Ética de normas x ética de virtudes

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Transcrição da apresentação:

Ética de normas x ética de virtudes

Exame de caso a) Grande grupo editor nacional. Várias unidades de negócio. O nome e o prestígio vêm da editora, conhecida tanto pelos livros escolares quanto pela publicação de clássicos e de grandes escritores contemporâneos. Mas o faturamento e a rentabilidade vêm principalmente da indústria gráfica, uma das maiores e mais modernas do país, que está muito bem ajustada e apontando para um crescimento continuado; b) cultura interna muito bem estabelecida e explicitada de valores como honestidade, trabalho em grupo, transparência; c) a editora, no entanto, está em crise. Perdendo rentabilidade e competitividade de ano para ano. É um setor muito competitivo e a equipe está um pouco envelhecida e desmotivada; d) o CEO do grupo, que é jovem e tem um diagnóstico bastante claro dos problemas a enfrentar, decide buscar, depois de ouvir os seus principais diretores gerais, um novo gestor para a editora. Contrata-se um head-hunter. Encontra-se um profissional jovem, Fernando, com todas as credenciais técnicas e, aparentemente, morais, que acaba contratado; e) em pouquíssimo tempo, Fernando confirma o diagnóstico do CEO, mas identifica ainda outras oportunidades de melhoria de desempenho. Demonstra também uma grande capacidade de trabalho e de mobilização da equipe. f) ao fim de 60 dias, no entanto, antes de Fernando entregar um plano geral de reestruturação da unidade, começam a chegar ao CEO, através de seus demais diretores, uma série de informações muito desagradáveis acerca do comportamento dele: pequenas mentiras, desrespeito às normas da empresa, deslealdade com os demais diretores, uma forte tendência a não trabalhar em grupo, etc... Os fatos são verdadeiros e as provas irrefutáveis. g) os demais diretores entendem que é necessária uma demissão imediata, antes que o dano à organização e à cultura da organização seja ainda maior. O CEO recebe a pressão dos diretores e deve tomar uma decisão. Sabe, no entanto, que o conjunto dos funcionários está satisfeito com o trabalho de Fernando e que vai ser muito difícil encontrar antes de 3 meses um novo gestor com uma competência similar.

Ética de normas x ética de virtudes Exame de caso Demissão em terceirização a) indústria com 1200 funcionários; faturamento de R$ 40 milhões; rentabilidade líquida da ordem de 15%; sem ameaças significativas a sua posição de domínio de mercado; b) 32 faxineiras, subordinadas à gerência administrativa da diretoria administrativo/financeira; c) 1/3 com mais de 15 anos de casa. 5 delas próximas da idade de 60 anos; d) qualidade do trabalho: não há queixas sensíveis. Não é uma maravilha. Além disso, percebe-se alguma falta de coordenação. O gerente não dá suficiente atenção; por outro lado, outras vezes gasta mais tempo do que seria de desejar: logística inadequada de aquisição de material de limpeza; d) proposta: terceirizar, para o gerente administrativo poder estar mais atento a outras necessidades; e) cotação com 3 empresas especializadas. Todas assumiriam as funcionárias atuais, com garantia de estabilidade por 3 meses. Salário de mercado: R$ 280,00. Salário pago pela indústria em questão: R$ 360,00. Igualdade de benefícios. f) além do foco, economia de cerca de R$ 50.000,00/ano

Ética de normas x ética de virtudes Ética normativa Ética Kantiana: preocupação de formular as normas éticas. Imperativo categórico: formulações tais que pudessem ser elevadas ao nível de uma exigência universal. Bentham (utilitarismo): teoria do mínimo ético. Direito e ética como realidades semelhantes (conjunto de normas), mas de extensões distintas. Positivismo lógico-lingüístico (fortemente anglo-saxão). Ética como conjunto de proposições de dever-ser (as quais, contudo, não teriam nenhum valor científico).

é lícito ou não trabalhar em um hospital que faz abortos? Ética de normas x ética de virtudes Problemas éticos na visão normativa é lícito ou não trabalhar em um hospital que faz abortos? devo denunciar ou não um colega médico que prescreve medicamentos porque recebe dinheiro da indústria farmacêutica? preciso tirar o passaporte porque tenho uma viagem importante em dois dias e a única forma é pagar uma “taxa de urgência”. Devo ou posso sujeitar-me a isso ou não? uma “coladinha” que ninguém perceba: posso ou não? Não estou prejudicando ninguém.

Ética de normas x ética de virtudes Ética de virtudes ou ética da excelência busca do melhor e mais perfeito. Ciência da indagação do que o homem está chamado a ser, do que é a realização integral e plena do homem. Torna-te o que és poderia ser o lema dessa compreensão da ética. O que se busca é conhecer a excelência humana Outra formulação: “fazer triunfar o Homem dentro do homem” (Platão, A República) esquema teórico substancialmente diferente: fim último do homem, virtudes. Apresenta-se o modelo: a isso deve apontar a conduta humana.

Ética de normas x ética de virtudes Limitações de uma ética normativa transforma-se facilmente em moral negativa, em moral de limites. ajuda pouco a resolver os casos difíceis. dá a impressão de ser um saber de especialistas, e não do homem da rua, quando, na verdade, todos os homens estão e devem estar implicados pela ética. do ponto de vista mais teórico: tende a tornar a ética algo externo ao homem. A ética - a moral - seria algo necessário, mas externo ao homem e que limita a este; algo desvinculado do seu ser, ou que a sociedade impõe, ou que a natureza ou a divindade determinam.

