Psicodinâmica do Trabalho

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Transcrição da apresentação:

Psicodinâmica do Trabalho Admardo B. Gomes Júnior Mestre em Psicologia Social e do Trabalho (Fafich-UFMG) Pós-graduado em Gestão de Pessoas (Face-UFMG) Ativador de processos de mudança na formação superior de saúde (Fiocruz-ENSP)

No Brasil faltam estatísticas, mas o quadro não é diferente. O sofrimento psíquico no trabalho é a segunda causa de afastamento no trabalho nos Estados Unidos. (American Psychologist, 1991) No Brasil faltam estatísticas, mas o quadro não é diferente. (Codo, 2002) Acumulação flexível do capital. Reestruturação produtiva. Características da pós-modernidade. Lógica da racionalidade econômica. Novas formas de subjetivação, sofrimento, patologias e possibilidades de reação e ação dos trabalhadores. Precarização dos empregos e sofrimento ético. A sabedoria popular já diz: Com um trabalho como estes, qualquer um fica doido! Marcando a relação entre trabalho e adoecimento mental.

A Psicodinâmica do trabalho Desenvolve-se na França, nos anos 90, desenvolvida por Christophe Dejours. Estuda as relações dinâmicas entre a organização do trabalho e os processos de subjetivação. Analisa a dinâmica nos contextos de trabalho das forças, visíveis e invisíveis, objetivas e subjetivas, psíquicas, sociais, políticas e econômicas que atuam como operadores de saúde e/ou de patologias.

A psicodinâmica do trabalho Estuda: as vivências de prazer-sofrimento as estratégias de ação para mediar as contradições do trabalho os investimentos da inteligência prática, da personalidade e da cooperação As característica contraditórias do sofrimento

“O trabalho não causa sofrimento, é o próprio sofrimento que produz o trabalho” Dejours em “A loucura do trabalho” “O que é explorado pela organização do trabalho não é o sofrimento, em si mesmo, mas, principalmente, as estratégias de mediação utilizadas contra esse sofrimento” Ana Magnólia Mendes

As antigas práticas de gestão atingiam muito mais o corpo enquanto as atuais atingem mais o psiquismo. (Dejours,1992)

No trabalho clássico os trabalhadores deveriam contribuir com sua força de trabalho que era basicamente corporal; hoje, em muitos setores este trabalho é exercido pelas máquinas, e o trabalho exige cada vez mais a dimensão mental.                                      

A centralidade do trabalho como operador da saúde O trabalho nunca é neutro em relação à saúde, podendo tanto ser fonte de doença e de infelicidade, como operador de saúde e de prazer.

A saúde mental O sofrimento psíquico é atribuído ao choque entre história do Sujeito com seus desejos, esperanças e projetos individuais e a organização do trabalho que ignora esta história. (Dejours,1992)

O sofrimento criativo Quando o sujeito elabora soluções originais favoráveis simultaneamente à produção e à saúde. Acontece quando o sofrimento adquire um sentido positivo para o sujeito, em que ele, pela expressão de sua criatividade, se experimenta e se transforma.

Sofrimento Patogênico Onde as soluções são desfavoráveis à saúde e consequentemente à produção. Acontece quando a concepção do trabalho é separada de sua execução, extirpando a capacidade criativa do sujeito.

Entre a organização do trabalho e o funcionamento psíquico estão as estratégias defensivas Estratégias coletivas: elaboradas pelo conjunto dos trabalhadores como forma de conter ou ocultar uma ansiedade gerada por perigos e riscos reais.

Muitas vezes os EPI’s são vivenciados pelos trabalhadores como aquilo que os lembra do risco a que estão expostos e que eles gostariam de esquecer, pois gera ansiedade. Não usar estes equipamentos pode ser uma estratégia para lidar com esta ansiedade.

Defesas individuais: como respostas às pressões organizacionais e tarefas que retiram do trabalhador sua atividade intelectual.

Reinterpretam as prescrições do trabalho. Este movimento é a retomada de sua atividade intelectual. Na falta dessas saídas, é o corpo que marcará seu limite produzindo uma doença.

