A arte de cuidar.

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Transcrição da apresentação:

A arte de cuidar

Na arte de cuidar, alguns princípios básicos:

a) Ter sempre presente a visão integral do ser humano em suas diferentes dimensões e relações; estar atento às circunstâncias pessoais de cada um que são o solo sobre o qual se vai construir a identidade pessoal.

b) O cuidado deve levar em consideração a situação particular de cada um, mas, ao mesmo tempo, estar atento à inserção comunitária do sujeito a ser cuidado. A arte do cuidar é tanto um processo de singularização quanto uma reconfiguração comunitária e social da pessoa vulnerável.

c) Cuidar é uma ação esperançosa que abre perspectivas de futuro para quem está sem horizonte. Desperta a atitude de esperança, porque faz olhar para frente e a pensar em novas possibilidades. Anima, suscitando expectativas.

Mas, por outro lado, precisa ajudar também a olhar para o passado, interpretar as experiências dolorosas, voltar às suas fontes, aceitá-las, tomar posse delas... O cuidado deve ter um olhar esperançoso para frente e um olhar interpretador para trás.

d) O cuidado é antes de mais nada um ato de beneficência d) O cuidado é antes de mais nada um ato de beneficência. Cuidar é querer bem e proporcionar o bem, afastando toda ameaça de males e fazendo acontecer todo bem-estar possível ao outro. A arte do cuidado, mesmo tendo a intenção de ajudar e produzir o bem-estar, não deve ser uma ação paternalista. A aceitação do cuidado deve ser fruto de uma decisão livre.

Assim, cuidar de alguém é também cuidar da sua liberdade, ajudando a recobrar a autonomia e independência possíveis. Reconstruir a autonomia é auxiliar a recuperar o centro pessoal, a responsabilidade e o poder de decisão.

e) A arte do cuidar exige tanto responsabilizar-se por quem é cuidado, quanto torná-lo responsável pela sua situação. Responsabilizar-se é caminhar com o outro, partilhando as suas preocupações, expectativas, angústias e medos.

Cuidar é ajudar a levar a carga da vida de alguém, aliviando o seu peso. Mas não se trata de ficar no seu lugar, assumindo o problema.

f) Parece, à primeira vista, que quem cuida é ativo e quem é cuidado é passivo. No cuidado precisa existir uma dialética entre passividade e atividade.

Em certos momentos, quem cuida deve ser passivo e deixar quem é cuidado ser ativo. A pura passividade ou a pura atividade de um ou outro pólo da arte do cuidado é prejudicial à ação de cuidar

g) A arte do cuidado é um exercício de proximidade: ela exige disponibilidade, acolhida, preocupação pelo outro, acercamento à sua fragilidade. A proximidade não é estática, mas dinâmica. Consiste num movimento de aproximar-se, acercar-se, romper barreiras... A superação da distância espacial, afetiva e ética é fundamental para a ação de cuidado.

Não se pode cuidar de alguém à distância Não se pode cuidar de alguém à distância. Mas, por outro lado, a proximidade não pode significar dependência afetiva que obscureça a identidade pessoal.

Quem cuida não pode estar tão próximo que tome o lugar do outro e responda por ele. O cuidado exige também o distanciamento que possibilita o assumir-se e tomar decisões.

h) Cuidar pressupõe tempo de dedicação e uma continuidade temporal. Não pode ser um ato instantâneo e apressado. Exige paciência, lentidão e gratuidade temporal. Quem cuida não pode estar medindo e contando as horas. O ritmo temporal de quem cuida deve estar adaptado ao ritmo somático, psíquico e existencial de quem é cuidado.

Cuidar exige também um espaço idôneo; não pode acontecer em lugar estranho e anônimo, muito menos num lugar caótico e ruidoso. Exige cenários habituais e conhecidos. O próprio lar é o lugar mais adequado.

Situações de fragilidade devem ser vividas e assumidas em espaços familiares que façam sentir-se em casa. No espaço anônimo, a pessoa vulnerável encontra-se desamparada, exilada e expatriada.

i) Não existe cuidado sem comunicação; no entanto, a pessoal vulnerável fala mais por gestos e olhares do que por palavras. Cuidar é essencialmente escutar e estar atento às necessidades e solicitações de quem necessita ajuda.

j) Na arte de cuidar, a vinculação entre quem cuida e quem é cuidado é fundamental. Ela pode acontecer naturalmente pela empatia, mas nem sempre é espontânea. Nesse caso é necessário encontrar meios que criem laços e fortaleçam vínculos entre os dois.

A simpatia refere-se a esse trabalho de ligação e entrelaçamento pela iniciativa do cuidador que tenta entrar em sintonia com quem quer ajudar. A confiança mútua só é possível no marco da mútua simpatia. É a partir da confiança que se aprende a compartilhar e acolher o semelhante.

A confiança suscita solicitude e ternura. Assim, a arte de cuidar exige técnica, intuição e sensibilidade, mas o exercício da ternura é fundamental para desenvolver atos de cuidado.

“A pessoa vulnerável necessita cuidado regado com afetividade, especialmente ternura, pois deseja ser tratada com delicadeza e sensibilidade” Fonte: Roque Junges – Ética e gênero: o paradigma do cuidado - Convergência no. 348 (dezembro – 2001) Montagem: Renato,SJ.