Ética de normas x ética de virtudes Aretê e virtude Para os gregos, a idéia de excelência, contida na palavra Arete, é dos tempos mais remotos. Seu sentido exato foi variando ao longo da história: em Homero: excelência guerreira (coragem, sagacidade, atos e palavras) em Hesíodo: “o conceito abarca simultaneamente a habilidade pessoal e o que dela deriva – bem-estar, êxito, consideração. Não se trata da arete guerreira da antiga nobreza, nem da arete da classe proprietária, baseada na riqueza, mas sim da arete do homem trabalhador em Sólon: prudência, justiça, fortaleza. em Platão: arete está ligada ao conceito de justiça, que engloba e satisfaz todas as exigências do perfeito cidadão.

Ética de normas x ética de virtudes Virtude existe uma excelência para o homem. Qualidades como a coragem, a honestidade, a veracidade, a prudência, a sinceridade, a fortaleza são características que se adquirem, que se forjam, e que, em todas as épocas, foram admiradas (ainda quando por vezes se dava maior atenção a uma do que a outra). São conhecidas como virtudes e, para toda a experiência do ocidente e boa parte do oriente, foram vistas como o fim da educação do homem. o homem cabal é sobretudo o homem virtuoso, ainda quando seus dotes intelectuais ou sua formação cultural não sejam os melhores ou mais completos.

Ética de normas x ética de virtudes “virtuoso no sentido clássico é não quem leva uma vida incensurável porque não fez nada mal, que é amável e bondoso, embora de resto não valha muito, mas quem sempre usa suas capacidades humanas para o bem, faz o bem de modo soberano, constante e alegre, é competente e engenhoso, sabe o que fazer e é capaz de avaliar toda situação rápida e corretamente; em suma: quem realiza o que Aristóteles denomina “vida boa”, eupraxia” (Rhonheimer)

Ética de normas x ética de virtudes “Muitas coisas dependem por inteiro de ti: a sinceridade, a dignidade, a resistência à dor, (...), a aceitação do destino, (...), a benevolência, a liberalidade, a simplicidade, a seriedade, a magnanimidade. Observa quantas coisas podes já conseguir sem que caiba alegar pretextos de incapacidade natural ou inaptidão, e por desgraça permaneces voluntariamente por baixo das tuas possibilidades. Por acaso te vês obrigado a murmurar, a ser avaro, a adular, a culpar o teu corpo, a dar-lhe satisfações, a ser frívolo e a submeter a tua alma a tanta agitação, porque estás defeituosamente constituído? Não, pelos deuses! Faz tempo que podias haver-te afastado desses defeitos” Meditações – Marco Aurélio

Ética de normas x ética de virtudes “- Pois bem... Sou assim. É natural. Herdei isso de mamãe. Todos os Kröger têm inclinação para o luxo. Com a mesma calma teria declarado que era leviana, irascível ou vingativa. O seu senso de família, fortemente desenvolvido, como que a tornava alheia às idéias de vontade própria e de autonomia, a ponto de ela constatar e confessar, com uma estoicidade quase fatalista, os traços do seu caráter... sem fazer diferenças entre eles, nem esforços para corrigi-los. Sem o notar, era da opinião de que todos eles, quaisquer que fossem, significavam um legado, uma tradição da família, sendo por isso veneráveis e merecedores, em todo o caso, de serem tratados com respeito” Thomas Mann, Os Buddenbrook Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981, p. 199

Ética de normas x ética de virtudes Linguagem Conversibilidade dos enunciados: a mãe deve cuidar dos filhos o ser humano é um ser tal que necessita para seu completo desenvolvimento da atenção não apenas material mas espiritual dos seus progenitores

Ética de normas x ética de virtudes Lei moral/normas éticas Formulações, em enunciados deontológicos, das exigências da realização humana; Não configuram restrições à liberdade humana corretamente entendida “Dentro de um avião, o espaço é bastante reduzido e há pouca liberdade de movimentos. Contudo, quem compra uma passagem para Roma e entra no avião não afirma a sua liberdade saindo da aeronave em pleno vôo. A liberdade que lhe interessa é a que lhe permitirá chegar a Roma, e as restrições que lhe são impostas dentro do avião – pressurização, altura, velocidade, etc. – são formas de tirar o máximo partido do exercício da sua liberdade”

Normas proibitivas O fim não justifica os meios

Normas proibitivas Literatura sapiencial Conteúdo Intenção Circunstâncias

Normas proibitivas Normas proibitivas As normas proibitivas são condições-limite da conservação da identidade humana. “Os raciocínios precedentes demonstram que as normas proibitivas não são outra coisa que a formulação dos limites do agir humano" (M. Rhonheimer, p. 295)

Normas proibitivas Literatura sapiencial Éticas normativas Conteúdo Intenção Circunstâncias

Ética de normas x ética de virtudes Ações de duplo efeito É lícito realizar uma ação em si boa ou indiferente, que tem um duplo efeito, um bom e outro mau, se o efeito bom é imediato, o fim do agente é honesto e existe uma causa proporcionada para permitir o efeito mau.

Ética de normas x ética de virtudes “You argue by results, as this world does, To settle if an act be good or bad. You defer to the fact. For every life and every act Consequence of good and evil can be shown. And as in time results of many deeds are blended So good and evil in the end become confounded.” (T. S. Eliot. Murder in the Cathedral)

com a responsabilidade social, idem Ética de normas x ética de virtudes Ética, qualidade, responsabilidade social não são realidades substancialmente diversas. As duas últimas são consequências ou aspectos da primeira; quando se entende a ética no seu sentido originário e completo, de busca da excelência, fica evidente que a qualidade, a excelência materializada, nada mais é do que uma consequência de um atuar ético; com a responsabilidade social, idem