USO DE FERRAMENTAS SÍNCRONAS PARA ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOCIAL EM SUJEITOS COM AUTISMO: UM ESTUDO DE CASO Liliana M. Passerino liliana@pgie.ufrgs.br FEEVALE/RedEspecial.

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
A AÇÃO TERAPÊUTICA DA PSICOMOTRICIDADE NA CRIANÇA COM TDA/H
Advertisements

NOSSAS QUESTÕES Como se dá a perspectiva transdisciplinar na educação infantil? A escrita é um produto escolar? Porque ainda existe sociedade iletrada?
Janne Yukiko Yoshikawa Oeiras José Claudio Vahl Júnior
Letramento: um tema em três gêneros
O Currículo na Educação Infantil
PSICOLOGIA.
PSICOLOGIA SÓCIO INTERACIONISTA REVISÃO DO CONTEÚDO: PRIMEIRO BIMESTRE
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO I Paulo Neto
A Educação Física na Educação Infantil: a importância do movimentar-se e suas contribuições no desenvolvimento da criança.
A TEORIA SOCIOCULTURAL A TEORIA DO INSUMO- INTERAÇÃO-PRODUÇÃO
2.° Bimestre/ A criança, a Natureza e a Sociedade. 2. Objetivos
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
Síndrome de Asperger HISTÓRICO.
EDUCAÇÃO e seus sentidos
Reunião de Pais e Professoras E. M. ERWIN PRADE 2008
SEMINÁRIO REABILITAÇÃO NOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM
Uma Análise Autopoiética das Comunidades Virtuais
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA CURRÍCULO FUNCIONAL.
ALTERAÇÕES NO PROCESSO DE APRENDER – aula 2
PRINCIPAIS INTERESSES DE VYGOTSKY: o estudo da consciência humana
SISTEMA HISTÓRICO-CULTURAL
LICENCIATURA EM LETRAS-PORTUGUÊS UAB – UNB
Para Refletir... “Os analfabetos do próximo século não são aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusam a aprender, reaprender e voltar.
Vygotsky – Pensamento e linguagem
A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
ARTE E EDUCAÇÃO CURSO: PEDAGOGIA
Aprendizado depende de:
Profa. Reane Franco Goulart
Interface Usuário Máquina
VYGOTSKY TEORIA SOCIOCULTURAL.
COGNITIVISMO E APRENDIZAGEM
ANÁLISE TEXTUAL Aula 1: Língua, linguagem e variação linguística.
Necessidades Educativas Especiais das Crianças com Autismo
PSICOMOTRICIDADE.
Teoria sociointeracionista de Vygotsky
Profª Adriana Ribeiro de Freitas
ANÁLISE TEXTUAL Aula 2 – Adequação vocabular, variação linguística, texto e hipertexto Profª. Fábio Simas.
Jean Piaget Foi professor de Psicologia na Universidade de Genebra de 1929 a 1954 e tornou-se mundialmente reconhecido pela sua revolução epistemológica.
Questões envolvendo autoconceito, auto-estima e gênero
Cooperação na Prática Já sabemos o que é mesmo cooperação?
PLANO DE ENSINO: orientações para elaboração
RELAÇÕES ENTRE AFETIVIDADE E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO FUNDAMENTAL I
Ensino Especializado em TGDs
ARTE NA EDUCAÇÃO BÁSICA (P.52) CONHECIMENTO ESTÉTICO: O conhecimento teorizado sobre a arte, produzido pela arte e as ciências humanas, como a filosofia,
Teorias de Aprendizagem Profa. Cibelle Celestino Silva
Antoni Zabala – Capitulo 1,2 e 3
VALQUÍRIA MARIA JORGE SANCHES
POSITIVISMO Doutrina filosófica de Augusto Comte ( ), segundo a qual a verificação pela experiência é o único critério da verdade. (Mini Dic. Aulete.
PROPOSIÇÕES CURRICULARES DA PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE
Psicologia Escolar Professora: Bárbara Carvalho Ferreira.
DESENVOLVIMENTO INFANTIL CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS
Desenvolvimento e Aprendizagem Motora ( 3. ENCONTRO)
Neuropsicologia e autismo: diagnóstico e propostas de intervenção
Descobrindo Emoções Software Estudo da Teoria da Mente em Autistas
PEI – Programa Educacional Individualizado
TRANSTORNOS DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
Sistemas de Aprendizagem
Curso de Formação Pedagógica para Bacharéis
Períodos no desenvolvimento da terapia centrada na pessoa (HART, 1970)
A HISTÓRIA DO MEU NOME 4ºANO B
TRANSTORNOS MOTORES Transtorno do desenvolvimento da coordenação
EDUKITO :Inclusão Digital de Pessoas com Necessidades Educativas Especiais Liliana M. Passerino Lucila M. Costi Santarosa.
Psicologia da Educação
MOURA et al. A atividade orientadora de ensino: unidade entre ensino e aprendizagem. In: MOURA, M.O. ( org). A atividade pedagógica na teoria histórico-cultural.
COMPREENDENDO SOBRE INCLUSÃO ESCOLAR
Aprendizagem da matemática
Somos todos seres sociais
Matriz de avaliação processual
Aula 1- Parte I Somos todos seres sociais
Transcrição da apresentação:

USO DE FERRAMENTAS SÍNCRONAS PARA ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOCIAL EM SUJEITOS COM AUTISMO: UM ESTUDO DE CASO Liliana M. Passerino liliana@pgie.ufrgs.br FEEVALE/RedEspecial Lucila M. C. Santarosa lucila.santarosa@ufrgs.br NIEE/UFRGS

Autismo e outros Transtornos do Desenvolvimento Os TID envolvem um continuum de síndromes entre as quais encontramos a o Autismo; Os TID manifestam-se em múltiplas áreas, sendo as principais: Cognição; Linguagem; Social.

Autismo Identificado em 1943 por L. Kanner Inicialmente confundido com a esquizofrenia infantil e outras doenças mentais; Schwartzman (1994), conceitua o autismo como uma síndrome definida por alterações presentes a partir dos 3 anos de idade que se caracterizam pela presença de desvios nas relações inter-pessoais e de comportamento

Abordagens do Autismo Ao longo das décadas foi abordado de formas diferenciadas de acordo com a concepção da época: 1943-1963 : considerado um transtorno do tipo emocional; 1963-1983: alteração cognitiva;

Abordagens do Autismo 1983- até nosso dias: transtorno profundo do desenvolvimento, que vai além de transtornos afetivos ou cognitivos e engloba todo o ser em profundidade; Concepção mais integradora e pragmática da Síndrome; Orientada para o desenvolvimento de capacidades das pessoas com autismo;

Autismo - diagnóstico Tanto a CID-10 e o DSM IV determinam os seguintes critérios para diagnóstico: limitadas condutas verbais e comunicativas trato ritualístico de objetos relações sociais anormais comportamento estereotipado Segundo o DSM IV (Diagnostical Statistical Manual of Mental Diseases - version 4): o autismo apresenta pelo menos 6 itens (dos grupos) com pelo menos 2 itens no grupo 1 e um item dos demais Grupo 1: Desajuste qualitativo na Interação Social Grupo 2: Desajuste qualitativo na comunicação Grupo 3: Padrões de comportamento repetitivo ou estereotipado

Origem e Prevalência Origem múltipla, envolvendo fatores biológicos, genéticos, sociais, afetivos e cognitivos Prevalência de 4.5 em cada 10.000 nascimentos (ou de 10-16 para 10.000) Inexistência de dados oficiais brasileiros Prevalência do sexo masculino, numa proporção de 4 para 1

Autismo e Interação Social Estudos e pesquisas indicam que o autismo apresenta distúrbios e defasagem nas atividades cognitivas que envolvem a capacidade de simbolização e compreensão de uma situação como um todo Hobson(1995) afirma que a característica fundamental do autismo é a limitação na significação das relações sociais. Alguns autores afirmam que seja possível ajudar no desenvolvimento da pessoa autista através de “terapias educacionais”. Nós, acreditamos que uma visão sócio-histórica seja adequada para o desenvolvimento do indivíduo levando em conta suas potencialidades a partir das suas limitações (Vygotsky, 1997)

Interação Social Considerada como um princípio de desenvolvimento por diversos teóricos. Vygotsky(1998) considera a interação é um elemento necessário à aprendizagem e o desenvolvimento do indivíduo É uma relação complexa que se constrói e nela participam: sujeitos contexto sócio-cultural Hobson(1993) identifica a interação social plena com aquela que: existem intercambios recíprocos coordenação de sentimentos Com relação ao autismo foram identificados vários aspectos diferenciados da sua interação social (Wing, 1998) (Jordan e Powell, 1995) como estudar a interação social? o que é um interação social boa?