As defesas Cinismo Dissimulação Hiperatividade Desesperança de ser reconhecido Desprezo Danos aos subordinados Negação do risco inerente ao trabalho Distorção da comunicação “São específicas das diferentes categorias de trabalho e por isso não são generalizadas” Mendes, 2007.

A transformação das defesas em patologias sociais Da sobrecarga: - lesões de hipersolicitação (Ler/Dort e problemas psicossomáticos). - É de origem social e está na organização do trabalho. - Está ligada à ideologia da excelência e do desempenho. - Tem origens na disciplina da fome e na centralidade do trabalho.

A transformação das defesas em patologias sociais Da servidão voluntária: - relaciona-se à pós-modernidade e ao projeto neoliberal. - é uma submissão sem protestos, consentida. - se pauta no conformismo, na adaptação, na integração como meio de eficácia. - banalização e naturalizaçãodo sofrimento, das injustiças e do mal, como modo de garantir a produtividade da organização do trabalho.

A transformação das defesas em patologias sociais Da violência: - Prática agressivas contra si mesmo, contra os outros e contra o patrimônio. Ex.:Vandalismo, sabotagem, Assédio moral e o suicídio. - Ocorre quando as relações subjetivas com o trabalho são degradadas , o trabalho perde o sentido e o sofrimento no trabalho interfere de modo imperioso na vida familiar e social.

O papel do know-how A atividade intelectual funciona como um amortecedor do choque entre o indivíduo e a organização do trabalho. Ela é a parcela de autonomia em um trabalho heterogerido.

Relação identidade/trabalho O sentimento de vergonha de ser robotizado, de não ter mais imaginação ou inteligência, de estar despersonalizado, decorre da exigência de se realizar uma tarefa desinteressante, faz nascer uma imagem de indignidade, de falta de significação, de frustração pessoal que formam uma auto-imagem miserável.(Dejours)

O trabalhador se sente honrado se a tarefa a desempenhar é complexa, admirada pelos outros, se exige um know how, responsabilidade e riscos. Realizar uma tarefa sem investimento afetivo exige a produção de um esforço e de uma vontade extra, que alimenta o cansaço e a vivência depressiva.

Sobre as pressões temporais O “tempo morto”, aquele que é visto como improdutivo, é na realidade uma etapa do trabalho durante a qual agem operações de regulagem do binômio homem-trabalho, destinadas a assegurar a continuidade da tarefa e a proteção da vida mental do trabalhador. (Dejours, 1992).

Sobre o controle O problema não é a existência de regras e limitações, mas a impossibilidade de negociá-las, de modificá-las e reconstruí-las. (Sato, 2002) O problema é o controle pela lógica puramente econômica que procura não ver o mundo vivido do trabalhador.

A doença da idealização ou burn out É a doença do “custo elevado do sucesso” Freudenberger (1987). Decorre da luta constante que mantemos para satisfazer os ideais de excelência que caracterizam nossa sociedade e que certas empresas encarnam com particular acuidade. Aubert (1993). Manter esta imagem idealizada pode levar o sujeito à exaustão psíquica.

Os impactos das reconfigurações do capitalismo sobre o trabalho Intensificação do ritmo do trabalho. Exigências redobradas de produtividade e qualidade. Prolongamento de jornadas de trabalho. Redução do quadro de pessoal. Rebaixamento salarial. Informatização intensa.

A ordem é a redução de custos através da introdução de novas tecnologias, das demissões, da “estagialização” e da terceirização que têm gerado um clima de insegurança e precariedade do trabalho.

Novas formas de organização do trabalho Contradição de objetivos, de regras e dos controles. Ameaça de perda do emprego. Desestabilização do coletivo de trabalho. Avaliação de desempenho individualizada e as exigências coletivas. Sofrimento articulado à existência, como reação e resistência.

A ressignificação do sofrimento Busca pelo prazer Busca de estabilidade sócio psíquica Expressão da subjetividade de modo autêntico Inteligência prática Cooperação Identidade, realização, reconhecimento e liberdade.