Pedagogia da Pesquisa-Ação

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Transcrição da apresentação:

Pedagogia da Pesquisa-Ação Maria Amélia Santoro Franco Educação e Pesquisa, SP, v.31, n.3, p. 483-502, set/dez. 2005

Pesquisa-Ação A pesquisa-ação tem sido utilizada, nas últimas décadas, de diferentes maneiras, a partir de diversas intencionalidades, passando a compor um vasto mosaico de abordagens teórico-metodológicas, o que nos instiga a refletir sobre sua essencialidade epistemológica, bem como sobre suas possibilidades como práxis investigativa. Tem suas origens nos trabalhos de Kurt Lewin, em 1946, num contexto de pós-guerra, dentro de uma abordagem de pesquisa experimental, de campo.

Objetivo Aprofundar reflexões sobre a pertinência e as possibilidades da pesquisa-ação como instrumento pedagógico e científico.

De que pesquisa falamos quando nos referimos à pesquisa-ação? Pesquisa e ação podem e devem caminhar juntas quando se pretende a transformação da prática. 3 conceituações diferentes: Pesquisa-ação colaborativa função do pesquisador será de fazer parte e cientificizar um processo de mudança; Pesquisa-ação crítica caráter de criticidade na pesquisa a partir de trabalhos iniciais do pesquisador com o grupo, sustentada por uma reflexão crítica coletiva; Pesquisa-ação estratégica apenas o pesquisador acompanhará os efeitos a avaliará os resultados de sua aplicação;

A pesquisa-ação deve partir de uma situação social concreta a modificar e, mais que isso, deve se inspirar constantemente nas transformações e nos elementos novos que surgem durante o processo e sob a influência da pesquisa. O pesquisador deve assumir constantemente os dois papéis complementares: de pesquisador e de participante do grupo. Pesquisa-ação pesquisa de transformação, participativa, caminhando para processos formativos.

Distingue-se 4 variedades: Para Lewin, a pesquisa-ação é um processo de espiral que envolve 3 fases: planejamento (que envolve reconhecimento da situação), tomada de decisão e encontro de fatos sobre os resultados da ação. Segundo Kemmis, a pesquisa-ação é apresentada em termos positivistas e com isso obstruem seu potencial de desenvolvimento na direção inicial de Lewin. Distingue-se 4 variedades: A diagnóstica; A participante; A empírica; A experimental É relevante notar que essas 4 subdivisões estavam presentes na proposta de Lewin de forma integrada.

A partir de reflexões, podem-se distinguir algumas aproximações de respostas à pergunta: de que pesquisa falamos quando nos referimos à pesquisa-ação? Distingue-se as pistas encontradas em 3 dimensões: Dimensão Ontológica - referente à natureza do objeto a ser conhecido. Se pretende conhecer a realidade social, foco da pesquisa, de forma a transformá-la. Dimensão Epistemológica – referente à relação sujeito-conhecimento. Pode-se verificar que a pesquisa-ação é incompatível com procedimentos decorrentes de uma abordagem positivista, uma vez que requer para seu exercício um mergulho na intersubjetividade da dialética do coletivo. Essa afirmação de incompatibilidade da pesquisa-ação com os pressupostos positivistas não é consensual entre os pesquisadores da área. Dimensão Metodológica – referente à processos de conhecimento utilizados pelo pesquisador. Independentemente das técnicas a serem utilizadas, há que se caminhar para uma metodologia que instaure no grupo uma dinâmica de princípios e práticas dialógicas, participativas e transformadoras.

De que ação falamos quando nos referimos à pesquisa-ação? Quando se pretende investigar a dimensão da ação na pesquisa-ação, tem-se também por finalidade refletir seu sentido, suas configurações, bem como seu entranhamento no processo investigativo. Considerando-se a pesquisa-ação um processo eminentemente interativo, a análise da qualidade da ação entre os sujeitos que dela participam é fundamental para definir sua pertinência epistemológica e seu potencial praxiológico.

O homem ao realizar suas ações estabelece, por meio de seus saberes, duas relações fundamentais: Relação homem natureza - há a utilização de um saber não comunicativo racionalidade cognitivo-instrumental. Relação homem outros homens – utilizada na esfera da compreensão do outro racionalidade comunicativa. Os dois modos de racionalidade ocorrem no dia-a-dia de nossas vidas.

A pesquisa-ação para bem se realizar, precisa contar com um longo tempo para sua realização plena. Não pode ser um processo aligeirado, superficial, com tempo marcado. A imprevisibilidade é um componente fundamental à pratica da pesquisa-ação. Significa estar aberto para reconstruções em processo, para retomadas de princípio, para recolocação de prioridades, sempre no coletivo, por meio de acordos consensuais, amplamente negociados.

Na intenção de realçar a resposta à questão: de que ação falamos quando nos referimos à pesquisa-ação?, podemos evidenciar: A ação referendada à pesquisa-ação deve estar vinculada a procedimentos decorrentes de um agir comunicativo; As ações empreendidas devem emergir do coletivo e caminhar para ele; As ações em pesquisa-ação devem ser eminentemente interativas, dialógicas, vitalistas; A ação deve conduzir a entendimento, negociação, acordos; As ações devem se reproduzir na produção de um saber compartilhado; As ações devem procurar conviver e superar as relações assimétricas de poder; As ações devem ser readequadas e renovadas por meio das espirais cíclicas; As ações devem integrar processos de reflexão e formação As ações devem procurar aprofundar a interfecundação de papéis: de participante a pesquisador e vice versa.

Papéis prioritários do pesquisador e dos atores num processo de pesquisa-ação: As ações do pesquisador devem caminhar dentro de um paradigma de ação comunicativa, com foco na garantia de espaço de expressão e participação aos práticos e foco também na garantia da intencionalidade de uma pesquisa-ação. Esperam-se dos participantes atitudes voltadas à disponibilidade, à cooperação, ao envolvimento. É preciso que o pesquisador saiba tecer e construir esse sentimento de parceria e colaboração, construindo um clima grupal que permita a emergência qualitativa dessas ações em todos os participantes.

Como pesquisa e ação se integram na pesquisa-ação? Quando falamos de pesquisa-ação, estamos nos referindo a: Pesquisa na ação; Pesquisa para a ação; Pesquisa com ação; Pesquisa da ação; Ação com pesquisa; Ação para a pesquisa; Ação na pesquisa. Para a pesquisa-ação se realizar, deve haver uma associação da pesquisa a uma estratégia ou proposta coletiva de intervenção, indicando-nos a posição de pesquisa inicialmente com ação de intervenção, que imediatamente passa a ser objeto de pesquisa.

Estruturando um processo pedagógico para a pesquisa-ação Há alguns momentos que devem ser priorizados num processo de pesquisa-ação, para garantir a articulação de seus pressupostos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, os quais serão aqui denominados de “processos pedagógicos intermediários” e podem ser sintetizados em: Construção da dinâmica do coletivo; Ressignificação das espirais cíclicas; Produção de conhecimento e socialização dos saberes; Análise / redireção e avaliação das práticas; Conscientização das novas dinâmicas compreensivas.

Reafirmamos que a pesquisa-ação pode e deve funcionar como uma metodologia de pesquisa, pedagogicamente estruturada, possibilitando tanto a produção de conhecimentos novos para a área da educação, como também formando sujeitos pesquisadores, críticos e reflexivos.