ferramentas de mediação significações atribuídas às ações contexto sócio- cultural ações dos sujeitos uso da linguagem significações atribuídas às ações

Interação Social: elementos para uma análise relação de co-presença percepção do outro como sujeito de interação meio cultural compartilhado instrumentos ou meios de comunicação (incluíndo a linguagem) intencionalidade de comunicação

Intencionalidade de Comunicação Considerar o outro como agente intencional Um agente é intencional se: possuir metas; agir ativamente para atendê-las; é capaz de compreender as metas das ações do outro; presta atenção ao meio Outros aspectos: abreviação predicativa perspectiva referencial

Definida como a redução da representação lingüística explícita na fala, deriva do uso do signo contextualizado e é uma das característica da fala egocêntrica (preliminar à fala interna) entendida como a coordenação da atenção entre os parceiros sociais com fins de compartilhar experiências com objetos e/ou eventos. Sendo esta a fase mais avançada da intencionalidade comportamento de pedido para busca de assistência quanto à aquisição de objetos ou execução de tarefas refere-se à capacidade dos interlocutores de dirigir a atenção de seu parceiro a um objeto ou acontecimento específicos a utilização de comportamentos não verbais para manter o foco da atenção em si mesmo;

Objetivos da experiência analisar a interação social num ambiente computacional de sujeitos com autismo identificar os padrões e os indícios presentes comparar esses resultados com os estudos da interação social em sujeitos com autismos em situações cotidianas de interação

Descrição da experiência grupo de 3 pessoas com autismo com idades entre 21-28 anos e alfabetizadas; MsChat®; as sessões foram repetidas posteriormente com pessoas com e sem autismo; cada sujeito escolheu livremente a forma de participar (modo texto ou gráfico)

Principais Observações Uso freqüente de obsessões e fixações; Indícios claros de Comunicação Intencional; Inferências de informações a partir do contexto comunicativo; Efeito “Platéia Virtual”; Associações por conceitos/objetos entre as falas; Abreviação da fala; Ecolalia;

Uso inadequado de pronomes pessoais – dificuldade na troca de papeis; Tentativas de auto-centração implicam num processo semelhante no interlocutor; Construção Frasal Telegráfica; Inferência de metas percepção do “outro” como agente intencional (teoria da mente); Apesar dessa percepção da intencionalidade, mantêm um comportamento inadequado do ponto de vista das normas sociais; Associações por conceitos/objetos entre as falas; Interação ativa-porém-estranha e Hiperformal de acordo com o definido por Wing(1998);

Exemplos de interação F. diz:traz merenda D. diz:não D. diz:como ela vai F. diz:eu vou bem M. diz:como vai F. diz:tem alguem de aniversariantes D. diz:qual personagem do seriado malhção mais gosta D. diz:não F. diz:jose de abreu F. diz:traz merenda D. diz:não F. diz:bolacha trazendo F. diz:tem namorada F. diz:tenho namorada M. diz:eu nao tenho irmaos F. diz:mano nem deixou de usar o celular F. diz:é do telefone D. diz:qual eo nome dessa guria F. diz:nem sei

Considerações Finais A experiência foi gratificante para os sujeitos e foi repetida freqüentemente, com essa e outras ferramentas de chat; Ferramenta emoções foi usada, mas não no sentido intencional, apenas visual; Interação era compreendida pelos participantes; Existência de Intencionalidade na Comunicação; Diálogos superficiais; Evidências que pessoas com autismo apresentam dificuldade no uso de pronomes também no diálogo mediado por computador; Ecolalia como tentativa de comunicação;

Finalmente Gostaríamos de lembrar que: O aluno com autismo é acima de tudo uma PESSOA que entende e compreende MAIS do que comunica; É sensível, tem sentimentos e gosta de conviver com outros Tem habilidades que PODEM e DEVEM ser desenvolvidas; Tem uma idade que deve ser respeitada; Precisa de apoio na sua auto-estima; Precisa de estratégias de trabalho baseadas nos seus interesses levando em conta suas capacidades e limitações

? Obrigada! Perguntas?