolha de objeto Libido objetal: apoio, ou seja, resulta da transmutação da função orgânica da necessidade em função sexual do desejo.
Libido do eu: objeto narcísico por onde a pulsão volta para o eu, para a própria imagem do sujeito. O ponto crucial desta teoria não é a divisão, mas a ligação indissolúvel que estabelece entre libido objetal e libido do eu. Freud conclui que em última instancia a libido do eu envolve a libido do objeto de tal modo que o sujeito só pode visar o objeto sexual através de sua própria imagem.