O MITO DA DESCENTRALIZAÇÃO: MAIOR DEMOCRATIZAÇÃO E EFICIÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS? Marta Arretche.

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O MITO DA DESCENTRALIZAÇÃO: MAIOR DEMOCRATIZAÇÃO E EFICIÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS? Marta Arretche

Associação: descentralização e democracia Descentralização: estratégia pela qual as instituições viabilizem a participação dos cidadãos nas decisões públicas. Jordi Borja: fortalecer institucional e politicamente os municípios, conferir poder efetivo aos gestores das cidades significa criar (ou fortalecer) instituições que, próximas dos cidadãos, poderiam superar os vícios do velho aparato do Estado Nacional. mais próxima de formas de democracia direta, a vida democrática de âmbito municipal poderia representar uma alternativa aos limites e vícios postos pelas instituições nacionais da democracia representativa.

Outra corrente de opinião, inspirada no modelo político norte- americano e nos tradicionais princípios do liberalismo político: a descentralização seria um instrumento de fortalecimento da vida cívica -- portanto, da sociedade civil --, sufocada por um Estado excessivamente centralizador e invasivo. a descentralização seria a condição para o rompimento com as estruturas políticas tradicionais que, por serem centralizadas, impediriam o desenvolvimento das virtudes cívicas nas sociedades latino-americanas.

França e Espanha Tratavam-se de estados unitários com sistemas de escolha do Executivo bastante semelhantes. Ambos implementaram programas de reforma do Estado, nas quais a descentralização era entendida como um fator de democratização do sistema político. Na Espanha: a descentralização daria lugar a um estado de traços federativos e a um completo rearranjo da distribuição efetiva do poder político, no qual as elites regionais passaram a dispor de recursos institucionais e administrativos até então controlados pelo governo central. Na França: uma reforma tímida, quando comparada com o caso espanhol, não daria lugar a significativos deslocamentos no plano do poder político real.

No caso espanhol, não somente passou-se de um regime político a outro – de uma ditadura para uma democracia --, mas a estrutura do Estado foi transformada. A radicalidade do processo de descentralização territorial -- o qual supôs uma modificação profunda da Constituição para que se operasse um completo rearranjo das relações intergovernamentais e cujo resultado implicou a criação das comunidades autônomas. combinaram-se historicamente centralismo, autoritarismo e questão regional.

França: a estrutura político-administrativa centralizada era encarada como de grande eficácia e, mais que isso, o caráter subordinado das coletividades locais justificava-se em nome da unidade nacional. O ideal republicano estava associado à unidade do regime local, à sua uniformidade e ao centralismo político. No caso francês, diferentemente da Espanha, consolidaram-se historicamente formas cooperativas de integração entre os funcionários do governo central e os eleitos a nível local. os "prefeitos" integraram os valores e interesses das elites locais, as quais deveriam controlar; estas, por sua vez, legitimavam sua representatividade junto à população, validando, deste modo, as regras de funcionamento do sistema.

caso francês: não se produziu historicamente a associação entre centralismo, autoritarismo e fortalecimento de tendências separatistas, tal como identificado no caso espanhol. Diferentemente, produziu-se uma associação entre centralismo, unidade nacional e integração do governo central e elites regionais. o processo de descentralização: explicado pelo surgimento de novas camadas urbanas que demandavam mudanças no sistema político, mudanças estas que foram absorvidas pelo Partido Socialista Francês.

na França não se identifica uma relação de identidade entre centralismo e ausência de democracia. as demandas por descentralização expressavam demandas pela radicalização do processo democrático, as elites políticas regionais não demandavam nem o fim de uma ditadura, nem uma nova repartição do poder político no plano local e nacional. Ali, o estado unitário, com regras extremamente centralizadas de escolha do poder executivo no âmbito local (municípios com escolha indireta e departamentos com indicação do governo central) não estiveram associadas ao autoritarismo, mas ao ideal republicano da unidade nacional. Não existiu naquele país associação entre autoritarismo e centralismo, razão pela qual não poderia estar presente no discurso de mudança uma associação entre descentralização e democracia.

França # Espanha Portanto, o que distingue os dois países não é a existência prévia de um estado centralizado, nem a predominância das elites políticas do nível central, nem as expectativas democráticas em torno da descentralização. Tais diferenças parecem ser melhor explicadas pela combinação de duas variáveis: (i) a existência prévia de um regime ditatorial e (ii) os diferentes processos de cooptação, exclusão e integração, consolidados na história de cada país, entre governo central e elites locais.

O processo de descentralização no Brasil Periodo posterior a 1964: estados (de 34% do total da receita tributária em 1960 para 26% em 1988), mas que, no que diz respeito aos municípios, esta sofreu elevação (de 6.5% do total da receita tributária em 1960 para 11.4% em 1988). A centralização tributária na União significava que os estados e municípios dispunham de uma margem muito pequena de recursos a serem aplicados livremente;

a estratégia de criação de empresas públicas estaduais (de eletricidade, telecomunicações, saneamento, etc.) criou, no âmbito dos estados, capacidades administrativas que viabilizam hoje sua capacidade de gestão independente da União. novo equilíbrio federativo, viabilizado pela consolidação democrática no contexto específico das estruturas político-institucionais brasileiras, e da crise do Estado Desenvolvimentista e de um modelo de Federação por ele engendrado, cuja expressão mais clara é a desarticulação das bases fiscais, institucionais e políticas sobre as quais este se assentava.

a consolidação democrática trouxe à arena política um conjunto de atores que hoje atuam reduzindo o poder de comando anteriormente inteiramente exercido pelo Executivo federal: governadores, prefeitos, parlamentares, movimentos populares, sindicatos consolidaram seu poder político ao longo do processo de redemocratização e reduzem o poder de mando de governo central. é no plano dos estados e municípios que ocorre hoje um expressivo processo de inovação política (as chamadas "novidades vindas de baixo"), processo este que guarda paralelo com a capacidade de inovação política do governo federal nos primórdios do Estado Desenvolvimentista.

Elites no âmbito do Estado Contas da União comprometidas Guerra fiscal entre os estados não existe uma estratégia ou programa nacional de descentralização que, comandado pela União, proponha um rearranjo das estruturas político- institucionais do Estado. Existe, sim, sob o impulso da consolidação democrática e da crise de capacidades estatais do governo federal, uma conflitiva barganha em torno da descentralização fiscal, processo este que tem como um de seus desdobramentos a descentralização da despesa pública e o fortalecimento institucional dos níveis subnacionais.

Descentralização dos programas sociais No que diz respeito especificamente à descentralização dos programas, fatores como: i) a existência (ou não) de uma política deliberada de descentralização por parte do governo federal; ii) a natureza e o poder da coalizão pró-descentralização e iii) o desenho institucional das políticas prévias tiveram em cada política setorial influência decisiva sobre as possibilidades de uma efetiva descentralização na prestação dos serviços.

Programas de assistência social: No Ministério do Bem-Estar Social, estavam concentradas a maior parte dos recursos da União realocados através de transferências negociadas -- 51.5% do total em 1991. a importância da centralização para o uso clientelístico destes recursos não existiu até muito recentemente uma política explícita, por parte do governo federal, em direção à descentralização dos programas assistenciais, a despeito das reiteradas análises e recomendações nesta direção.

Assistência social – questão da descentralização A descentralização da merenda escolar, iniciada em 1994, pretende que, por adesão dos municípios, estes passem a realizar diretamente as compras de alimentos para fornecimento às crianças do ensino fundamental. A descentralização da aquisição e distribuição dos livros didáticos para as crianças das escolas públicas dá seus primeiros passos neste ano de 1995

Educação - descentralização a educação básica – da rede pública -- no Brasil é prestada de forma superposta: escolas estaduais e municipais ofertam serviços de forma não-exclusiva. A distribuição do peso relativo destas redes é extremamente desigual no território nacional e, ainda que a Constituição de 1988 tenha estabelecido que a oferta de educação básica seja preferencialmente de responsabilidade municipal, o processo efetivo de transferência de competências tem sido subordinado a fatores de ordem conjuntural e regional.

Desenvolvimento urbano A extinção do BNH (Banco Nacional da Habitação) e a desarticulação de sua burocracia, o "fiasco" dos esforços de reforma e a crise do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) implicaram uma ausência progressiva do governo federal para manter os níveis anteriores de financiamento à promoção pública de habitações. Paralelamente, governos estaduais e municipais vêm, na prática, assumindo um papel crescente na oferta pública de programas de habitação e saneamento básico

Saúde mais bem sucedidos avanços em direção a uma reforma de tipo descentralizador. Ao longo dos anos 80, a coalizão favorável à consolidação de um sistema hierarquizado e descentralizado de prestação de serviços de saúde, com forte presença nos fóruns nacionais e em aliança com governadores e prefeitos, conseguiu uma série sucessiva de medidas que redundaram em uma efetiva reforma do setor.

os municípios passam progressivamente a ter capacidade decisória, competências e recursos para a prestação dos serviços básicos de saúde. a articulação positiva entre a burocracia do Ministério da Saúde, a elite profissional do setor e governadores e prefeitos viabilizou a aprovação de medidas de reforma a partir do centro do sistema político as feições do sistema descentralizado tornam-se crescentemente heterogêneas no território nacional, dadas as diferentes possibilidades financeiras e administrativas e as distintas disposições políticas de governadores e prefeitos: em algumas regiões onde os recursos são mais escassos e as demandas são mais agudas, o sistema dá sinais evidentes de falência; em outras regiões, com maiores recursos, os municípios demonstram capacidade de gestão praticamente autônoma de seus sistemas de saúde.

Descentralização e fortalecimento do governo central o processo de descentralização das políticas sociais foi caracterizado por desigualdades de toda ordem: no ritmo de formulação e decisão entre as distintas políticas setoriais; no interior de uma dada política, desigualdades entre o ritmo e os resultados da implementação e, sobretudo, na qualidade dos serviços prestados. A superação destas dificuldades não pode ocorrer apenas por iniciativa dos governos locais, dada exatamente sua heterogeneidade na capacidade de mobilizar recursos próprios e dada a escala local de sua atuação.